Primeiro de tudo, faz-se necessário destacar um ponto importante: ser rastreado a todo o momento por grandes empresas de tecnologia (como Apple e Google) não é nada agradável e é sim uma invasão de privacidade. Esta é uma questão que merece ser revista com mais cuidado pelos diversos órgãos da sociedade, para que soluções sejam encontradas e isso deixe de ser uma coisa “normal”.
Justamente por ser algo desagradável que acontece graças aos nossos queridos celulares, a repercussão de uma simples notícia tomou proporções de escândalo, sendo reproduzida no mundo inteiro como se fosse uma descoberta recente e de graves consequências. Veja a que ponto estão as notícias e aprenda a se prevenir delas.
LocationGate: mais uma paranoia da mídia
Isto é fato: atualmente está acontecendo uma paranoia de grande parte da mídia em relação ao registro, em um arquivo presente no iOS, de todos os lugares onde o aparelho passa. Este arquivo só está presente no computador ou aparelho da pessoa e não pode ser acessado por quem não tem acesso a eles. A Apple jura de pé junto que não recolhe estas informações, ou quando recolhe, o faz anonimamente, sem identificar o usuário.
Os smartphones fazem isso há muito tempo, mas de um dia para o outro isso parece ter se transformado em assunto de segurança nacional. Na Europa, Ásia e até nos Estados Unidos, representantes dos respectivos governos estão pedindo explicações para a Apple e o Google sobre este tipo de “rastreamento” do indivíduo. Mas claro, com a demora tradicional da Apple em comentar este tipo de coisa, a polêmica se mantém viva e forte.
Talvez vocês se recordem de outra paranoia midiática que ocorreu com o iPhone 4, considerada a mais famosa delas até hoje: o antennagate. Em julho do ano passado, quem lia os jornais ficava com a nítida impressão de que o novo aparelho tinha um problema grave de design e que deveria ser recolhido pela Apple. O Blog do iPhone foi um dos únicos sites do mundo a dizer que tudo era exagero e que o problema não acontecia na proporção em que a mídia pregava. Até chegamos a reverter o dinheiro do bumper para nossos leitores, pois nunca tivemos o tal problema (confira o teste que fizemos com diversas operadoras brasileiras). Hoje, vários de vocês possuem o iPhone 4 (que não foi alterado desde então) e podem comprovar com os próprios olhos o que defendíamos, é ou não é?
Não é fácil nadar contra a corrente e afirmar algo que a grande mídia discorda; muitos haters nos chamam de fanboys e parciais por isso. Mas felizmente, depois do nosso desabafo da semana passada (leia “A historinha sensacionalista do rastreamento do iPhone que compromete sua privacidade“), vários outros especialistas também tomaram a mesma posição, destacando que o problema não é limitado ao iPhone e acontece em todos os atuais smartphones. Até mesmo o Windows Phone faz a mesma coisa (mas ninguém se importa porque falar dele não atrai leitores). ;)
O importante é saber que este problema sempre existiu e não é novidade, mesmo que alguns veículos de comunicação queiram que você pense o contrário.
Processos e pedidos governamentais
Claro que há quem se aproveite de toda a polêmica para tentar aparecer e tirar alguma vantagem nisso. Nos Estados Unidos, dois cidadãos resolveram entrar na justiça contra a Apple por violação de privacidade. Aliás, abrir processos é quase um esporte nacional nos EUA, e é interessante de perceber que os jornais e sites que divulgam esta “notícia” não voltarão atrás depois, se a Apple ganhar o processo. Claro, notícia que afirma que a Apple tem razão não atrai leitores.
Na onda, diversos políticos na França, Alemanha, Coreia do Sul e Estados Unidos estão tentando pedir uma explicação direta da Apple sobre o “grave” problema. Se eles estão tão preocupados com “a privacidade do cidadão”, porque não lutaram por isso antes? Porque deixar o fenômeno de rastreamento crescer e se transformar em algo “comum” como é hoje?
Aberturas de processos judiciais geram notícia e atraem leitores. A conclusão deles e o veredito final, quando é favorável ao réu, não.
Por que há um rastreamento?
Ok, a mídia está dando um peso exagerado ao assunto, mas de fato existe um rastreamento no nosso iPhone (e em outras marcas também). Por que isso?
A função de localização na verdade facilita bastante nossa vida cotidiana no smartphone. É através dela, por exemplo, que o aparelho determina mais rapidamente qual o satélite está mais próximo para o uso do GPS, ou qual antena de telefonia usar. Isso, além de nos poupar tempo, economiza também bateria, algo importantíssimo em dispositivos móveis. Também podemos usar a localização em diversos serviços, como o Google Maps, Foursquare e até nas fotos que tiramos com o aparelho. Tudo isso é uma vantagem, não um problema.
Claro que isso também permitiria que informações mais pessoais, como número de telefone e nomes, fossem transmitidos para alguma empresa, mas todos os atuais fabricantes negam que isso aconteça, reforçando que as informações transmitidas são sempre anônimas. A Apple envia algumas informações a cada 12h, enquanto dispositivos com Android fazem isso diversas vezes em cada hora do dia.
O problema a se questionar, talvez, seja o motivo pela qual um arquivo do iPhone guarde informações de meses, quando poderia estocar apenas as dos últimos dias. Muitos acreditam que isso pareça mais um bug do que algo proposital, coisa que pode ser consertada em uma próxima atualização do iOS.
A Apple vai se explicar?
A polêmica cresceu tanto que, cedo ou tarde, ela terá que vir a público se explicar. Mas o discurso já podemos até adivinhar: “o problema não existe e isso acontece com todos os smartphones”. Qualquer semelhança com outra explicação será, obviamente, mera coincidência. :P
Como não ser rastreado pelo meu iPhone?
Você acabou visitando um lugar que não quer que ninguém descubra e tem medo que algum familiar possa mexer no seu iPhone e rastrear por onde você esteve? Bem, há pequenas soluções que podem apagar seus rastros do aparelho.
Desligar o serviço de localização não adianta, ele continuará registrando seus passos. Porém, se você acabou de estar em um lugar que quer que ninguém saiba, veja os passos a seguir:
1. Antes de ir ao tal lugar, sincronize seu aparelho com o seu iTunes, gravando assim o backup dele.
2. Vá onde você deve ir, sem culpa (ou se tiver culpa, não responsabilize o iPhone).
3. Quando voltar para casa, não sincronize o aparelho ao iTunes. Em vez disso, plugue o cabo USB e restaure o backup antigo, clicando com o botão direito do mouse em cima do nome do seu aparelho.
Pronto, assim ele não terá registrado os últimos lugares que você foi desde a última sincronização. Claro que se você tiver mensagens SMS recebidas ou ajustes alterados neste meio tempo, também serão perdidos.
Para se livrar de todas as localizações presentes do aparelho, uma restauração completa sem utilizar o backup antigo também resolve. Há também algumas soluções para aparelhos com jailbreak que interrompem o serviço de localização.
Conclusão
Ainda veremos muita repercussão deste assunto polêmico. Mas pelo menos você agora terá condições de ler estas notícias com olhos críticos, sabendo que não é nenhum fim de mundo isso e se preocupando com o que realmente importa: a luta contra todo o sistema de localização dos smartphones, que interferem sim em nossa privacidade, mas hoje são considerados “normais” por causa da evolução tecnológica.