A Apple está prestes a enfrentar uma das mudanças mais impactantes em seu ecossistema desde o lançamento da App Store. E o responsável por isso não é um concorrente direto, mas a União Europeia.
Para cumprir as exigências da Lei de Mercados Digitais (DMA), a empresa terá que permitir que usuários escolham assistentes de voz alternativos como padrão em seus dispositivos — um golpe direto na exclusividade da Siri no iPhone.
A mudança, embora ainda restrita inicialmente ao mercado europeu, abre um importante precedente histórico. Pela primeira vez, o controle da Apple sobre uma parte central da experiência do iPhone está sendo quebrado por força de lei.
Isso significa que usuários poderão definir o ChatGPT, o Gemini (do Google) ou qualquer outro assistente compatível como padrão, substituindo completamente a Siri em ações acionadas por voz.

Siri enfraquecida, concorrência fortalecida
O problema para a Apple é que a Siri não está em seu melhor momento. A assistente, lançada com estardalhaço em 2011, está anos atrás de rivais baseadas em IA generativa, como o próprio ChatGPT.
A Apple prometeu uma reformulação completa com o projeto Apple Intelligence, mas os atrasos vêm se acumulando, e muitos dos recursos anunciados em 2024 ainda não chegaram aos usuários — e nem estarão prontos a tempo da WWDC de 2025.
Enquanto isso, as alternativas estão se tornando cada vez mais atraentes. O ChatGPT já oferece uma experiência de conversa mais fluida, com compreensão de contexto e integração com dados em tempo real.
O Google Gemini segue a mesma linha, e a Apple está inclusive planejando integrá-lo ao iOS 19 como uma opção de IA nativa. E até o Perplexity mostrou que pode ser melhor que a Siri, caso pudesse vir integrada ao sistema.

Com a abertura do sistema, nada impede que um usuário europeu diga “Ok ChatGPT” ou “Hey Gemini” e tenha uma resposta mais eficaz do que teria com a Siri.
Se essa experiência se provar superior — e tudo indica que será —, o risco de abandono do assistente da Apple é real.
A batalha dos assistentes: risco e oportunidade
Para a Apple, o impacto vai além da perda simbólica.
A assistente de voz é vista como a próxima grande interface de interação com dispositivos, substituindo gradualmente o toque e até mesmo a busca tradicional.
Quem dominar essa interface dominará o acesso às informações, aos apps e, em última instância, ao próprio ecossistema digital dos usuários.
Ao permitir que a Siri seja trocada, a Apple pode estar entregando esse controle a rivais que não apenas são tecnicamente mais avançados, mas também têm modelos de negócios que competem diretamente com a App Store e os serviços da Apple.
Por outro lado, essa pressão pode forçar a Apple a agir com mais urgência e abrir espaço para inovações reais, algo que seus próprios executivos já reconhecem como necessário.
A empresa está, nos bastidores, desenvolvendo uma versão totalmente reformulada da Siri com base em LLMs (modelos de linguagem de grande escala), batizada internamente de LLM Siri.
Mas até que ela esteja pronta, o risco de perda de relevância continua.
E você, trocaria a Siri por outro assistente no seu iPhone se pudesse?