Opinião

Antes da WWDC 24, tivemos o maior vazamento de novidades da Apple desde o protótipo do iPhone 4

É bem provável que você tenha acompanhado a apresentação da última segunda-feira, na WWDC 24, e até achado legal muitas novidades. Porém, nada lhe surpreendeu, não é?

E talvez você ache que não ficou surpreso porque praticamente tudo era um pouco de dejà vu do que a concorrência já tinha apresentado nos últimos meses…

Mas você está errado. Tenha certeza que a principal razão não foi essa.

Boas novidades, mas sem surpresa

A Apple apresentou coisas diferentes sim, que deveriam empolgar os usuários de iOS.

Por exemplo, a Siri poderá ser a primeira assistente de voz com IA generativa do mercado, incorporada a um sistema operacional, antes mesmo da Alexa, do Google Assistente, da Bixby e da Cortana (ainda existe a Cortana?). Claro, com uma mãozinha do ChatGPT, que é a melhor e mais popular IA disponível no mercado atualmente.

Você pode até achar os Emojis uma bobagem, mas você é minoria no mundo. O recurso de criar seus próprios emojis e misturar um com outro provavelmente será uma das aclamadas funções deste sistema entre os usuários. Acredite.

Mas você não se empolgou com nada disso e até achou que foi “mais do mesmo“? Isso tem uma explicação.

A verdade é que nós já sabíamos de praticamente tudo o que seria anunciado pela Apple na WWDC 24. Até mesmo o trocadilho do Apple Intelligence.

O maior vazamento em anos

Talvez você não tenha percebido, mas este ano tivemos um dos maiores vazamentos de informações em anos sobre como seria o futuro iOS.

E não, não se engane achando que os rumores sempre adiantaram o que a Apple apresenta. Isso até pode ser válido para hardware, como o iPhone ou o Mac, pois é muito difícil calar uma gigantesca cadeia de produção com milhares de pessoas envolvidas.

Porém, para software a Apple sempre conseguiu guardar um certo segredo, com alguns vazamentos controlados para tentar descobrir espiões.

Sempre foi muito difícil saber antes da WWDC o que viria no novo iOS. Pode conferir, pesquisando aqui no BDI o que falamos das WWDCs passadas antes delas acontecerem. As informações eram poucas.

E a lógica é que, como o iOS é todo desenvolvido dentro do Apple Park, é mais fácil de controlar os vazamentos.

Mas este ano foi diferente.

Todos nós já sabíamos o que a Apple iria anunciar no novo iOS 18, com algumas semanas de antecedência.

Eu cheguei a escrever um artigo dois dias antes da apresentação chamado “Veja alguns spoilers do que a Apple apresentará nesta segunda-feira“. E se você relê-lo, verá que tudo o que está escrito ali, aconteceu.

E não para aí. Veja a lista de artigos com rumores prevendo tudo o que foi apresentado:

Você ainda acha que não foi avisado antes de tudo o que seria apresentado? Como se surpreender em uma apresentação que mostrou o que todo mundo já sabia?

O protótipo do iPhone 4

Em 2010, algo parecido aconteceu com o iPhone 4, quando um engenheiro bêbado esqueceu um protótipo secreto em um bar. Naquela época, era muito raro sabermos de algo com antecedência e por isso teve uma repercussão tão grande que virou até notícia do Jornal Nacional.

Mas mesmo aquele que foi considerado o maior vazamento da história da Apple, não nos contou tudo. Conhecíamos a carcaça, mas Steve Jobs ainda conseguiu nos surpreender ao apresentar a inédita tela Retina, o primeiro processador próprio da maçã (A4) e o FaceTime.

Não é a toa que até hoje o iPhone 4 é considerado um dos melhores modelos já lançados. Ele conseguiu nos surpreender em diversos pontos.

Agora, em 2024, não tivemos esse momento “uau”. E isso é perigoso, porque como não nos surpreendemos mais, corremos o risco de acharmos que nenhuma novidade é “novidade” e aí decretarmos que “a Apple não inova mais“.

(OK, também acho que a Apple não inova mais como antigamente, mas este é assunto para outro artigo).

O ponto é que no tempo de Steve Jobs, o fator surpresa era o que nos impressionava. Um dos momentos mais marcantes para mim foi quando ele tirou no palco o primeiro MacBook Air de dentro de um envelope pardo que parecia ter apenas papéis.

MacBook Air dentro de um envelope

Ou então quando ele mostrou pela primeira vez o iMac G4, carinhosamente conhecido como “iMac abajour“, um dos mais lindos designs de computador até hoje, na minha opinião.

iMac G4 abajour

Dois grandes produtos que mudaram conceitos em suas épocas. Mas agora imagine que impacto teria na apresentação se todas as informações tivessem sido divulgadas semanas antes e nada daquilo ali fosse surpresa?

Provavelmente acharíamos que aquilo não era tão inovador assim e que “era mais do mesmo“…

Tudo isso me faz pensar como é que tanta informação foi vazada esse ano.

Será que foi um vazamento proposital?

Como eu disse, dentro das paredes do Apple Park é muito mais fácil controlar o que entra e o que sai, pois são equipes fechadas que cuidam de tudo, sem influência externa.

Então, como é que desta vez tanta informação ficou solta assim, antes do lançamento?

Bem, a Apple de ontem não é a mesma Apple de hoje.

O comando de Tim Cook trouxe mais prioridade a faturamento, lucros e, consequentemente, uma maior preocupação com o que os acionistas pensam.

O ChatGPT trouxe ao grande público uma das maiores revoluções tecnológicas desde a popularização da internet e isso atropelou todo o mercado. Google, Microsoft, Amazon, todo mundo. Mas a Apple demorou um pouco mais do que as outras para entender o tamanho de tudo isso.

A coisa toda cresceu tão rápido e em um ritmo muito maior do que a Apple estava acostumada a evoluir, que ela acabou ficando marcada como a empresa que “perdeu o bonde da IA“. E os acionistas não gostaram nada disso.

Então não bastava esperar junho e apenas apresentar tudo em um evento, pois esse “tudo” não teria muita coisa de diferente do que já existe. No fim, nada do que a Apple apresentaria teria algum “momento uau”.

O que me faz pensar que não é absurdo concluir que pode ter sido a própria Apple quem teria liberado as informações antes do tempo, para causar burburinho e tirar a atenção do que os outros apresentavam.

Afinal, a expectativa do que a Apple iria apresentar em questão de IA poderia causar mais impacto do que a apresentação em si.

E de fato, foi mais ou menos o que aconteceu. Desde março que se fala da IA da Apple praticamente todas as semanas. Mark Gurman chegou a ser repetitivo em suas newsletters dominicais, por vezes requentando informações que ele já tinha dado.

Essa poderia ser uma maneira eficaz de conter a impaciência dos acionistas, que já estavam pensando em vender suas ações da Apple para comprar da Nvidia.

Então, faz todo o sentido imaginar que isso foi uma estratégia para tentar manipular a atenção de todos, enquanto nos bastidores a empresa corria atrás de recuperar o terreno perdido. Ao mesmo tempo, enfraqueceu a ideia de que “a Apple não está fazendo nada” quando outras empresas apresentaram suas visões de IA.

Faz sentido para você?

Para mim, é a única coisa que explica essa quantidade inédita de informações “vazadas” antes do tempo, em uma empresa que sempre preservou a discrição. Porque se não foi isso, aí as coisas realmente estão ficando feias para a maçã…

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