Bateriagate: estaria a Apple deixando mais lento o iPhone 6s de propósito?
Controvérsias envolvendo a Apple são algo bem comum, muitas delas espalhadas mais para chamar a atenção do que realmente informar o usuário. É por isso que sempre tomamos cuidado para divulgar informações polêmicas, aguardando elas se esclarecerem, sem um sensacionalismo que poderia trazer mais desinformação do que informação.
Esta semana, um artigo dos criadores do Geekbench (aplicativo especializado em medir a performance de celulares e computadores) causou certo alvoroço entre a comunidade da maçã, pois eles sugerem que o iOS diminui intencionalmente a performance do iPhone quando a bateria do aparelho está com mais idade. E isso é grave.
O artigo
O Geekbench ($0,99 – link) é um aplicativo bem popular e confiável, capaz de medir a performance do iPhone analisando processador, memória e tarefas realizadas. Com ele, dá para ter um parâmetro de como anda o sistema e quanto ele melhorou ou piorou de uma atualização para a outra.
O aplicativo mede o processamento e, recentemente, voltou a incluir um teste de performance de bateria, que é independente dos resultados do processador. Afinal, uma coisa não tem a ver necessariamente com a outra, certo?
Mas na semana passada, um usuário da rede social Reddit notou que os números da performance de processamento do seu iPhone 6s aumentaram demais depois que ele mandou trocar fisicamente a bateria do aparelho. A questão é que, normalmente, trocar a bateria não deveria influenciar a performance do processador.
Nesta segunda-feira (18), John Poole da Primate Labs (criadora do Geekbench) publicou um artigo com seus testes sobre a performance do iPhone 6s em relação à degradação da bateria, e os resultados são muito preocupantes.
John chegou à conclusão (através de números) de que o iOS 11.2 faz com que aparelhos com baterias de certa idade (e que consequentemente sofrem mais com a degradação normal do tempo) diminuam a performance do processador do iPhone 6s. Algo que não deveria ser relacionado, acontece de fato.
Mas por que raios a Apple deixaria o 6s mais lento de propósito?
Uma possível explicação
Não dá para falar do iPhone 6s sem lembrar do recall que a Apple fez com as baterias do aparelho. A troca foi provocada por um bug bizarro que fazia o aparelho desligar sozinho mesmo com a bateria ainda indicando carga. Nós denunciamos isso aqui no ano passado e até fizemos um vídeo mostrando o que acontecia:
Isso começou a acontecer no iOS 9.3.2, que foi a versão que passou a permitir ligar ao mesmo tempo a função Night Shift com o Modo de Economia de Energia. Apesar da nossa desconfiança, a Apple nunca assumiu que o problema pudesse ser relacionado com isso.
Fizemos vários testes e parecia ser mesmo algo associado a algum bug de sistema, mas a Apple ficou meio perdida na busca de uma solução via hardware. Alguns meses depois ela lançou um programa de troca de bateria para o iPhone 6s e, em seguida, lançou o iOS 10.2 com um modo de análise do consumo da bateria pelo sistema.
Isso deu a ela informações suficientes para implementar no iOS 10.2.1 uma maneira de identificar problemas na bateria física do aparelho. E segundo John, é aí que o problema começou.
Para resolver o problema dos aparelhos que desligam antes da bateria acabar, a Apple teria optado por uma solução “gambiarra”: quando a bateria apresentar problemas físicos, o sistema automaticamente faria o processador rodar mais devagar. Na prática, é o que chamam de under clocked, que é a lentidão forçada de um processador para ele consumir menos bateria.
Resumindo, a Apple poderia estar fazendo com que os iPhones 6s com iOS 11 ficassem mais lentos para que a bateria não fosse consumida rapidamente. Ela estaria trocando performance por uma maior autonomia durante o dia, coisa que já faz há alguns anos com MacBooks cuja bateria começa a se deteriorar.
O que diz a Apple?
Por enquanto isso é apenas uma suposição, baseada em números e testes. A Apple ainda não se manifestou sobre o caso no momento em que este artigo está sendo escrito e aguardamos com expectativa para ouvir o que a maçã tem a dizer sobre isso.
O caso é grave. Diminuir via software a performance de um dispositivo só para ele não ter problemas de bateria é algo que beira o inaceitável, causando indignação compreensível em todos os usuários. Até o momento o fenômeno não acontece com o iPhone 7, mas se começar a acontecer a partir do ano que vem, quando as baterias ganharem mais idade, como será?
Esperamos uma explicação convincente da Apple a respeito disso, que nos mostre que o estudo é equivocado e a razão para que não devamos acreditar nesses números. Porém, caso os testes de John Poole realmente confirmem uma realidade, então que ela apresente uma solução que não prejudique os usuários de iPhone, que pagaram mais pelo aparelho justamente porque ele é de alta qualidade e funciona bem por longos anos.