Tim Cook explica as razões de ter ido ao encontro com Trump
Na semana passada houve o encontro entre o presidente norte-americano recém-eleito Donald Trump e os top-executivos das principais empresas de tecnologia. Nele, ficou notoria a insatisfação de Tim Cook em estar presente, o que era visível pelas expressões de seu rosto em todas as fotos.
Ontem, o site TechCrunch revelou o conteúdo de um comunicado interno que Tim enviou a seus funcionários, em que explica as razões que o levaram a se encontrar com o futuro presidente do país.
“Você não muda as coisas apenas gritando”
Eu seu comunicado interno, Tim Cook justificou a sua ida ao encontro com Trump. Isso porque é notório que o futuro presidente bateu forte em diversas empresas de tecnologia durante a campanha, inclusive a Apple. Questionou a insistência da empresa em não ceder ao FBI na questão de San Bernardino, além de dizer que a Apple não estava sendo patriota ao produzir seus produtos na China. Sem contar outros pontos racistas e polêmicos do candidato, que vão contra o que a Apple sempre pregou.
Cook afirmou que estava lá porque não adianta ser contra um governo e ficar trancado dentro da sua sala; é preciso estar presente, mostrar a sua voz, fazer as coisas acontecerem, e isso só é possível através de diálogo e debate. Ele tratou rapidamente de deixar claro que estava lá não porque baixou a cabeça e aceitou tudo o que Trump pensa em fazer, mas sim para ocupar sua posição de força naquilo que a empresa acredita.
Tim enfatizou que a Apple já cria um número considerável de empregos nos Estados Unidos (2 milhões, segundo ele), principalmente ao oferecer a oportunidade de muitos serem desenvolvedores de aplicativos e venderem sua obra para o mundo inteiro.
Outro ponto que o Tim enfatizou foi na questão da mudança de lei que evita que os chamados patent trolls (que são empresas que nunca lançaram nada, mas processam outras empresas só porque tiveram uma ideia parecida no passado) processem outros se eles nunca lançaram efetivamente o produto. Isso me fez lembrar o caso iphone Gradiente, em que a empresa brasileira teve que lançar um hardware qualquer às pressas para não perder o direito de disputar a marca (leia mais sobre esta novela aqui).
Cadastro de muçulmanos
Na reunião com Trump, não foi divulgado o que ele conversou reservadamente com os executivos presentes, mas a imprensa levantou uma questão sobre uma das promessas de campanha: um cadastro digital de muçulmanos. No começo do mês, 22 advogados que defendem grupos de direitos humanos enviaram cartas às principais empresas de tecnologia, para que elas se posicionassem em relação a esta intenção do futuro presidente.
Algumas empresas se manifestaram oficialmente contra este tipo de registro, inclusive a Apple:
Nós achamos que todas as pessoas devem ser tratadas da mesma maneira, não importando quem elas veneram, como elas se parecem ou quem amam. Nós não fomos convidados [a ajudar neste cadastro de muçulmanos] e nós nos opomos a tal esforço.
Diversos funcionários de empresas tech também assinaram uma carta repudiando a criação de qualquer tipo de cadastro de cidadãos para individuar raça, religião ou sua origem.
Comunicado interno
Eis a íntegra do comunicado de Tim Cook, em forma de pergunta-resposta:
Na semana passada você e outros lideres de tecnologia se encontraram com o presidente-eleito Donald Trump. O quão importante é para a Apple o engajamento com governos?
É muito importante. Os governos podem afetar a nossa capacidade de fazer o que fazemos. Podem afetar de maneiras positivas e de maneiras não tão positivas. O que fazemos é focar nos princípios. Algumas das nossas principais áreas de foco estão em privacidade, segurança e educação. Foco em defender os direitos humanos para todos, e expandir a definição de direitos humanos. Foco no meio ambiente e luta contra as alterações climáticas, algo que fazemos ao usar 100% de energia renovável em nossa empresa.
E, claro, criar empregos é uma parte fundamental do que fazemos, dando oportunidade às pessoas. Não só aquelas que trabalham diretamente para a Apple, mas um grande número que estão em nosso ecossistema. Estamos muito orgulhosos de ter criado dois milhões de empregos neste país. Uma grande porcentagem deles são desenvolvedores de aplicativos. Isto dá a todos o poder de vender o seu trabalho ao mundo.
Temos outras coisas que são mais centradas em negócios — como a reforma fiscal — e algo que há muito temos defendido: um sistema simples. E gostaríamos que a reforma da propriedade intelectual tentasse impedir que pessoas criem processos quando não fizerem nada como empresa.
Há um grande número de questões e a maneira como você pode fazê-las avançar é se engajar. Pessoalmente, eu nunca achei que ficar de fora [dos problemas] fosse um lugar bem sucedido para estar. O jeito que você influencia essas questões é estar na arena. Então, se é neste país, ou na União Européia, ou na China ou na América do Sul, nós nos envolvemos. E nos envolvemos quando concordamos e quando discordamos. Eu acho que é muito importante fazer isso porque você não muda as coisas apenas gritando. Você muda as coisas mostrando a todos por que seu caminho é o melhor. No fim, é um debate de ideias.
Fincamos o pé pelo que acreditamos. Achamos que é uma parte fundamental do que a Apple é. E continuaremos a fazê-lo.
Engajamento é a palavra
A mensagem de Tim Cook é bem bonita, independente se a Apple vai conseguir resistir à pressões do governo ou não. Não adianta ficar reclamando nas redes sociais e comentários de blogs sobre a situação ruim, temos que levantar o traseiro da cadeira e estar onde possamos mudar alguma coisa. Xingar muito no Twitter ou dar likes no Facebook não muda o mundo de ninguém, nem o seu, nem o meu. ;)