Apple e Qualcomm encerram sua briga na justiça, de forma amigável
Uma briga que durou dois anos, agora chega ao fim. Depois de se trocarem farpas mútuas e algumas derrotas nos tribunais de ambos os lados, Apple e Qualcomm resolveram fazer um acordo entre si e encerrar definitivamente todas as disputas judiciais.
O anúncio foi feito nesta terça-feira pela própria Apple.
A disputa
Em 2017, a Apple decidiu denunciar ao mundo uma prática que a Qualcomm fazia com todos os fabricantes de smartphones: cobrar altas taxas de licenciamento sobre tecnologias consideradas essenciais.
Essas taxas altas que fogem do conceito de licença FRAND (“fair, reasonable, and non-discriminatory terms“), que são licenciamentos com condições justas, razoáveis e não-discriminatórias para que toda a indústria possa usufruir da tecnologia padrão, permitindo que o mercado evolua.
Em resumo, quem criou a tecnologia pode cobrar para licenciá-la, desde que não seja de forma abusiva.
Explicamos mais sobre isso neste outro artigo:
Para a Apple, virou uma questão quase pessoal, por considerar a si mesma uma representante da indústria contra o que considerava uma injustiça.
A maçã conseguiu ganhar algumas causas, mas perdeu outras importantes, como na China e na Alemanha. Em ambos os países ela teve que alterar o iOS e até o hardware dos iPhones para não correr o risco de ter as vendas barradas pela justiça.
Esta briga prejudicou bastante ambas as empresas, mas de forma mais forte a Qualcomm. O fato de passar a não possuir componentes no smartphone mais famoso do mundo fez suas ações despencarem, além de uma queda considerável em suas receitas.
A Apple parecia não se render. Seus dirigentes chegaram a comentar que, se forçassem ela a fazer o que a Qualcomm queria, isso significaria uma derrota para toda a indústria.
“A Apple será obrigada a aceitar os termos impostos pela Qualcomm, fazendo com que recaia sobre todos os fabricantes de celulares o modo irracional de cobrança anterior e paguem altas taxas de licenciamento, resultando em perdas irrecuperáveis no mercado de telefones celulares.”
Para tentar não depender da Qualcomm, a Apple fez parceria com a Intel, que forneceria os modens substitutos.
Beco sem saída
Apesar de sua determinação em querer ser o arauto da justiça, a Apple ficou sozinha nessa briga. Nenhuma outra fabricante quis peitar a Qualcomm, até por serem totalmente dependentes da empresa.
Paralelo a isso, tem a questão da tecnologia 5G, que deve vir forte ao mercado a partir de 2020. Enquanto a Qualcomm já está bem à frente nesta corrida, a Intel está penando para correr atrás e apresentar o seu chip, que ela só promete para 2021. Com isso, o iPhone ficaria todo esse tempo sem o 5G, com a possibilidade da Intel atrasar ainda mais o lançamento caso não consiga cumprir o prazo.
Um iPhone sem 5G por tanto tempo, deixaria-o muito atrasado em relação aos concorrentes. Mesmo que, na prática, a tecnologia só fique realmente popular pelo mundo daqui alguns anos.
O acordo
Com tudo isso, a Apple teve que ceder. Nesta terça as duas empresas anunciaram um acordo pacífico de 6 anos, podendo ser estendido por mais 2. A maçã pagou uma quantia milionária (valor não divulgado) para retomar o licenciamento das tecnologias da Qualcomm, que voltarão ao iPhone a partir do ano que vem.
A partir de agora, todas as disputas judiciais entre as duas foram canceladas.
Após o anúncio, as ações da Qualcomm subiram 23% em um único dia, evidenciando que ela foi a que mais ganhou nessa história toda.
Como consequência do acordo entre as duas gigantes, a Intel decidiu desistir de vez de desenvolver um chip 5G para smartphones, deixando evidente que ela é incapaz de competir neste mercado, e que só estava fazendo isso por pressão da Apple.