No final de 1996, quando Steve Jobs voltou a uma quase falida Apple, seu objetivo era fazer o que se imaginava ser impossível: reerguer a empresa e torná-la grande outra vez.
Para isso, ele reformulou toda a linha de produtos e lançou alguns novos, como o iMac e o iBook (laptop). Mas foi um dispositivo específico que fez a Apple decolar: o iPod.
Esta semana, a empresa anunciou oficialmente a descontinuidade da linha iPod. E isto é o resultado da decisão de Steve Jobs em lançar um celular próprio.
O iPod nasceu em uma época que os tocadores de MP3 ficaram bastante populares.
No final da década de 90, a expansão da internet popularizou um fenômeno chamado Napster, um programa de computador que permitia baixar músicas de graça, de forma fácil. Bastava instalá-lo, colocar no campo de busca a música ou artista que gostaria de ouvir e uma enorme lista aparecia, bastando clicar para iniciar o download.
Isto, obviamente, era feito de forma ilegal, para o desespero de artistas e gravadoras que viam a queda vertiginosa na venda de discos acontecer.
O que a Apple, uma empresa de computadores, poderia fazer? Teoricamente nada, a indústria musical não tinha nada a ver com ela e, assim como todas as outras empresas de tecnologia, não assumiria o problema como seu.
Mas Steve Jobs viu ali uma oportunidade de ouro que ninguém mais viu. Criar um sistema sólido de venda de músicas, com um dispositivo que facilitasse a escuta onde quer que você estivesse.
O advento do MP3
Enquanto todos estavam maravilhados com a tecnologia musical da época, Jobs via o quão medíocre ela era e o quanto poderia ser melhor.
Os tocadores de MP3 eram populares e baratos, mas complicados e arcaicos demais. Muitos não tinham um visor para mostrar a música que tocavam e, os que tinham, mostravam apenas o nome do arquivo, de forma lenta. Playlist? Nem pensar, eles tocavam as músicas na ordem alfabética do nome do arquivo.
Já o Napster, apesar de fácil, não permitia ouvir uma prévia da música. Isso fazia com que você ficasse um tempão baixando uma faixa, para depois descobrir que estava mal gravada ou até mesmo nem era a que você queria. Tudo era ainda muito complicado.
Aí Jobs imaginou que, se fosse oferecido aos usuários músicas de qualidade, em uma plataforma em que poderia-se ouvir uma prévia, com download rápido e preço muito barato, as pessoas não se importariam em pagar por isso.
E mais: com um dispositivo com uma tela maior, que pudesse organizar as musicas por artistas, gêneros, álbuns ou uma lista de favoritos, para você escutar o que quisesse a hora que quisesse, onde quer que estivesse, as pessoas iriam amar.
Assim, Jobs reinventou os tocadores MP3 e revolucionou a indústria musical, lançando o iPod.
Este foi, sem dúvida, o produto que fez a Apple decolar.
Colocando a Apple no mapa
O iPod foi um sucesso mundial e garantiu que a empresa batesse recordes consecutivos de lucros.
Foi também o produto que “apresentou” a Apple para muita gente que, até então, via a marca apenas como “aquela empresa que faz aqueles computadores esquisitos que não rodam Windows”. A popularização da maçã começava a crescer.
Em poucos anos, o iPod passou a ser o principal faturamento da Apple, com os concorrentes tentando imitar o seu sucesso. O que qualquer empresa faria? Investiria muito nisso e faria de tudo para eternizar este sucesso (mais ou menos como Steve Ballmer tentou fazer com o Windows).
Porém, Jobs sempre se preocupou em olhar lá na frente e se deu conta de que uma coisa poderia matar o iPod: o celular.
O iPod killer
Na metade dos anos 2000, o telefone portátil passou a ser bastante popular e todo mundo tinha um sempre consigo. Com o avanço da tecnologia, parecia questão de tempo ele passar a oferecer as mesmas coisas que um iPod, o que tornaria o produto da maçã obsoleto. E isso seria catastrófico para a Apple, que passou a ficar muito dependente de um único produto.
Esta história nós já contamos aqui. Jobs decidiu que era preferível eles mesmos lançarem um iPod-killer do que esperar que outros o fizessem. E assim nasceu o iPhone.
O pressuposto inicial era que o iPhone iria inevitavelmente matar o iPod. E é impressionante ver que isso precisou de 10 anos para se concluir. Hoje, apenas o iPod touch está à venda, mas ele é muito mais próximo de um iPhone do que de um tocador de MP3, então pode-se concluir que o iPod, em seu conceito, já não existe mais.
Sem o iPod, certamente o iPhone não teria existido, e é por isso que devemos prestar grandes homenagens a este produto que revolucionou o mercado. O dia 27 de julho de 2017 marca oficialmente o fim de uma Era.
Obrigado por tudo, iPod.