OpiniãoVision Pro

As mentiras que a Apple conta sobre o Vision Pro

Eu sempre fui um grande admirador da Apple, desde o tempo em que colocar um adesivo de maçã colorida na traseira do carro era um símbolo de resistência contra a “tirania do Windows“. Hoje, a mensagem, infelizmente, é bem outra.

E continuo admirando a marca, pois é a que ainda me dá produtos de alta qualidade que eu posso confiar.

Porém, todas essas décadas acompanhando a Apple me permitiram identificar quando o que ela apresenta é real ou é fruto do excelente marketing que a caracteriza.

Esta semana, estamos presenciando o lançamento do novíssimo Vision Pro, que promete, segundo a empresa, revolucionar a ‘computação espacial’.

Mas há algumas razões que me fazem ficar cético em relação a todo este suposto “sucesso” e ao futuro do produto. E ouvir algumas frases dos executivos da maçã me fazem ficar ainda mais desconfiado.


MENTIRA 1: O lançamento do Vision Pro é comparável ao do primeiro iPhone

Tim Cook escreveu um memorando interno para todos os funcionários da empresa, em que ele equipara o lançamento desta sexta ao que aconteceu com o primeiro iPhone.

Bem, eu discordo. E muito.

Eu não sei se o tio Tim está com memória curta ou o que, mas qualquer um que viveu naquela época e acompanhou o lançamento do primeiro iPhone lembra de como aquilo mexeu com todo mundo.

No período entre a apresentação do iPhone em janeiro, até o início das vendas em junho, só se falava disso. Até matérias no Jornal Nacional (que até então nunca tinha falado da Apple) apareceram, tamanha foi a surpresa de todos por aquele telefone que só tinha tela, sem teclado.

Isso porque, na apresentação do dia 9 de janeiro, Jobs nos mostrou coisas que nunca tínhamos visto antes. Aquela tela deslizando com um simples toque era mágico, algo de outro mundo.

O Vision Pro não chegou nem perto disso. Na apresentação, ninguém ficou admirado a ponto de achar que aquilo era mágica ou algo muito diferente do que já existe. E só esse ponto já é um grande diferencial entre o lançamento do iPhone e do Vision.


MENTIRA 2: O Vision foi pensado para conectar e aproximar pessoas

Um dos executivos da Apple, Alan Dye, veio com essa pérola em uma entrevista para a revista Wallpaper:

“… Entendemos que o produto poderia ser usado para conexão, para unir as pessoas e ajudar a enriquecer suas vidas, como fazemos com tantos outros produtos Apple.”

Se é uma coisa que o Vision não faz (e nenhum outro visor de realidade virtual) é aproximar as pessoas.

Se já é difícil hoje em dia lidar com quem está sempre de olho no celular, imagina você estar com uma pessoa vestindo um Vision Pro e vendo/fazendo coisas que você não pode ver?

A pessoa vai estar imersa em um ambiente virtual que exclui qualquer um que não esteja vestindo o aparelho.

Além disso, o Vision Pro necessita de várias adaptações para servir em cada rosto específico. Ou seja, se alguém da casa tiver um, é possível que o formato do rosto das outras pessoas que moram juntas não seja parecido com o do dono e aí só um poderá usar de forma plena, enquanto os outros ficam excluídos.

Todas aquelas imagens de você assistindo um filme no teto do seu quarto, acontecerá com você sozinho. Quem estiver com você, ficará de fora.

Isso é “aproximar as pessoas”?

MENTIRA 3: O Vision é caro porque é tecnologia do futuro

O Vision Pro custa mais do que comprar um MacBook Pro Max com 14-core CPU, 30-core GPU, 36GB de RAM e 1TB de SSD. É uma baita máquina, capaz de fazer muita coisa que o Vision não faz.

Ele é mais caro não porque “é tecnologia do futuro”, mas sim porque usa componentes internos bastante avançados que hoje em dia são caros.

E por que o argumento usado pela Apple é mentiroso? Bem, basta imaginar o primeiro iPhone.

Ele era muito mais caro que qualquer celular da época. Ele era o futuro? Era. Mas ele era mais caro porque usava “tecnologia do futuro“? Não, isso não. E a prova é que as gerações seguintes trataram de compensar suas falhas e usar componentes mais modernos que não tinham no primeiro.

As chances de isso acontecer também com o Vision pro são as mesmas.

A razão dele ser muito caro agora é uma só: ele é um produto experimental.

Tim Cook mesmo admitiu em uma entrevista que a Apple ainda não sabe bem o que fará o Vision Pro daqui uns anos, mas está lançando agora porque acredita que isso irá ajudar a evoluir o produto mais rápido.

Sim, o preço alto é para que ele não seja um produto de massa, que o mataria assim que as pessoas se dessem conta que ele não iria mudar no momento a vida delas.

Restringir o público consumidor para aqueles que realmente querem ser os primeiros a usar diminui a pressão crítica, ao mesmo tempo que permite que desenvolvedores e pessoas criativas inventem novos usos que só na realidade virtual seria possível. Aí sim teremos a tão alardeada revolução.

Mas enquanto isso não acontecer, não caia na ladainha de que você precisa dele agora, porque não precisa.


VERDADE: Está faltando alguém na história

Você verá a Apple insistindo em dizer que essa é mais uma revolução, como foi o Mac, o iPod e o iPhone. Mas isso é só discurso de marketing.

Isso porque está faltando alguém fundamental que foi essencial para essas revoluções anteriores: Steve Jobs.

Foi ele quem viu nos laboratórios da Xerox PARC algo que ninguém tinha levado a sério: a interface gráfica para computadores. Foi isso que revolucionou a informática com a chegada do Mac e sabemos que só aconteceu porque Jobs era muito obstinado.

Eu escrevi um artigo sobre isso um tempo atrás, explicando como isso não existe mais na Apple atual:

O iPod em si não era nada revolucionário. Na época inclusive tiravam sarro dele como um “pen drive MP3 gourmetizado“. Mas foi a genialidade de Jobs em somar um produto bem acabado com a ideia de facilitar a compra legal de música pela internet o que salvou toda a indústria fonográfica.

O iPhone era considerado um produto impossível de se fazer. E se dependesse de um dos protótipos apresentados no início, ele seria uma cópia barata e horrível do iPod.

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Foi a insistência de Steve Jobs e o talento de um jovem Scott Forstall (aquele expulso da Apple depois que Jobs morreu) que deram vida ao que revolucionaria o mundo da telefonia para sempre.

Então por mais que o novo Vision Pro tenha muito potencial e um dia até se transforme em algo que mude nossa forma de interagir com o mundo virtual (assim como fez o Mac, o iPod e o iPhone) o fato é que hoje ele ainda não chegou nem perto deste ponto.

E justamente por não termos mais o desajustado, o rebelde, o encrenqueiro do Steve Jobs, me faz acreditar menos de que isso irá realmente acontecer um dia.

Claro que posso estar enganado. Mas enquanto os fatos não me mostrarem isso, continuarei com um pé atrás com os discursos que a Apple atual faz sobre “revoluções“…

Tem mais alguma mentira que você acha que a Apple conta sobre o Vision Pro e eu não reparei? Me conte aqui nos comentários. 😉

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