Após anos como uma ferramenta de nicho para especialistas, o uso de redes privadas virtuais definitivamente se popularizou a partir de 2024 entre os brasileiros.
Segundo o Google Trends, entre 28 e 31 de agosto do fatídico ano, o termo “VPN” teve um pico de buscas 14 vezes maior que o usual, no contexto da suspensão do funcionamento da rede social X em território nacional pelo Supremo Tribunal Federal.
Essa tendência de adesão à ferramenta não dá sinais de desaceleração neste ano e vai além da curiosidade tecnológica.
A arbitrariedade judicial, a censura e os cuidados com cibersegurança e privacidade são alguns dos fatores que podem explicar a mudança de hábito.

O que é VPN afinal?
Antes de entender por que essa tecnologia está em alta, é importante entender o que é VPN.
Trata-se de um serviço digital que cria um “túnel” digital seguro por criptografia, que conecta o dispositivo do cliente a um servidor remoto privado.
Dessa forma, terceiros que monitorem essa conexão, como provedores, anunciantes ou cibercriminosos, somente conseguem enxergar que dados cifrados são trocados com esse servidor.
Por exemplo, eles não podem interceptar o que está sendo comunicado nem o destino final dos sites visitados.
Por fim, o endereço IP público exibido na rede passa a ser o do servidor VPN, e não o do cliente, o que confere um grau de privacidade.
Caso os servidores do serviço de VPN sejam distribuídos por vários países, é também possível aparentar estar em outro país – frustrando monitoramentos indevidos.
Por que a busca por VPN se intensificou em 2025?
No Brasil e no mundo, diversos fatores parecem ter se alinhado para fomentar o uso de VPNs.
- Vazamentos de dados: a quantidade de registros expostos no Brasil teve um crescimento exorbitante em fins de 2024. Nesse contexto, a vontade por proteções adicionais e a curiosidade em manter a segurança na navegação vem como modo de evitar revelar credenciais sensíveis.
- Bloqueios e censura: autoridades nacionais podem impor bloqueios regionais a endereços digitais por motivos que vão de repressão política a conflitos por direitos de transmissão de jogos. Havendo um crescimento nessas restrições, sobre vertiginosamente a busca por VPNs.
- A insegurança do Wi-Fi público: regimes de trabalho remotos e híbridos ensejaram que muita gente frequentasse ambientes públicos usando internet Wi-Fi. Infelizmente, cafeterias, aeroportos e outros desses locais são paradas obrigatórias para cibercriminosos ansiosos por coletar sessões, cookies e outros dados pessoais de vítimas em alta rotatividade.
- Conscientização sobre privacidade e segurança: a capacidade de plataformas de comércio eletrônico “adivinhar” desejos de consumo incomodou muita gente, que aprendeu que a personalização de anúncios virtuais depende de um ostensivo monitoramento de hábitos. Bloquear cookies e rastreadores, e esconder o endereço IP tornaram-se hábitos novos para essas pessoas.
Três usos cotidianos que explicam o sucesso da VPN
– Evitar rastreamento
As plataformas de anúncios cruzam dados como endereço IP, informações sobre o dispositivo e horários de acesso a um site para criar perfis digitais.
A confecção desses verdadeiros dossiês é dificultada com a VPN, que maquia o IP real. Adicionalmente, o uso de navegadores seguros permite também bloquear cookies e outros rastreadores.
– Blindagem em Wi-Fi público
Conforme comentado anteriormente, ambientes com Wi-Fi públicos são muito visados por agentes maliciosos.
A adição de criptografia à conexão em uma rede aberta permite acessar logins, e-mails e transações bancárias sem a preocupação de uma interceptação indevida.
– Acessar conteúdo com restrições geográficas
Acessar sites bloqueados num país ou assistir a um jogo restrito a um serviço de streaming exclusivo de um país estrangeiro são possibilidades reais com o uso de uma VPN.
Ao se conectar a um servidor daquela localidade, o IP é “teletransportado”, driblando o bloqueio geográfico. É a mesma lógica que regeu a desobediência ao bloqueio do X no Brasil.
– O uso comum
A casa de análises de VPNs Top10VPN estimou que pelo menos 30% da população conectada no mundo usou uma VPN ao menos uma vez no ano passado.
O perfil dominante não é de usuários corporativos e nem especialistas técnicos, mas sim de usuários domésticos comuns em busca de mais segurança.
No Brasil, a popularização de carteiras digitais e um apetite curioso pelas opções streaming de vídeo estrangeiro contribuíram amplamente para a adesão a essa tecnologia.
Como escolher uma VPN sem cair em armadilhas
Algumas linhas gerais podem ajudar a separar o joio do trigo na hora de escolher um serviço de conexão:
- VPN paga versus grátis: Muitos serviços gratuitos são monetizados poluindo a interface com anúncios ou vendendo dados de uso do cliente, o que contradiz a própria motivação de aumentar a privacidade. VPNs pagas são, por definição, preferíveis por esse motivo.
- Jurisdição: serviços sediados em países com legislação mais favorável à privacidade tendem a respeitar mais o usuário – e a não ceder seus dados a autoridades em qualquer adversidade.
- Atenção à velocidade: quanto maior a rede e a largura da banda, menor o impacto na navegação.
- Transparência na segurança: se há um momento em que é importante exigir uma política de coleta de dados transparente e inteligível, esse momento é na escolha de uma VPN. Caso contrário, há possibilidade de sérias brechas.
Dicas para uso eficaz
Por fim, após entender o que é VPN e eventualmente contratar um serviço do tipo, atente aos seguintes itens:
- Ative a VPN antes de se conectar ao Wi-Fi público para que o túnel seguro seja devidamente ativado sem abrir brechas.
- Acione a configuração “kill switch” para cortar a internet se a VPN cair, a fim de evitar vazamento imprevistos.
- Para acessar dispositivos locais (como impressoras) sem desligar a proteção no restante do tráfego, use a função de “split tunneling”.
- Junto da VPN, amplie sua cibersegurança no dia a dia implementando a verificação em dois fatores em seus serviços virtuais e senhas seguras, não repetidas, armazenadas num gerenciador de senhas.
- Apesar de uma VPN mascarar o IP, logar numa rede social pode comprometer seu anonimato na internet. Permitir rastros de fingerprint também.
- Avalie cuidadosamente a legalidade do uso de uma VPN e a disponibilidade do serviço num país, especialmente em caso de trânsito em viagem.