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Período de testes na App Store está longe de ser perfeito

Na semana que passou, a Apple anunciou uma novidade muito esperada por todos: a possibilidade de testar aplicativos pagos antes de comprá-los. Há anos que os usuários pedem por isso, e agora a maçã finalmente colocou isso em prática.

Porém, a solução adotada por ela está longe de ser a ideal, apresentando diversos inconvenientes. Quem destaca isso (e com razão) é um desenvolvedor de Mac.


O princípio dos chamados “free trials” (períodos de teste gratuito) é permitir que o usuário possa experimentar a totalidade do aplicativo por um tempo determinado para lhe ajudar a decidir se vale ou não a pena pagar por ele.

Até então, a App Store sempre funcionou assim: o desenvolvedor só podia oferecer um “teste” de seu aplicativo oferecendo duas versões na loja (uma gratuita e outra paga, geralmente chamada de “Pro”). Mas essa versão gratuita, no entanto, não oferece todas as funções, com limitações claras. Como remédio, “serve”, mas os usuários sempre pediram uma maneira mais efetiva de testar qualquer aplicativo.

Solução da Apple

Para resolver isso, agora a Apple permite que desenvolvedores possam oferecer um tempo de testes antes da compra. Porém, está fazendo isso de uma forma capenga, quase como uma “gambiarra”. Na verdade, os apps aparecem na loja como gratuitos, e uma compra interna permite usar todas as funções por alguns dias antes do valor ser descontado no cartão de crédito. O usuário poderá cancelar a cobrança antes do período de testes acabar.

O desenvolvedor Daniel Jalkut, criador do app MarsEdit, escreveu um detalhado artigo apontando alguns problemas gerados pelo modelo escolhido pela Apple.

Problemas deste formato

Vamos ser francos: ainda não é a solução que todos esperávamos. Já poderemos testar aplicativos antes de pagar por eles, porém o caminho escolhido pela maçã traz vários inconvenientes, listados abaixo.

→ App gratuito sem ser gratuito

Baixar um aplicativo que aparece como gratuito na loja e depois descobrir que para desbloqueá-lo é preciso pagar, é uma coisa que geralmente frustra muitos usuários. Vários se sentem enganados e depois não perdoam nos comentários de avaliação. O benefício do “tempo de experimentação grátis” acaba soando, neste caso, mais como um consolo do que um real benefício.

É diferente de você desejar baixar um aplicativo que custa R$49,90 e descobrir que pode testá-lo gratuitamente por 14 dias antes de decidir pagar por ele. A sensação que o usuário sente é completamente outra, pois em nenhum momento se sente “enganado” pelo desenvolvedor. Mas atualmente a Apple não permite isso, pois todos os aplicativos que oferecerem teste grátis aparecerão na loja como de download gratuito.

→ Compras internas não podem ser compartilhadas

O Compartilhamento Familiar é uma funcionalidade bem legal que a Apple oferece, pois permite que membros de sua família possam usar os mesmos aplicativos que você adquiriu, sem precisar pagar de novo. Porém, tem uma limitação: a regra não vale para compras internas em aplicativos.

Aplicativos que possuam o sistema de teste grátis deverão oferecer isso através de compras internas, e neste caso outros membros da família não terão a possibilidade de desbloquear as funções, mesmo que a conta principal tenha pago o preço cheio.

Isso mata todo o benefício do Compartilhamento Familiar.

→ Nada de compras por volume

A Apple oferece um programa de compra em volume que permite que instituições educacionais e empresas comprem apps e livros em grandes quantidades (por preço menor) para distribuí-los para alunos, professores, administradores e funcionários. Porém, isso só funciona com aplicativos com preço fixo, não com compras internas. Um aplicativo que na loja aparece de graça não pode ser incluso no programa de compras por volume, pois não há como aplicar o desconto institucional. Com isso, apps que poderiam ser beneficiados com compras em grande quantidade não poderão participar do sistema de “teste grátis”, pois um incompatibiliza o outro.

→ Testes não podem ser repetidos

Digamos que você teste um aplicativo e naquele momento não ache que valha a pena pagar por ele, por não ter aquilo que você precise. Se no futuro o aplicativo ganhar uma atualização com mais funções interessantes (inclusive o que você precisa), você não poderá testá-lo novamente, pois em compras internas, quando você cancela uma vez não pode experimentar de novo.


Daniel ainda comenta outros problemas, como o fato do desenvolvedor ter que refazer seu atual aplicativo para implementar a novidade e incluir a compra interna que permita o teste grátis (gerando trabalho e em muitos casos mais custos). Ele também alega que a experiência do usuário fica prejudicada pelo fato do aplicativo não funcionar de forma completa assim que é instalado. O usuário precisa entender que deve pagar, efetivamente autorizar o pagamento e baixar os pacotes necessários. A frase “just works” é meio colocada de lado nesse caso.

O que a Apple deveria ter oferecido é uma outra maneira de testes grátis, integrada à própria loja (e não uma solução individual para os aplicativos). Com isso, o usuário saberia claramente antes de baixar que aquele seria um aplicativo pago, mas com a possibilidade de testá-lo antes. A iBook Store (que no iOS 12 está mudando de nome para Apple Books) já faz algo parecido, com dois botões diferentes de download, um para baixar o livro pago e outro para baixar uma amostra.

Desta maneira, os desenvolvedores também poderiam restaurar o período de testes, caso quisessem oferecer a possibilidade de testar novamente a quem já testou o app alguma vez.

Resumindo, é ótimo que a Apple esteja começando a relaxar mais as regras para melhorar a experiência dos usuários. Porém, é importante apontarmos quando ela ainda não faz isso com perfeição, para que ela melhore cada vez mais. Afinal, todos nós temos a ganhar quando isso acontece.

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