Ontem foi um dia muito importante para Steve Jobs. Ele finalmente conseguiu concretizar um sonho pessoal que tinha há anos, desde que criou o conceito de loja virtual para vender músicas, em 2003. Não é difícil imaginar que a própria iTunes Store tenha sido originada da inspiração de ligar a Apple Computers (nome na época) à banda que inclusive influenciou no nome da empresa.
A chegada da discografia dos Beatles é algo muito importante sim, mas vamos tentar entender o porquê da grande decepção mundial do anúncio de ontem, que não se limitou apenas ao Brasil.
A relação da companhia de Jobs com a gravadora do quarteto fabuloso (Apple Records) nunca foi muito boa. A última nunca gostou do fato de usarem seu nome sem autorização e entraves jurídicos se desenrolaram durante anos. Por isso mesmo, os detentores dos direitos dos Beatles nunca permitiram, até ontem, que a Apple vendessem suas músicas em formato digital, se tornando assim um dos únicos grupos que permaneciam na “velha mídia”.
Aliás, esse era o único trunfo das mídias tradicionais: o acervo dos Beatles só podia ser adquirido em CD, DVD ou vinil. Por isso mesmo que o dia de ontem foi um marco histórico: o dia em que a música digital venceu a mídia tradicional.
A introdução do catálogo digital de uma das bandas mais importantes do século passado marca definitivamente a vitória da iTunes Store (e seu formato que revolucionou a indústria) sobre o velho e obsoleto modo de distribuição de músicas. Um marco simbolicamente histórico.
Mas se foi tão importante assim, por que a decepção geral?
Criou-se uma pequena polêmica entre os que entenderam que o dia foi mesmo importante e os que se decepcionaram com a falta de novidades significativas. Porém, a revolta da maioria tem uma explicação bastante lógica.
A Apple talvez tenha exagerado ao criar uma enorme expectativa justamente em um período que todos já estavam aguardando ansiosamente por novidades no iPhone e iPad. Foi como acender uma vela em um quartinho cheio de pólvora.
Há semanas que usuários de iPhone, iPod touch e iPad esperam pelo lançamento do novo iOS 4.2, que traz várias novidades conhecidas e talvez algumas desconhecidas. E a ansiedade aumenta ainda mais pelo fato da Apple não revelar uma data precisa para a liberação dele. Depois do suposto adiamento por causa de problemas no Wi-Fi do iPad, esperava-se que nesta semana teríamos alguma novidade a respeito.
Com todos na expectativa, a alteração de toda página principal do apple.com para um acontecimento grandioso e misterioso (leia “Apple prepara grande surpresa para amanhã, prometendo um dia inesquecível“) só poderia transformar o evento em algo bombástico, em que todos imaginassem que as novidades esperadas finalmente seriam reveladas. É normal e compreensível que todos aguardassem por uma bela surpresa.
Foi o anúncio certo no momento errado.
Será que foi proposital o uso deste momento? Talvez nunca descobriremos, mas para os usuários de iOS no mundo inteiro, foi como tirar o doce de uma criança, mesmo a Apple nunca tendo prometido que daria este doce. Mas foi o momento que criou esta expectativa, não “a mídia especializada”, como argumentam alguns. Nós mesmos tentamos aqui acalmar os ânimos de todos antecipando o que iria acontecer, mas nem isso impediu que nosso servidor entrasse em colapso por causa dos milhares de acessos simultâneos ao nosso site na hora marcada pela Apple.
Sem dúvida, o dia de ontem foi um marco histórico para a iTunes Store e a música digital, ganhando destaque em jornais e televisões do mundo inteiro. Porém, brincar com a expectativa de milhares de usuários desamparados de informações soou como uma grande brincadeira de mau gosto de Jobs.
A decepção de muitos, portanto, é justificada.
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