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Por que não é tão fácil para a Apple transferir sua produção de iPhones da China para a Índia

Plano de diversificação avança, mas com muitos entraves

Como já se sabe, a Apple tem investido nos últimos anos para reduzir sua dependência da China na fabricação de iPhones.

A estratégia faz parte de um plano maior para proteger sua cadeia produtiva de riscos geopolíticos, como pandemias e guerras comerciais, que já afetaram duramente o fornecimento de produtos em anos anteriores.

Um dos focos dessa diversificação é a Índia, país que já produz cerca de 40 milhões de iPhones por ano — aproximadamente 20% da produção global da Apple.

A meta da empresa é clara: alcançar um equilíbrio de 50% da fabricação de iPhones na China e 50% na Índia nos próximos anos. No entanto, tirar este plano do papel tem sido mais difícil do que o previsto.

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Tensões com a China dificultam o avanço

Grande parte dos obstáculos vem da própria China, que tem reagido à saída da produção com medidas nada sutis.

Autoridades chinesas, por exemplo, têm pressionado fornecedores da Apple para não levarem suas linhas de montagem para outros países, sob o argumento de que isso ameaça o emprego local.

Além disso, equipamentos essenciais têm sido barrados ou atrasados sem explicação oficial nas alfândegas chinesas, prejudicando a montagem de novas fábricas na Índia.

Outro ponto crítico são os vistos de trabalho negados a funcionários da Apple e suas parceiras que tentam atuar no território indiano.

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Impasses legais e culturais na Índia

Por outro lado, a própria Índia também impõe desafios.

Leis trabalhistas exigem que fábricas operem com três turnos de 8 horas, ao contrário dos dois turnos de 12 horas comuns na China. Isso obriga a contratação de mais funcionários, encarecendo a operação.

Mesmo com o lobby da Apple para flexibilizar essa norma, a tentativa de implantar turnos mais longos encontrou resistência entre os trabalhadores — e até agora não foi adiante.

Problemas técnicos e operacionais

A transferência de produção para a Índia também esbarra em limitações técnicas.

Muitos dos equipamentos enviados da China chegam com interfaces em chinês, dificultando o uso pelas equipes indianas. Em outros casos, as máquinas nem sequer chegam, devido às restrições impostas pela China.

Outro gargalo está na qualidade dos componentes.

A Apple exige padrões extremamente elevados para suas linhas de montagem, e os fornecedores indianos ainda não conseguem atender com consistência essas exigências, principalmente nas etapas de submontagem.

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Questão estratégica: evitar fornecedores chineses

Em meio a esse cenário, a Apple também tem orientado seus times na Índia a evitar parcerias com empresas chinesas, o que limita ainda mais suas opções de expansão.

O governo indiano, por sua vez, bloqueia investimentos de gigantes chinesas como a Luxshare, numa clara tentativa de conter a influência de Pequim.


No papel, a ideia é ótima — mas na prática…

Faz todo sentido a Apple querer dividir a produção de iPhones entre diferentes países. Reduz riscos, garante estabilidade e até ajuda a empresa a se adaptar a novas regras comerciais.

Mas como deu pra ver, sair da teoria e colocar esse plano em prática é uma missão cheia de armadilhas.

Mesmo com 40 milhões de iPhones sendo montados por ano na Índia (cerca de 20% da produção global), a meta de dividir 50/50 com a China ainda está longe de se tornar realidade.

E tudo indica que essa caminhada vai exigir muito mais paciência do que Tim Cook talvez imaginasse no início.

2 Comentários

  1. Parabéns pela qualidade do texto. Sou professor de logística em algumas faculdades aqui no Canadá e irei recomendar o seu texto para alguns alunos.

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