Rumores fazem parte do folclore da Apple e inclusive ajudam a promover a marca. Afinal, que mal tem em imaginar situações e saber de conversas de corredores, mesmo que depois não se realizem? Inclusive, muitos acham que, se tiver escrito a palavra ‘rumor‘ no título, pode-se escrever o que quiser, pois o leitor estaria ‘avisado’.
O problema é quando os boatos começam a tomar ares de notícia e até a imprensa começa a repeti-los. E um boato repetido diversas vezes, pode tomar formas de verdade.
Talvez nem todos se lembrem, mas em fevereiro deste ano haviam dois rumores fortes: um iPhone nano (o eterno rumor) e o lançamento de um iPad 3 ainda em 2011. Este último nos pareceu tão absurdo, mas tão absurdo, que até escrevi um artigo opinativo sobre isso. Como que alguém poderia considerar como sério um boato sobre o iPad 3, se nem mesmo o iPad 2 tinha sido ainda lançado?
Alguns sites que se dizem especializados até chegaram a cogitar um iPad 1,5, mostrando que a imaginação psicodélica não tem limites.
Claro, tudo surgiu por causa de algumas previsões de John Gruber, um conceituado formador de opinião, conhecido por ter bons contatos dentro da Apple. Ele realmente já acertou várias vezes, mas é importante que profissionais da informação avaliem sempre uma notícia antes de publicá-la, mesmo quando ela vem de alguém conceituado.
Infelizmente não foi o que aconteceu. Os canais de imprensa (principalmente a brasileira) descobriram o filão que são os rumores sobre a Apple, que atraem milhares e milhares de leitores de fraca memória, que certamente esquecerão na semana seguinte o que é publicado hoje. O que vale é o clique que se recebe na página e não a qualidade do que está escrito nela.
“Será que isso tudo faz algum sentido? Quem se importa! Estamos nessa pelo esporte.”
Por desprezar este tipo de atitude, o Blog do iPhone (BDI para os íntimos) procura sempre filtrar as notícias para que nossos leitores recebam informações que realmente acreditamos terem certa credibilidade, pois consideramos que isso é respeitar o leitor que nos procura. O que realmente importa não é publicar 18 artigos quaisquer em um só dia, mas sim dar valor mais ao conteúdo que à quantidade.
Quando faço estes desabafos opinativos, sempre há quem pense que estou me referindo a algum blog específico. Não estou. Acho que qualquer um de vocês é capaz de listar em 3 minutos uma série de sites, blogs e até portais que entraram na rotina de apenas repetir qualquer rumor que aparece, sem tentar averiguar antes o quanto aquela informação faz ou não sentido.
Basta colocar no Google “iPhone 4S” para comprovar isso.
Tenho orgulho em dizer que este Blog interpreta as notícias que repassa, e tem a tradição de ir contra a corrente quando acha que ela está errada. Como foi o caso do antennagate, (no qual, desde o começo, chamamos internamente de death grip hysteria) em que praticamente toda a imprensa dizia que o iPhone 4 não prestava, pois tinha um defeito de fabricação (alguém lembra quando diziam que se deveria fazer um recall?). Ou no caso do iPhone branco ser maior que o preto.
Não é fácil ir contra o que o mundo inteiro está dizendo. Muita gente lhe chama de fanboy, ou até mesmo prepotente. Outros, na preguiça de pensar, apenas dizem que é mais um #mimimi.
Clique na imagem para ler os comentários da época
Voltemos à história do iPad 3. Hoje John Gruber, em seu blog, admitiu que sua “suposição estava obviamente errada“. A lógica de lançar um produto importante no final do ano até tinha sentido (tanto é que parece que a Apple acabou seguindo-a com o iPhone 5), mas dizer que haveria dois modelos de iPads no mesmo ano, foi um erro. Erro este que toda a imprensa seguiu e publicou, sem questionar.
Mas como questionar um rumor, se ele é só um rumor? Bem, se algum profissional acha que rumores sem sentido mereçam o mesmo espaço que as notícias reais, então talvez o conceito de jornalismo tenha mudado bastante nesses últimos anos. E como determinar se um rumor (que é algo que ainda não existe) tem sentido ou não? Bem, conhecendo bem o assunto no qual se é especialista. No caso da Apple, basta conhecer a história dela para imaginar o que é ou não provável, como fizemos aqui.
O problema da internet é que tudo é livre, todos tem voz e as notícias voam. Com isso, todo o site quer ser o primeiro a publicar o que aparece por aí, exatamente como fazem alguns indivíduos que possuem o estranho prazer de escrever FIRST nos comentários. A cultura do ‘first’ é um dos maus da internet hoje.
A intenção deste texto fortemente opinativo (que não deixa de ser um desabafo também) não é dizer que o BDI tem razão e os outros não. Longe disso. É mais um apelo aos colegas jornalistas e blogueiros, para não caírem no caminho fácil de só repetir boatos, sem analisá-los. O leitor não merece tamanha desconsideração.
E você, leitor, deve também fazer a sua parte. Analise, critique, processe a notícia que lê. Não acredite só em manchetes e procure ler todo o texto antes de retuitá-lo.
Pronto, já falei demais. :P