Análise

Por que a Apple pode ser obrigada a permitir aplicativos instalados por fora da App Store

Desde a criação do iPhone, a Apple sempre se preocupou muito com o que poderia ser instalado no aparelho. Tanto que no início Steve Jobs nem queria aplicativos de terceiros, dizendo que tudo poderia ser feito através de páginas web.

Esta preocupação tinha uma lógica: como a Apple estava se aventurando em uma indústria que nunca tinha colocado os pés (a da telefonia), o aparelho não poderia correr o risco de que agentes externos causassem instabilidades no sistema, pois isso mancharia a então desconhecida reputação do iPhone.

Afinal, se o iPhone se mostrasse lento e travando no início, todos concordariam que a Apple não deveria se meter no mundo dos celulares. Por isso, o sistema inicialmente era completamente fechado.

Mas o jailbreak mostrou ao mundo que o celular da Apple tinha potencialidade de ser um verdadeiro computador de bolso. E a empresa então não teve outra saída a não ser lançar sua própria loja de aplicativos, para que todos pudessem instalar outras coisas além daquilo que vinha com o sistema.

Então, um ano depois do lançamento, o iPhone passou a permitir a instalação de apps de terceiros, o que revolucionou o mundo mobile de tal maneira que permitiu a criação de serviços que hoje são considerados fundamentais, como Uber, Twitter, WhatsApp, Waze e tantos outros.

Mas a Apple ainda tinha medo do dano que aplicativos mal feitos poderiam causar no sistema. Foi então que ela determinou regras rígidas para poder instalar apps no iPhone.

Nascia a App Store

Primeiro, ela forneceu um SDK, que é um pacote de programação que, ao mesmo tempo que facilita a criação de apps, também impõe parâmetros para serem seguidos.

Depois, ela criou apenas um único canal, gerenciado totalmente por ela, para instalar aplicativos em seu celular: a App Store.

Estabelecendo uma forma única de instalação, a Apple tinha assim a garantia que tudo passaria pelo aval dela. Qualquer desenvolvedor que quisesse publicar um app para iPhone, teria que mandá-lo primeiro para a aprovação dos engenheiros da maçã, para só então publicar na App Store.

Quem quisesse publicar de graça, não pagaria nada (a não ser a licença anual de $99). Porém, quem decidisse cobrar pelo app, deveria repassar 30% dos seus ganhos, como forma de “pagar os custos da estrutura” da loja.

No início, ninguém reclamou. Isso porque era um mercado completamente novo que estava nascendo, e a Apple dava uma estrutura completa até mesmo para programadores independentes, com sistema de pagamento integrado e distribuição para o mundo inteiro.

Qualquer menino de 12 anos poderia criar um app no quarto de sua casa e fazer sucesso em diversos países. E coisas do tipo realmente aconteceram.

A coisa começou a complicar quando as gigantes da indústria resolveram que não queriam mais pagar uma taxa para a Apple.

Comissão da discórdia

Quando o mercado de aplicativos mobile explodiu, as grandes empresas também quiseram entrar na brincadeira.

Mas elas, diferentemente dos pequenos programadores, já tinham sua própria estrutura de distribuição e faturamento, e não precisavam pagar um terceiro para ter isso.

Então, a tal comissão de 30% começou a incomodar.

Campanhas de marketing foram feitas, para tentar convencer o usuário de que a Apple estava sendo abusiva e autoritária ao obrigar o pagamento de taxas extras para rodar um aplicativo.

Vimos todo o circo que a Epic montou para que esses 30% não fossem mais para o bolso da Apple, nem para o do consumidor, e sim para o seu próprio.

Em 2020 então a Apple reduziu sua comissão pela metade para pequenos desenvolvedores, mas a este ponto o lobby na Comunidade Europeia já estava forte, o que resultou em medidas para proibir a Apple de manter seu monopólio na instalação de aplicativos no iPhone.

E é bem provável que a maçã seja obrigada a ceder.

Mudanças no iOS 17

O site Bloomberg diz que o próximo iOS 17 já está sendo preparado para que permita a instalação de aplicativos mesmo eles não estando na App Store.

O chamado sideloading é a instalação normal de apps, como sempre aconteceu nos computadores. Basta você encontrar um link na internet e instalar o aplicativo no aparelho.

E o iOS 17 pode entrar para a história como sendo o primeiro sistema a permitir algo do tipo, de forma oficial.

Isso seria para evitar problemas futuros com a legislação da União Europeia, que está sendo bem dura quanto a este tipo de monopólio.

É uma situação complicada, pois isso impediria que a Apple garantisse, por exemplo, a proteção à privacidade do usuário. Não seria mais possível controlar se um aplicativo instalado está roubando informações do aparelho sem ninguém saber.

E aí alguém argumenta: “É só não instalar nada de fora da App Store, ora!“. Bem, isso é fácil de dizer para um usuário experiente, mas para a grande massa que não está tão familiarizada com questões técnicas, talvez encontre dificuldades em entender que um link recebido por e-mail ou WhatsApp pode representar um perigo digital.

Temos que esperar para ver como a Apple irá resolver essa questão.

Do jeito que ela é, esta porta será aberta, mas não ficará sem vigilância. Ela provavelmente encontrará uma maneira de escapar de punições da legislação, sem perder totalmente o controle da situação.

Eu estou bem curioso e não vejo a hora do dia 5 de junho chegar, para conhecermos finalmente qual será essa solução.

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