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Há exatos 17 anos, o mundo conhecia o iPhone

Hoje, dia 9 de janeiro, completam exatos 17 anos que Steve Jobs apresentou ao mundo o iPhone, com a profética frase “Hoje a Apple irá reinventar o telefone“. Após dito isso, o mundo dos celulares e da computação nunca mais foi o mesmo.

A história da criação deste aparelho revolucionário é fascinante e é sobre ela que iremos falar um pouco neste artigo.

Um iTunesPhone antes do iPhone

Em 2004, o iPod ia muito bem, batendo recordes de vendas e se transformando em uma fatia importante do faturamento da Apple. Porém, Steve Jobs nutria um medo do que estava por vir.

Mesmo com todo o sucesso, um fenômeno crescia e poderia roubar o lugar dos tocadores de música: o celular.

Cada vez mais evoluídos, eles já estavam tirando o mercado das câmeras fotográficas digitais e para Jobs era questão de tempo até eles começarem a ser usados para tocar música também.

[Um rápido parêntesis aqui. Steve Jobs não era considerado gênio por ter inventado o iPhone, o Mac ou qualquer outro produto; eram os engenheiros que os criavam. Ele era um gênio porque tinha uma visão diferenciada do mercado e dos consumidores, antecipando o que poderia vir e sabendo como os produtos deveriam ser para agradar os consumidores. Nem o iPhone, nem o Mac, nem qualquer outro produto teria sido como foi sem Jobs coordenando a sua criação. Fecha parêntesis.]

O aparelho que pode nos detonar é o celular”, Jobs dizia. “Todo mundo anda com um celular, o que tornaria um iPod desnecessário”.

Foi então que surgiu uma parceria com a Motorola para lançar um celular com uma espécie de “iTunes mobile”, que seria capaz de levar música para qualquer lugar. Nasceu então o Motorola ROKR.

rockr

O problema é que ele era feio, difícil de carregar e tinha capacidade para apenas 100 músicas. A revista Wired até zombou dele na época, com uma capa em que perguntava “Você chamaria isso de telefone do futuro?“.

rockr

Claro que Jobs ficou uma fera. Se deu conta do erro que foi depender de outra empresa para desenvolver um produto seu e resolveu que a Apple mesmo teria que desenvolver um novo celular, do jeito que eles queriam. Nascia ali o projeto Púrpura.

Projeto Púrpura

Os projetos secretos da Apple costumavam ter codinomes de cores, para que fosse mais difícil vazar informações. Púrpura foi a escolhida para o futuro celular, que ninguém sabia como seria.

De fato, a Apple era uma gigante nos computadores, mas nunca tinha feito nada na área de telefonia, que era totalmente dominada por titãs. Investir naquilo era, sobretudo, uma aposta arriscada.

Jobs reuniu os cabeças das equipes do iPod e do Mac OS X para pensar como seria um celular da Apple.

Começaram a relacionar o que eles odiavam nos celulares da época, analisando como eles eram complicados e difíceis de interagir, com funcionalidades que muitos nem conseguiam adivinhar.

Para Jobs, a maior motivação era eles criarem um celular que eles mesmos gostassem de usar.

A abordagem inicial foi imaginar o iPod com um telefone. Eles tentaram usar o trackwheel (o disco interativo dos antigos iPods), mas discar números com ele era penoso (tinha que selecionar um por um).

Ao mesmo tempo, naquela época tinha um outro projeto secreto sendo desenvolvido, chamado “tablet 035“.

Era o estudo de um tablet com tela sensível a diversos toques simultâneos dos dedos (multi-touch) que no futuro viraria o iPad. Jobs pensou que aquilo poderia funcionar também em uma tela menor de celular e pediu para uma segunda equipe pensar nisso.

Como havia ainda muita discussão sobre qual caminho seguir, durante 6 meses as duas equipes trabalharam paralelamente.

O projeto baseado no iPod tinha o codinome de P1, enquanto o baseado no tablet 035 era chamado de P2. A letra P obviamente fazia referência à cor Púrpura.

Tony Fadell, considerado um dos pais do iPod, tinha ficado responsável pelo P1. Ele achava loucura se arriscar em uma tecnologia desconhecida como o multitoque, pois seria preciso desenvolver toda a engenharia da coisa do zero.

Ele insistiu no trackwheel, mas depois de um tempo admitiu que foi incapaz de criar uma maneira simples de fazer ligações com ele.

O P1 também tinha muitos limites, como uma tela pequena, não navegava na internet, nem rodava aplicativos. Era somente um iPod com telefone.

Confira como era o chamado “Acorn OS“, uma versão prévia do sistema do P1 que levava em consideração a mesma navegabilidade do iPod:

YouTube video

Já o P2 se baseava em um produto que nunca tinha ido ao mercado e ninguém sabia se em escala industrial funcionaria direito. Seria preciso criar toda a engenharia e software para este novo aparelho.

Depois de discussões acaloradas e muito estudo, Jobs resolveu apostar no desafio mais empolgante: criar do zero um celular completamente multi-touch. O P2 seria desenvolvido.

Clube da Luta

Dividiram a equipe em design, engenharia e software, que trabalhavam de forma completamente independente sem saber o que a outra estava fazendo. O pessoal do sistema operacional não conhecia o design do aparelho, e vice versa.

Scott Forstall pediu um andar inteiro na sede da Apple para os laboratórios de software, com portas que só podiam ser acessadas com crachás magnéticos. Eles chamavam o lugar de “Dormitório Púrpura“, pois noite e dia sempre tinha alguém lá.

Na porta de entrada, um cartaz com os dizeres Clube da Luta, uma clara referência ao filme homônimo, pois uma das regras do projeto Púrpura era nunca comentar sobre o projeto Púrpura. Com ninguém, nem mesmo com colegas ou familiares.


Quase não deu certo

Em setembro de 2006, Jobs reuniu os executivos para uma reunião importante. Ainda não tinham um produto, pois os protótipos apresentavam várias falhas.

O jornalista Fred Vogelstein, da revista Wired, descreveu a cena assim:

Estava claro que o protótipo ainda era um desastre. Não é que fosse defeituoso: ele simplesmente não funcionava. As ligações caíam o tempo todo, a bateria parava de carregar antes de estar cheia, dados e aplicativos rotineiramente ficavam corrompidos ou inutilizáveis. A lista de problemas parecia não ter fim. Ao final da demonstração, Jobs fitou as pessoas que estavam na sala, mais ou menos uma dúzia, e disse: “Ainda não temos um produto”.

Jony Ive pensou em desistir, mas não havia mais tempo para isso. Em três meses aconteceria a Macworld, cuja apresentação principal seria o iPhone.

Qualquer adiamento seria catastrófico e por isso a equipe resolveu dar tudo de si. Aqueles três meses foram os mais estressantes das carreiras daqueles profissionais.

Quando janeiro chegou, eles tinham um protótipo que funcionava razoavelmente bem e foi o que Jobs usou na apresentação.

Tanto que algumas coisas do software não estavam finalizadas e não foram para a versão final (veja quais são neste outro artigo). A apresentação foi um sucesso e deixou o mundo inteiro de queixo caído.

A grande apresentação

A Macworld Expo era uma feira de eletrônicos que acontecia sempre em janeiro, em que eram apresentados vários novos produtos.

A Apple tradicionalmente abria o evento com uma apresentação e foi justamente em 2007 que ela revelou o seu telefone ao mundo.

O aparelho iria ser lançado apenas no final de junho daquele ano, mas como tinha que passar pela homologação das agências reguladoras (e acabar sendo divulgado antes do tempo), a empresa usou o evento para anunciar o novo produto antes.

A apresentação foi uma das mais incríveis que Jobs já fez. Ele destacou que era um lançamento historicamente tão importante quanto foi o Mac e o iPod, e tinha certeza que estava iniciando ali uma nova revolução.

O sensacional jogo de palavras que fez ao dizer que eram três tipos de produtos, mas reunidos em um só, foi apenas o início de algo que ficaria marcado para todos que estavam assistindo aquela apresentação pela primeira vez.

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Colocando a empresa em risco

Eu, sendo applemaníaco de longa data, acompanhei todo este processo. O projeto do iPhone foi realmente um ato de coragem, que poucos CEOs teriam feito.

A Apple estava bem, vendendo iPods como nunca, mas decidiu entrar naquele que foi o projeto mais complicado da história da empresa. Importantes membros da equipe foram transferidos de outros projetos, o que levou a atrasos em alguns produtos e ao cancelamento de outros.

Se o tal celular não desse certo, as consequências teriam sido desastrosas para a empresa. Scott Forstall, pai do iOS, comentou: “Se o projeto fracassasse, não teríamos nada para lançar naquele ano”.

Lembro-me bem que na época muitos criticavam o fato da Apple “se aventurar” no mercado de telefonia. Como ela poderia ter a petulância de se meter em uma área em que nunca tinha feito nada, que era dominada por gigantes como Nokia, Motorola e BlackBerry?

Steve Jobs tinha este tipo de coragem, e ao mesmo tempo a habilidade nata de fazer a sua equipe acreditar de que aquilo era possível.

No fim, o que parecia quase impossível se transformou no carro-chefe da Apple, fazendo-a a maior empresa do mundo. Sem Steve Jobs, nada disso teria acontecido, pois nenhum outro CEO teria sido louco o bastante para colocar a empresa em tamanho risco.

O mesmo tipo de louco reverenciado pela campanha Think Different, que marcou a virada da empresa em 1997.

Porque aqueles que são loucos o suficiente para achar que podem mudar o mundo, são aqueles que de fato o mudam.

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