Quando eu fiquei sabendo dos preços que o iPhone 3G iria ser vendido no Brasil, fiquei indignado e escrevi uma grande matéria de protesto. Mas tive que reescrever tudo, porque apesar da confusão e desorganização das operadoras, os clientes foram em massa comprar o aparelho.
Mas independente do grande interesse do consumidor, o que se viu no país todo foi um enorme despreparo da maior parte da equipe de vendas, que muitas vezes não sabia nem mesmo informar detalhes sobre os planos específicos. Muitos vendedores confessaram que não tiveram tempo de fazer o treinamento sobre o novo aparelho, o que fez que expressões como Visual Voice Mail, GPS assistido e aplicativos da App Store soassem como grego para eles.
Nem os preços anunciados foram os mesmos. Muita gente conseguiu bons descontos ao reclamar ao telefone e ameaçar sair da operadora (pois é, isso parece funcionar para o iPhone tambem). Aqueles que tinham muitos pontos de fidelidade também conseguiram comprar por um preço reduzido.
Quanto à compra do aparelho na loja, foi ainda mais complicado. A espera para ser atendido em muitos lugares chegou a ser de até duas horas, e depois disso o atendimento ainda durava de 40 minutos até 1h30. Isso porque a ativação do aparelho era feita na própria loja.
A maior parte das lojas da Claro a venda foi a mais simples possível, o cliente entrava na estabelecimento com os documentos necessários e o dinheiro (ou cartão) e saía com o aparelho na mão. Houve alguns relatos de confusões, mas o número foi bem pequeno. Já nas lojas da concorrente, a coisa foi bem diferente.
A Vivo decidiu (por uma razão que eu não consigo entender) vender o aparelho somente para quem tinha reservado antes. Isso gerou uma situação muito desconfortável, pois o cliente ia para a loja com dinheiro na mão e vontade de comprar e acabava recebendo um NÃO como resposta. A história poderia acabar aqui, se a desorganização não tivesse tornado as coisas ainda piores.
O fato é que não houve coerência nenhuma entre a rede de lojas da operadora. Algumas barravam o cliente, outras vendiam sem problema. Essa diferença burra de tratamento gerou confusão e revolta entre os consumidores, que se sentiam discriminados com isso. Muita gente teve que brigar muito para conseguir um, ameaçando até mesmo chamar o PROCON para isso (como foi o caso do nosso leitor iphonetrueBR).
Para quem ligava na Central de Relacionamento da operadora recebia respostas diferentes, dependendo com quem falava. Muitos leitores nos reportaram que alguns atendentes diziam que era preciso se cadastrar e esperar 60 dias, outros afirmavam que bastava ir na loja e comprar sem senha nenhuma. Uma total confusão de informações.
Na matéria que eu ia escrever, eu falava que as operadoras tinham estragado o lançamento do iPhone 3G no Brasil. E estragaram mesmo. Falta de formação adequada da equipe de vendas e de atendimento, informações de última hora, reservas elitistas dos aparelhos… Simplesmente nada do que foi feito nos outros países se repetiu no Brasil.
Mas querem saber do pior? Mesmo assim funcionou!
Mesmo custando um absurdo os preços do aparelho (seja por culpa das operadoras, seja pelos impostos abusivos), os brasileiros se atiraram para comprar o iPhone como leões famintos se atiram em cima de um pedaço de carne. E digo mais: nem foi a “elite” que fez isso não. Foram brasileiros normais de classe média mesmo, que trabalham para pagar suas contas todo o mês. A “febre do iPhone” tomou conta deles e os fez querer levar o aparelho para casa custe o que custar.
As operadoras parecem saber que isso iria acontecer. Burro é quem achava (eu incluído) que os preços altos geraria uma revolta na população, obrigando a baixa de preços. Pois elas parecem conhecer melhor que nós o público deles.
[Imagem: Thiago Marinho/DP/D.A Press] [na foto, nosso leitor que sempre participa dos comentários, TiagoSouza, que foi o primeiro comprador do iPhone 3G em Recife]