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Filha de Steve Jobs lançará livro de memórias sobre seu pai. Leia alguns trechos

Lisa Brennan-Jobs nasceu de um namoro que Steve Jobs teve com sua colega de ginásio Chrisann Brennan, nos primórdios da Apple. Com seu temperamento sempre intempestivo, Jobs demorou para acreditar que aquela menina era realmente dele, tanto que precisou ser obrigado pela justiça a fazer um exame de paternidade para realmente assumi-la.

Depois de alguns anos, os dois começaram a ter mais contato e ela até passou a frequentar a casa da nova família de Jobs, mas mesmo assim a relação entre eles teve momentos bastante conturbados, como sugere o filme ‘Steve Jobs‘.

E é sobre estes detalhes que a própria Lisa relata em seu mais novo livro autobiográfico, intitulado ‘Small Fry‘ (ainda sem tradução para o português).

Previsto para chegar às lojas no dia 4 de setembro, o livro conta diversas passagens marcantes na vida de Lisa com o seu pai, que descrevem com profundidade a relação entre eles.

O crítico americano Philip Lopate descreve o livro como “mais esclarecedor, fascinante, honesto, pouco sentimental e triste do que qualquer autobiografia que eu tenha lido nos últimos anos. Nenhum outro livro ou filme capturou Steve Jobs de maneira tão distinta como este“.

Apesar de inicialmente negar ser o pai, Jobs ajudou a escolher o nome da menina. Lisa, depois de alguns anos, chegou a questionar à sua mãe sobre a razão dele ajudar a escolher o nome mesmo achando que não era o pai legítimo. Chrissan respondeu: “Porque ele era seu pai“.

É notória a história do computador Apple Lisa, lançado em 1983.

Ele era revolucionário por ser o primeiro a incluir conceitos de interface gráfica inspirados nas criações do Xerox PARC (com janelas e o uso do mouse), que depois acabaram sendo transferidos para o Macintosh.

A escolha do nome foi feita pelo próprio Jobs, mas ele por muitos anos negou veementemente que era por causa da filha. Inventou que era uma sigla para Local Integrated Software Architecture.

Durante o tempo que minha mãe estava grávida, meu pai começou a trabalhar num computador que mais tarde seria chamado de Lisa. Foi o precursor do Macintosh, o primeiro computador do mercado com um mouse externo — o mouse era tão grande quanto um bloco de queijo. Mas ele era caro demais, foi um fracasso comercial.

Meu pai trabalhou nele no início, mas depois passou a trabalhar contra ele, competir com ele na equipe do Mac. O Lisa foi descontinuado, os 3.000 computadores não vendidos mais tarde foram enterrados em um aterro em Logan, Utah.

Lisa teve uma infância bem modesta economicamente, ao contrário do fato do pai ser quem era já naquela época. Um dia ela tentou se vangloriar do pai na escola, mas não deu muito certo.

“Eu tenho um segredo “, disse aos meus novos amigos na escola. Eu sussurrei para que eles vissem que eu estava relutante em mencionar isso. “Meu pai é Steve Jobs”.

— “Quem é ele?”, um perguntou.

— “Ele é famoso”, eu disse. “Ele inventou o computador pessoal. Ele vive em uma mansão e dirige um Porsche conversível. Ele compra um novo toda vez que encontra algum risco na lataria”.

A história tinha um ar de ficção para eles, e até para meus próprios ouvidos. Não tinha saído com ele tanto, só alguns passeios de patins e visitas. Eu não tinha roupas ou bicicletas de alguém com um pai destes teria.

— “Ele até nomeou um computador com o meu nome”, eu disse.

— “Qual computador”, uma menina perguntou.

— “O Lisa”, eu disse.

— “Um computador chamado Lisa? Nunca ouvi falar”, ela respondeu.

Com a grande dúvida que pairava na sua cabeça, Lisa um dia tomou coragem para perguntar sobre o computador que levava seu nome.

Eu estava tremendo com a necessidade de definir o mal entendido de uma vez.

— “Ei, sabe aquele computador, o Lisa? O nome dele é por minha causa?”, eu perguntei depois de muitos anos, quando eu estava no colégio e passava meu tempo entre as casas de meus pais. Eu tentei passar um ar de uma simples curiosidade, nada mais.

— “Não”. Sua voz foi curta e seca, como se eu estivesse implorando um elogio. “Desculpe, garota”.

Quando Lisa tinha 27 anos, Jobs a convidou para uma viagem de iate pelo Mediterrâneo junto com a família. Um dia eles ancoraram no sul da França, para um almoço com Bono Vox, do U2.

Almoçamos em uma varanda enorme, de frente para o mar. Bono fez perguntas ao meu pai sobre o início de Apple. A equipe se sentia viva? Sentiam que era algo grande e que iriam mudar o mundo? Meu pai disse que eles sentiram isso quando estavam fazendo o Macintosh, e Bono disse que era assim para ele e a banda também. “Não é incrível que pessoas em campos tão distantes podem ter a mesma experiência?”.

Foi então que Bono perguntou, “E o computador Lisa, levou esse nome por causa dela?”

Houve uma pausa. Eu me encolhi, preparada para a resposta.

Meu pai hesitou, olhou para o seu prato por um longo tempo e então voltou a olhar para o Bono. “Sim, foi”, ele disse.

Eu caí sentada na minha cadeira.

“Eu achava que sim”, disse Bono.

“É”, meu pai disse.

Estudei o rosto do meu pai. O que havia mudado? Por que ele admitiu agora, depois de todos esses anos? Claro que o nome era por minha causa, eu pensei. Sua mentira parecia absurda agora. Senti um novo poder que levantou meu peito.

— “É a primeira vez que ele disse sim”, eu disse ao Bono. “Obrigado por perguntar”. Como se as pessoas famosas precisassem de outros famosos por perto para liberar seus segredos.

Em sua biografia oficial, Jobs também assumiu a Walter Isaacson, anos mais tarde: “É óbvio que era o nome de minha filha”.


O livro será lançado em setembro, sem previsão ainda para ser traduzido para o português.

Fonte
Vanity Fair
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