[Opinião] Mais um episódio da série “Todo Mundo Odeia a Apple”
Se você observar com olhos mais atentos o atual noticiário de tecnologia, perceberá que há uma forte tendência de todos falarem mal da Apple.
Não estou sugerindo que ela seja santa e não mereça ser criticada. Nós mesmos aqui no BDI já encontramos vários motivos para discordâncias e quem é leitor mais antigo sabe bem.
Porém, a quantidade atual de críticas está bem maior do que costuma ser, e não é porque a Apple mudou. Aliás, muitos reclamam justamente do contrário.
Este artigo [de opinião] tem por objetivo fazer você perceber que nem tudo o que se fala da Apple atualmente é motivado apenas por uma reivindicação justa sobre alguma coisa, e sim uma tendência criada por interesses paralelos, com o objetivo de manipular a sua opinião.
Sim, tem bastante coisa que eu desgosto na Apple e ficaria muito feliz que ela mudasse. Mas tenho idade suficiente para entender que não é porque a empresa não faz o que eu quero que vou chamá-la de arrogante ou ditadora. Quem manda no que eu uso sou eu e o dia que eu não ficar mais feliz com o produto, basta trocar de marca. Simples assim.
Até o momento, as partes boas que vejo em um iPhone superam (para mim) as poucas coisas que me incomodam. Então acho mais lógico continuar usando do que procurar mais problemas em outra plataforma.
Isso não significa que eu não possa criticar a maçã sempre que eu ache desconexo o que ela faça. Mas o que eu tenho visto por aí é uma especie de esforço para me convencer de que, de repente, a Apple virou a grande vilã e que eu preciso “saber a verdade” que até então estava escondida de mim.
Ou que ela, de uma hora para outra, começou a arbitrariamente ser perversa com pobres empresas que só estão pensando no bem dos usuários.
Haters gonna hate
O fato da Apple ser uma das empresas que mais valem no mundo (recentemente atingiu a marca de 2 trilhões de dólares em valor de mercado) incomoda muita, muita gente.
Principalmente os concorrentes.
Isso faz com que seja extremamente popular falar mal da Apple. Se este blog só falasse mal da maçã, tenha certeza que ele teria, no mínimo, 6 vezes mais de visitação diária. E visitas na internet significam dinheiro.
Fora os patrocínios que outros fabricantes dão, como celulares grátis para testes e viagens pagas para lançamentos.
Sim, somos burros de perder tanto dinheiro assim. Nós nos lembramos disso todos os dias.
Mas é fato que realmente atrai mais gente. Isso porque falar mal da Apple atrai dois tipos de público: os que realmente usam produtos dela e aqueles que não usam, seja porque a odeiam ou porque acham o preço completamente desconexo com sua realidade financeira.
[Não vou falar aqui das razões psicológicas que fazem os que não usam produtos Apple a serem atraídos por notícias que falam mal da empresa. Isso fica para outro artigo.]
Então, é natural que notícias negativas sobre a Apple ganhem rapidamente as páginas dos sites de notícias, e de uma hora para outra sejamos inundados por todos os lados de informações de como a fabricante do iPhone é tirana e cruel. Isso dá dinheiro e os editores estão ávidos por esse tipo de notícias.
Como todo mundo hoje em dia copia o outro e reproduz (sem filtro) o que outros sites publicam, recebemos a mesma informação de vários lugares diferentes. E como dizia aquele maquiavélico nazista, uma mentira, quando repetida diversas vezes, acaba ganhando tons de verdade.
Se todos os sites dizem a mesma coisa, ficamos com a impressão de que “então deve ser verdade”. Não há nenhum que fale o contrário da corrente, que ouse dar uma opinião diferente do que todos dizem, porque quando fazem, os haters logo aparecem xingando o veículo de “fanboy”, ou de “vendido”, ou que “está passando panos quentes”. “Vergonha”!
É muito mais fácil seguir a corrente e falar o que todo mundo fala, a gente sofre bem menos. Mas quem acaba desinformado é o leitor.
O caso WordPress
Esta semana, muitas manchetes estamparam o caso do aplicativo do WordPress, cuja equipe tinha recebido uma solicitação da Apple para implementar uma opção de compras internas.
“Minha nossa! O aplicativo é gratuito, mas a Apple quer obrigar que ele cobre dos usuários só para ela ganhar mais? Que absurdo! Como é gananciosa essa empresa tirana!”
Este tipo de contexto é o que se viu em diversos blogs e sites de tecnologia. Mas isso só aconteceu por dois motivos: ignorância ou má fé mesmo.
O WordPress.com (diferente do .org) é um serviço que vende hospedagem e domínios para sites na internet. O próprio 9to5mac o usa, e paga um bom preço para ter uma estrutura sólida e estável no mundo inteiro.
O aplicativo do WordPress realmente é gratuito e não custa nada. Porém, há serviços pagos que não estavam sendo oferecidos no app, com redirecionamento direto para o site externo. É um fato.
Você até pode ser contra essa exigência da Apple obrigar todos a propor uma forma de pagamento pelo app (e repare que eu nem comentei o que acho disso), mas esse é outro assunto. A discussão aqui é outra.
Existe uma regra estabelecida há anos. Então nada mais lógico acreditarmos que a Apple agiria exatamente dessa forma: solicitar ao desenvolvedor que seguisse o regulamento que ele já conhece e implementasse também uma opção de compras internas, além da opção de direcionar para um site externo.
É a lógica. Pura e simples.
Mas se a notícia fosse essa, não atrairia muitos leitores, não é?
Faça você o mea culpa e seja sincero: qual dos links abaixo você clicaria primeiro?
- Apple pede a desenvolvedor do WordPress que respeite as regras da loja
ou
- De olho nos 30% de comissão, Apple obriga o WordPress a cobrar por um aplicativo que era de graça
Acho que até eu clicaria no segundo link. As manchetes são feitas para induzir você a clicar e é fundamental que você lembre-se sempre disso no momento de formar sua própria opinião.
Tempos de guerra
Neste momento específico, estamos vendo um número maior de notícias contra a Apple. E há um motivo bem claro para isso.
Algumas comissões antitruste nos parlamentos da Europa e Estados Unidos estão analisando o quanto as grandes empresas de tecnologia estão prejudicando a livre concorrência. São todas as Big Techs: Apple, Google, Amazon, Microsoft, Twitter e Facebook.
Mas prego que se destaca, leva martelada.
A Apple é a empresa de tecnologia que mais lucra, trimestre a trimestre. Não há sequer uma de suas concorrentes que não inveje o lugar que ela está.
Com os olhos voltados para o que acontece nos tribunais, é uma grande oportunidade de pressionar a Apple a derrubar as barreiras que ela impõe em seus negócios.
Controle dos dados do cliente, obrigação de passar por análise de segurança antes de publicar um aplicativo, não permissão de se instalar qualquer coisa no sistema… Todos estes controles “chatos” que impedem outras empresas de dominar os usuários, poderão cair por terra se a pressão de todos for forte.
Então, que momento melhor para criticar a Apple senão agora?
Não é por acaso que a Epic montou todo um circo para tentar empurrar a opinião pública contra a maçã. O momento é esse.
Mesmo que outras empresas também estejam na mira das comissões antitruste, é da Apple que mais se fala, como se fosse a única a estar sendo questionada.
Por que? Ora, porque são as manchetes que atraem mais cliques.
A real razão disso tudo
No fim, tudo é para decidir para onde vai o dinheiro que sai do seu bolso.
Eles querem que acreditemos que tudo é uma questão de justiça e de lutar pelo que é certo. E você cai direitinho.
Repare que ninguém está brigando para você ter mais dinheiro ou não precisar mais pagar por algum serviço. No final, seja lá o que for decidido, a mesma quantidade de dinheiro continuará saindo do seu bolso.
O que mudará será o destino dele.
Porque no fim, tudo isso é uma grande batalha de gigantes preocupados com o próprio dinheiro, não com o nosso.
O objetivo deste artigo não é defender ninguém. É simplesmente fazer você enxergar algumas coisas para ter condições de analisar melhor e perceber sobre o que se está brigando.
Porque não faz sentido tomarmos uma posição de defesa a favor ou contra uma grande empresa, quando a situação para nós, usuários, continua a mesma (ou até piora).
Isso seria torcer para o carrasco.
Então, na próxima vez que você ler uma notícia falando mal da Apple (ou outra grande companhia de tecnologia), faça a si mesmo a pergunta: o que isso mudaria para mim, enquanto usuário? O que uma alegada mudança poderia influenciar diretamente na atual experiência que tenho com o produto ou serviço que uso?
Só assim você deixa as paixões de lado e foca no que realmente importa: você.