Como previsto, a nossa novela do protótipo continua com fortes emoções! :P
A notícia que causou rebuliço na internet ontem a noite foi a invasão que a REACT (Rapid Enforcement Allied Computer Team — polícia da Califórnia especializada em investigar crimes digitais) realizou na casa de Jason Chen, aquele mesmo que aparece no vídeo revelando o protótipo do iPhone 4. Foram confiscados 4 computadores, dois servidores, discos externos e telefones.
A invasão aconteceu na noite de sexta-feira, dia 23, através de um mandado de busca e apreensão. Como não havia ninguém na casa naquele momento, tiveram que arrombar a porta. No momento, ninguém foi acusado de nada e o processo ainda é investigativo.
Mas porque só ontem (segunda) o Gizmodo comentou o fato?
O blog americano alega que a invasão da polícia viola a seção 1524 (g) do Código Penal da Califórnia — o código de protecção dos jornalistas. Além disso, a seção 1070 do Código California protege os jornalistas de terem de revelar as fontes de informação quando um tribunal está fazendo descobertas. Com isso, os advogados do Gizmodo conseguiram uma liminar para paralisar as investigações, até que se avalie se esta lei pode ser aplicada ou não.
Porém, o buraco aqui é mais embaixo. Se o Gizmodo não tivesse assumido que pagou US$5.000 por um aparelho considerado roubado e cujo proprietário real ele sabia quem era, aí sim podería proteger sua fonte de informação. Porém, ao confessar que cometeu um crime (segundo as leis da Califórnia), o blog deve sofrer as consequências penais. Afinal, em nenhum lugar do mundo o jornalismo dá imunidade criminal.
Se o alvo das investigações fosse somente a pessoa que encontrou (ou roubou) o protótipo, a polícia não poderia ter invadido a casa de Chen, apenas convocá-lo para um depoimento. Mas ao existir um mandado de busca e apreensão, deixa claro que a justiça está considerando os envolvidos como réus e não apenas como jornalistas que informaram sobre o protótipo.
Uma das coisas que a investigação policial pretende procurar nos computadores de Chen é o histórico de acesos à internet, como cache de páginas e de buscas. Ela pretende assim averiguar se o Gizmodo teve acesso ao dispositivo ANTES de comprá-lo.
Enquanto isso, a Gawker Media (gestora do Gizmodo) tenta usar todos os meios que pode para impor o seu ponto de vista e distorcer um pouco os fatos. O Yahoo News publicou ontem uma matéria intintulada “Qual o papel da Apple Inc. na força-tarefa que investiga o caso do protótipo do iPhone?“, afirmando que a Apple é uma das 25 empresas que fazem parte do comité de direção da REACT. Porém, John Gruber destaca que o editor do Yahoo News, John Cook, tomou posse do emprego há pouco tempo. Quem era seu antigo patrão? Gawker Media. Coincidência?
Para deixar claro, não estamos aqui reclamando que o Gizmodo tenha revelado o futuro iPhone; até gostamos disso. Mas o que está sendo discutido é até onde a ética (ou a falta dela) pode justificar o jornalismo. O Giz é um site que apresenta informações interessantes, mas que nunca prezou muito por coisas moralmente corretas (ensinando inclusive como colar em provas de colégio).
Ao menos, toda esta novela está servindo para refletirmos sobre tudo isso.