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Review “The New Look”: Alta Costura e Baixa Profundidade

A série “The New Look”, disponibilizada na Apple TV+ e com a assinatura criativa de Todd A. Kessler, prometia ser uma exploração intrigante do impacto da Segunda Guerra Mundial na indústria da moda em Paris.

Ao escolher como protagonistas Christian Dior e Coco Chanel, interpretados respectivamente por Ben Mendelsohn e Juliette Binoche, a série apontava para uma promessa de desvendar não apenas o glamour, mas também as complexidades morais que se entrelaçavam no mundo da alta costura sob a ocupação nazista.

No entanto, após conhecer a série, o que se revela é uma oportunidade grandemente perdida, marcada por escolhas narrativas questionáveis e um tratamento superficial de temas profundos.

A ideia era boa, mas…

A proposta de The New Look de narrar “a história de como a criação ajudou a devolver o espírito e a vida ao mundo no pós-guerra” carrega um potencial indiscutível.

A moda, afinal, é um reflexo da sociedade, capaz de expressar tanto a resistência quanto a conformidade. Dior, com seu desejo de revitalizar a beleza feminina pós-guerra através de sua lendária coleção de 1947, e Chanel, com sua trajetória controversa de colaboração com os nazistas, oferecem um contraste fascinante.

No entanto, a série falha em explorar a profundidade desse contraste, optando por uma abordagem que negligencia os detalhes cruciais do artesanato de Dior e do empreendedorismo de Chanel, além de seu impacto duradouro na moda.

O ritmo lento e a escolha de focar em aspectos já familiares do cenário da Segunda Guerra Mundial, sem oferecer novas perspectivas ou aprofundamento nas nuances do período Vichy, deixam a desejar.

Enquanto Dior se mantém à sombra de seu mentor, vestindo as esposas dos oficiais alemães, e Chanel se envolve com um oficial nazista de alta patente em uma tentativa de manipulação empresarial, a série perde a chance de explorar a complexidade dessas escolhas em meio ao caos moral da época.

Duas histórias separadas

Já o primeiro episódio de “The New Look” estabelece uma premissa repleta de expectativas com o retorno de Coco Chanel a Paris em 1955, após anos de exílio na Suíça, e a ascendência contínua de Christian Dior no mundo da moda.

Este momento poderia ter sido o ápice de um confronto épico entre dois gigantes da alta costura, marcando um duelo de visões e estilos que moldaram a moda do século XX.

No entanto, a escolha de retroceder ao ano de 1940 e seguir caminhos narrativos separados para cada designer acaba diluindo o impacto potencial dessa rivalidade.

Em vez de um embate direto que poderia explorar as tensões e o dinamismo entre Chanel e Dior, o espectador é levado a uma jornada fragmentada, onde a conexão entre os dois parece tênue e a promessa de um duelo de titãs fica em segundo plano.

A decisão de separar as trajetórias de Chanel e Dior, especialmente após estabelecer o palco para um reencontro significativo em Paris, gera uma sensação de oportunidade perdida.

A narrativa separada nos deixa quase como se estivéssemos assistindo a duas séries distintas que compartilham apenas o contexto histórico, mas não a interação ou a influência mútua entre seus protagonistas.

Essa abordagem não apenas enfraquece a dinâmica entre Chanel e Dior como também subestima a complexidade de suas respectivas respostas aos desafios impostos pela guerra.

Ao invés de tecer uma rica tapeçaria de rivalidade, resiliência e reinvenção, “The New Look” opta por um caminho que, embora seguro, deixa de capturar a essência vibrante e as sutilezas que definiram a era dourada da moda parisiense.

Suavizando o terror da guerra

A representação de Chanel é particularmente problemática.

Ao abordar sua colaboração com o Terceiro Reich, “The New Look” escolhe um caminho de suavização e quase justificação, uma decisão narrativa que não só compromete a autenticidade histórica, mas também desvia do potencial de uma análise crítica mais profunda.

A fuga de Chanel para a Suíça e sua subsequente negação das traições são retratadas de maneira quase superficial, privando a série de uma camada de complexidade emocional e moral que os personagens e a história merecem.

A sua colaboração com os nazistas foi historicamente relatada no livro biográfico “Dormindo com o Inimigo, de Hal Vaughan.

Esqueceram de falar de moda

O que mais surpreende, porém, é a falta de atenção à genialidade e talento de Dior e Chanel como pilares da moda.

Suas contribuições inovadoras, que moldaram não só a estética de uma era, mas também a própria indústria da moda, são relegadas a um plano de fundo nebuloso, substituídas por uma narrativa que se perde em clichês e simplificações.

Em última análise, “The New Look” representa uma oportunidade perdida de explorar a interseção entre moda, história e moralidade de maneira significativa.

Ao invés de oferecer insights sobre como a moda pode servir como forma de resistência ou capitulação, a série se embrenha em uma narrativa que falha em capturar a essência e o impacto de seus protagonistas.

O resultado é uma série que, apesar de contar com performances competentes e uma produção visualmente rica, não consegue fazer jus à complexidade do tema que se propõe a explorar.

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