Opinião

[opinião] Mesmo sem inovar, a Apple continua ditando a tendência no mercado mobile

A Apple é polarizadora. Ou as pessoas a amam, ou a odeiam. E as que odeiam geralmente fazem comentários que tentam definir os usuários de iPhone como alienados, acéfalos e que só querem ostentar. Dizem também que a maçã não inova mais, que o iPhone tem o design ultrapassado e que a concorrência está dando “um banho de inovação”.

Todos os anos, em fevereiro, a belíssima cidade de Barcelona, na Catalunya, abriga a maior feira no mundo mobile, em que praticamente todos os fabricantes de dispositivos Android apresentam as suas novidades do ano. E em 2018, o que se viu foi que a Apple, por pior que seja, continua sendo a que dita o rumo de todo o mercado.


A ASUS foi a que ganhou o prêmio “Cara de Pau” do ano. Lançou o Zenfone 5, praticamente um clone estético do iPhone X, inclusive com o corte superior na tela (notch), que foi tão criticado quando a Apple o adotou. Repare também na posição da câmera traseira.

Imagem: C|NET
Imagem: C|NET

O engraçado é que não vemos os mesmos críticos que no anúncio do iPhone X inundaram as redes sociais e blogs, se manifestarem agora com a mesma intensidade. Estão calados sobre o assunto “corte na tela”. Aliás, você não verá nem mesmo muitos sites de tecnologia (inclusive no Brasil) tecendo alguma crítica mais severa ao Zenfone, pois a ASUS, assim como outras fabricantes de dispositivos Android, patrocinaram e levaram jornalistas e blogueiros para Barcelona, com tudo pago, para fazer a cobertura. Por mais que tentem ser imparciais e evitar grandes elogios, fica difícil cuspir no prato que comem e tecer críticas duras contra o aparelho. E isso provoca a sensação geral de que “agora tudo bem”, é assunto superado e só nos resta esperar o próximo lançamento do iPhone para criticarmos o que a Apple colocar nele.

É curioso o modo como os haters raciocinam (e chamaremos aqui de haters especificamente os que odeiam a Apple). Não é raro as fabricantes lançarem aparelhos bem similares esteticamente ao último iPhone, e o argumento que sempre se ouve é que “a Apple não inventou o retângulo com bordas arredondadas”, ou então que “não é cópia e sim a evolução da tecnologia”. Mas eles não percebem que somente copiar e seguir a tendência dos outros acaba fazendo com que a evolução geral do mercado seja muito mais lenta.

Os mesmos que criticam que a Apple não inova são os que aceitam que os concorrentes copiem características do iPhone, e isso é um paradoxo.

Peço para você ler de forma atenciosa e inteligente este texto, pois infelizmente não é qualquer um que consegue entender o real sentido dele. Para o bem do debate, vamos admitir aqui que a Apple realmente não é mais inovadora e que está bem aquém de nossas expectativas. Vamos partir do pressuposto que o iPhone 8 foi apenas uma melhoria do 7 e que o X só incorporou algumas opções do mercado, com um preço absurdo e desproporcional. E que o corte na tela (notch) é uma aberração.

Admitido tudo isso, vamos ao raciocínio lógico.
Em setembro, quando a Apple apresentou os novos iPhones, ouvimos e lemos uma enxurrada de críticas de pessoas que acusaram a Apple de não inovar mais, de lançar mais do mesmo. Porém, vocês não acham estranho não encontrarmos as mesmas críticas quando se vê aparelhos da concorrência serem lançados com diversas características do iPhone X? Até mesmo o tão difamado notch?

Até o Google já anunciou que adaptará o Android para ser compatível com aparelhos que possuam o mesmo corte da tela que o iPhone X.

Um dos exemplos que está sendo apontado como maior “inovação” da feira de Barcelona é o protótipo apresentado pela Vivo (a fabricante chinesa, não a operadora brasileira), que oferece um dispositivo com scanner digital sob a tela. Uma tecnologia incrível, realmente, e é tão sincera essa afirmação que falamos isso ainda em 2015, quando a Apple patenteou essa ideia. Pois é, a maior “inovação” da feira de 2018 foi proposta pela Apple há mais de 3 anos.

Mas vamos ser francos. Ter tido a ideia no papel e não transformá-la em produto real não é algo a se vangloriar. A Apple não conseguiu implementar o Touch ID sob a tela, por mais que tenha investido milhões nisso. Não basta ter a ideia, é preciso viabilizá-la, fazendo com que os custos e ritmo de fabricação sejam compatíveis com uma produção em larga escala. E isso a Apple não conseguiu. Na verdade, nem a Vivo, visto que não lançou ainda o produto, apenas apresentou um protótipo conceitual. Se o aparelho tiver um custo de fabricação sustentável (protótipos custam milhares de dólares) e se comportar bem nos desafios de um uso normal no dia a dia (sem baterias explodirem, telas queimarem ou coisas do tipo), aí sim vira um produto real e consumível. Até lá, será só uma ideia, como foi o Microsoft Courier.

Repare que este texto não é sobre a Apple, mas sim sobre o mercado. É uma tecla que estamos batendo há anos aqui, de que é preocupante termos concorrentes que tendem a seguir o que a maçã faz. Isso não gera evolução e sim estagnação, ainda mais em uma época em que a empresa de Cupertino não anda lá muito criativa e ainda reduz a performance do processador quando a bateria está velha (sim, somos duros com ela também). Não criticar a concorrência com a mesma intensidade que se faz com a Apple apenas nos levará para um abismo de marasmo e mesmice, palavras que não combinam com tecnologia.

Leia também: Não espere grandes revoluções tecnológicas nos próximos anos

E o ciclo continua, com os haters esperando o próximo lançamento da maçã para apontar em cada detalhe a falta de inovação, mas comemorando quando outras fabricantes colocam as mesmas características em seus dispositivos. O loop é infinito.

Fonte
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