Já dissemos aqui: não importa quem tenha a razão, quem sai perdendo com a briga entre Apple e Google é o consumidor. Uma parcela dos usuários está realmente sofrendo com a mudança dos mapas no iOS 6, pois em grandes cidades, muitos serviços úteis que existiam no sistema foram simplesmente retirados (e nós avisamos isso antes mesmo do lançamento do iOS). A situação ficou realmente ruim para o consumidor, a ponto do próprio CEO da companhia pedir desculpas em público (humildade esta que talvez Jobs não teria).
Ou seja, ninguém aqui está tentando tapar o sol com a peneira: o problema existe e atinge grande parte dos usuários.
Mas o que talvez nem todos estejam avaliando bem é que tudo isso é consequência do próprio Google, que impediu, por interesse comercial, que os seus mapas ganhassem qualquer evolução no iOS. Ou a Apple decidia continuar permitindo um serviço inferior para os seus usuários, ou ela rompia de vez para propor sua própria solução, bem mais moderna.
Um pouco de história
Vamos voltar ao ano de 2010, mais especificamente ao mês de abril. O Google anunciou uma evolução no seu serviço que alegrou muita gente: o Google Maps Navigation, que pretendia oferecer de graça o que aplicativos como o TomTom cobram para disponibilizar. Muitos de nossos leitores ficaram bastante eufóricos com a notícia, ainda mais porque foi o iPhone que popularizou os mapas do Google no mercado mobile.
Porém, no mesmo dia, o Google negou que estaria fazendo uma versão para os dispositivos da Apple. A novidade era só para a plataforma Android.
Bastidores
Óbvio que a Apple insistiu para o Google também implementar a navegação curva-a-curva com instruções por voz no iOS, pois para o Google seria só adaptar suas APIs para funcionarem no sistema do iPhone, usando a mesmíssima base de dados. Ou seja, trabalho nenhum.
Segundo o site AllThingsD, o Google se negou a oferecer este serviço aos usuários da Apple. Claro que ele nunca teve a obrigação de implementar isso, foi uma decisão puramente comercial: um diferencial importante para o Android, que tinha algo que o iPhone não tinha.
Dá para entender a posição do Google, de valorizar um produto seu mais do que o da concorrência. Provavelmente eu e você teríamos feito o mesmo se estivéssemos no lugar. Mas neste ponto, é preciso avaliar que tipo de “parceria” é esta em que seu parceiro deixa o produto inferior propositadamente em benefício de outro. E é aí que precisamos entender a decisão da Apple.
Responsabilidade do aplicativo Google Maps
O aplicativo Mapas do iOS sempre foi feito em parceria da Apple com o Google. Erra quem diz que ele não evoluía por causa da Apple, pois era o Google quem poderia incluir ou não funcionalidades. Até chegamos a ver recentemente a adição de serviços como o Street View e o trânsito em algumas cidades brasileiras, mas isso sempre existiu nos Estados Unidos desde 2008. O fato de termos depois é porque o Google demorou para implementar seus serviços no Brasil, coisa que muitos reclamam hoje da Apple. Brasileiro tem memória curta.
Há mais de dois anos que o aplicativo Mapas do iOS não evoluía. Por causa do Google.
O Google poderia, se quisesse, lançar uma versão independente dos seus mapas na App Store. Mas ele não quer, pois está adorando ver você aí sofrendo com a mudança, pois quer que você deixe de usar este seu iPhone para comprar um Android. Claro, se o sistema deles tivesse outros diferenciais melhores, não precisaria jogar tão baixo.
Quem olha de fora, pode até pensar que o Google só vê chances em vender o seu sistema se transformar o iOS em algo pior, ao invés de tentar tornar o Android algo melhor. Mas, obviamente, isto é só impressão, pois o Google nunca agiria assim…
Solução para melhorar a experiência dos usuários
Imagine que você está na função de tomar decisões na Apple. O que você faria neste caso? Continuaria “dormindo com o inimigo” e deixaria seus usuários sem melhorias nos mapas ou iria atrás de outra solução para poder oferecer um serviço melhor para quem usa os seus produtos?
A Apple decidiu romper com o Google e criar seus próprios mapas. Só assim os usuários de iPhone e iPad poderiam ter um serviço melhor.
Continuar com os mapas do Google no iOS significaria não ter acesso à melhorias. Seria ficar atrás da concorrência.
Dores de cabeça
Não há dúvidas de que a mudança foi ótima a médio e longo prazo: em 4 anos, provavelmente teremos os melhores mapas que um dispositivo móvel pode ter. Mas e o presente, como ficamos? Ninguém vive de passado ou de futuro, nós vivemos do agora, e neste momento o fato é que não temos nas grandes cidades (principalmente São Paulo e Rio de Janeiro) serviços vitais como aviso de tráfego e linhas de transporte público. Em cidades menores, isso não foi tão chocante e os mapas estão até melhores.
Infelizmente esta solução não foi perfeita. Romper com um serviço maduro, mesmo que incompleto, sem apresentar nada à altura, foi terrível para muita gente. E até os novos mapas atingirem uma qualidade aceitável, um hiato existirá, deixando os usuários “órfãos” de alguns serviços.
Sinceramente, não sei dizer se isto foi um erro da Apple que não previu este hiato, ou se foi algo estratégico, confiando que o conhecido Campo de Distorção da Realidade iria fazer todos aceitarem passar um tempo com serviços pela metade. Teremos sim mapas melhores, mas quando?
Não tiro a razão de quem está irritado com a Apple por causa desta decisão. Nos acostumamos a ter tudo na ponta dos dedos, de forma fácil e imediata, e isso inspirou muitos sistemas da concorrência.
Uma atualização que tira funcionalidade é algo que realmente ninguém quer experimentar e a Apple nunca tinha feito isso antes com seus clientes. Ponto negativo para a Maçã.
O que fazer agora?
Muitos não param de reclamar do que aconteceu, mas acho que todos já estamos cansados de ouvir algo que, de tanto ser repetido, está virando ladainha. Ok, foi ruim, prejudicou muita gente, mas é hora de seguir em frente. Cabe a cada um decidir se troca de celular por causa disso ou se arruma uma alternativa enquanto os mapas da Apple não viram a promessa que são. Só reclamar repetidamente, não leva ninguém a lugar nenhum.
Felizmente, há inclusive uma maneira de contribuir para que a evolução dos mapas seja mais rápida, principalmente no Brasil. Claro, você pode continuar ranzinza e dizer que pagou R$2.000 em um aparelho e por isso quer o serviço pronto, sem contribuir de graça. Mas isso é coisa de gente que pensa pequeno e merece que os serviços demorem a chegar no Brasil, inclusive do Google, que lançou novos mapas tridimensionais muito legais, mas que demorarão anos para chegar em nosso país. Se pudesse, você não ajudaria para eles também chegarem antes?
A Apple errou (ou não), mas este é um problema temporário, que nos atinge agora. Ela não irá falir por causa disso e em dois anos todos nós já teremos esquecido isso, com mapas realmente funcionais. Tudo isso tavez sirva para ela se dedicar ainda mais à evolução dos mapas, o que será benéfico para todos os usuários.