A China salvou a Apple da falência, mas quem salvará a Apple da China?
Tim Cook apostou na China para salvar a Apple, mas agora a empresa está presa à sua dependência.

A Apple é uma das empresas mais valiosas do mundo, mas seu destino poderia ter sido bem diferente.
Nos anos 90, a companhia estava à beira da falência. Foi então que um executivo recém-contratado, um tal de Tim Cook, tomou uma decisão ousada: transferir a maior parte da produção da empresa para a China.
Essa escolha ajudou a salvar a Apple e transformá-la em um império, pois com isso ela ficou mais produtiva, gastando menos.
Mas o que no passado foi um ponto forte para a maçã, hoje é o seu maior calcanhar de Aquiles. A dependência da China cresceu tanto, que hoje a Apple é praticamente refém do país asiático e todos os inconvenientes que ele carrega.
O livro Apple in China, que será lançado em maio, detalha como essa relação foi construída e como, agora, a empresa enfrenta o dilema de depender de um país com o qual os Estados Unidos vivem uma disputa crescente.

Tim Cook e a aposta na China
Tim Cook entrou na Apple em 1998, quando Steve Jobs ainda estava reconstruindo a empresa.
Seu papel era claro: tornar a produção mais eficiente e rentável.
Ele percebeu que a Apple gastava muito com uma cadeia de suprimentos fragmentada e decidiu centralizar tudo em um lugar que oferecia mão de obra barata, infraestrutura robusta e incentivos do governo: a China.
Essa decisão mudou o jogo. A Apple conseguiu escalar rapidamente a produção do iPod, depois do iPhone, e se tornou a empresa mais valiosa do mundo.
Quando Cook assumiu como CEO em 2011, ele aprofundou ainda mais essa relação.
Em 2016, fechou um acordo de US$ 275 bilhões com o governo chinês, garantindo que a Apple continuasse a operar sem grandes restrições no país.
Mas essa dependência agora cobra seu preço.
Os riscos da Apple na China
O livro aponta três grandes problemas que a Apple enfrenta hoje devido à sua dependência da China:
1. Produção concentrada em um único país
A maior parte dos produtos da Apple ainda é fabricada na China. Isso significa que qualquer crise – como a pandemia de COVID-19 – pode paralisar a empresa.
Além disso, eventos como greves ou mudanças políticas podem afetar severamente sua cadeia de suprimentos.
2. O impacto da guerra comercial entre EUA e China
As tensões entre os dois países só aumentam, e a Apple está no meio dessa disputa.
Tarifas, sanções e restrições podem afetar diretamente seus negócios. O governo chinês sabe do poder que tem sobre a Apple e pode usá-lo como moeda de troca em negociações com os EUA.
3. A contradição entre os valores da Apple e as regras chinesas
A Apple se posiciona como defensora da privacidade e da liberdade de expressão, mas precisa seguir as leis chinesas, que incluem censura na App Store e armazenamento de dados no país.
Para muitos críticos, isso compromete a imagem da empresa.
A Apple ajudou a China – e agora está presa a ela
Além de depender da China, a Apple ajudou a transformar o país em uma potência da tecnologia.
A maçã financiou, treinou e supervisionou fabricantes locais, criando uma cadeia de produção sofisticada que hoje Pequim usa para fortalecer sua posição contra o Ocidente.
Agora, Tim Cook busca reduzir essa dependência. A Apple começou a expandir sua produção para países como Índia e Vietnã, mas substituir a China não é fácil.
O livro Apple in China mostra como a empresa, que um dia incentivava a rebeldia com o slogan “Think Different”, hoje evita desafiar Pequim.
E só abrindo um parêntesis rápido: não é a mesma coisa que Tim Cook está fazendo com Donald Trump, que sempre pregou ideologias que o próprio Cook discorda? Sim, amigos, business são business…

Para muitos, a Apple passou de líder inovadora a uma companhia refém de suas próprias decisões do passado.
A grande questão agora é: Tim Cook conseguirá encontrar uma alternativa à China sem comprometer o sucesso da Apple? Essa será uma das decisões mais difíceis de sua carreira.
O livro Apple in China será lançado nos Estados Unidos em 13 de maio e já está disponível para pré-venda.