Seis anos sem Steve Jobs
Hoje, 5 de outubro, marca a data de morte de Steve Jobs, uma das figuras mais importantes da tecnologia moderna. E apesar das previsões catastróficas que se fazia no final de 2011, a Apple continua mais viva do que nunca.
Mas estar viva não significa estar melhor. Para escrever este texto, sou obrigado a abordar dois lados: o dos números e o da alma.
A alma criativa
Por mais que Tim Cook insista em afirmar que “o DNA da Apple é o mesmo do tempo de Jobs“, é bem visível que a empresa perdeu o brilho criativo que sempre marcou a sua história. Seus produtos não são mais surpresas (até por conta dos rumores e vazamentos) e nem são coisas muito diferentes dos concorrentes.
É claro que a evolução tecnológica tem um limite e não podemos querer revoluções a cada 12 meses, porém, o que a Apple vem apresentando ultimamente não tem mais deixado ninguém com aquele brilho nos olhos.
A causa disso talvez seja explicada através de um texto que escrevi aqui no início do ano. Muito mais que ser criativo e com uma cabeça única, Jobs era um obcecado.
Tinha uma visão diferenciada das coisas e obrigava a todos que trabalhavam com ele a seguirem a mesma obsessão, até chegarem onde ele queria. E isso não era diferente de outros personagens históricos como Charles Chaplin, Picasso ou Ayrton Senna.
A equipe tinha que chegar naquele objetivo determinado, mesmo que isso custasse casamentos ou desgastes psicológicos.
O efeito WOW que tínhamos era fruto da busca das coisas que surpreendiam Jobs.
Os produtos eram fantásticos porque Steve buscava isso, sempre. Ele chegou a comentar uma vez que eles procuravam fazer produtos legais para eles, acima de tudo, independente se iria ou não vender depois. E esta fórmula foi ótima para nós, usuários.
Jobs tinha a coragem de dizer não para o que o mercado impunha, sabendo que para isso teria que apresentar algo melhor.
Nunca teríamos um telefone sem teclado físico se Tim Cook fosse o líder em 2008. Nem mesmo um sistema que não rodasse o Adobe Flash, pois tinha que ser muito forte para aguentar tamanha pressão de todos.
Jobs tinha, e graças a ele a Apple conseguia fazer muitas coisas contra a maré, que acabaram mudando o mercado.
Não que a empresa hoje tenha deixado completamente de inovar (seus produtos continuam muito bons, apesar do que os haters afirmam), mas o que vemos atualmente são novidades mais frias e técnicas, menos emotivas. Jobs ressaltava sempre que a Apple deveria ser feita por artistas, mais do que por técnicos.
Isso é fácil de visualizar se analisarmos tecnicamente o primeiro iPhone.
Suas especificações não eram superiores ao que havia disponível na época. Ele não era compatível com rede 3G, tinha uma câmera traseira limitada que não fazia vídeo, não enviava MMS, não tinha nem ao menos um copiar/colar. Porém, ele tinha uma magia que mudou a forma como encarávamos os celulares.
Ele revolucionou mais pela maneira que ele interagia com o usuário do que propriamente por superioridade técnica. E são essas sacadas geniais que estão cada vez mais escassas na Apple.
Números estratorféricos
Apesar disso, hoje ela é uma das empresas mais ricas do mundo. Provavelmente seria também se Steve Jobs estivesse vivo, mas Tim Cook teve o talento de administrar bem uma empresa que todos achavam que ficaria sem líder, sem rumo.
Cook é mais técnico, mais humano.
Provavelmente hoje é muito mais agradável de se trabalhar na Apple do que na época de Jobs, mas em contrapartida, as revoluções viscerais que eram resultados de enormes esforços humanos, ficam cada vez mais raras.
Ninguém mais vai deixar de passar seu tempo livre com a família, vivendo, ao invés de ficar trancado semanas em uma sala tentando descobrir a próxima revolução tecnológica. E isso, vendo pelo lado humano, é muito bom.
Seja como for, meu lado egoísta e nada humano sente falta de Jobs. O mundo tecnológico perdeu muito depois que ele se foi. E as keynotes da Apple também.