A questão da exploração do trabalho chinês sempre foi polêmica, principalmente como ataque à Apple, que fabrica grande parte de seus produtos na China. A imprensa às vezes se esquece que a mesma Foxconn fabrica aparelhos também para diversos fabricantes, como HP, Sony, Microsoft e Amazon, apontando o dedo para a “malvada” Apple.
Claro que para nossos padrões ocidentais, as condições de trabalho no país do rolinho primavera causam indignação por parecer algo sub-humano, mas os próprios trabalhadores lá não pensam assim e estão reclamando da possibilidade de implementarem um limite máximo de horas extras, o que diminuiria muito o rendimento mensal deles.
Uma coisa que todos nós precisamos colocar na cabeça: a diferença de cultura entre nós e os orientais é gigantesca e não podemos aplicar nossos mesmos valores a eles, que já possuem seus próprios arraigados.
Justamente por ser a mais atacada pela opinião pública (prego que se destaca leva martelada, como dizia o filósofo), a Apple resolveu contratar uma empresa independente para fazer uma auditoria nas condições de trabalho nas fábricas da Foxconn. Isso até rendeu um programa especial na TV americana, acompanhando esta auditoria.
O resultado da investigação não foi nada favorável à fábrica: todas as três unidades da companhia desrespeitam o limite legal de 60 horas semanais de trabalho (somando horas normais com as extras), sendo que em época de pré-lançamento de produtos, praticamente todos os funcionários passam deste limite, sem direito a um dia de repouso na semana.
A Apple, obviamente, resolveu agir. Exigiu que a Foxconn tomasse uma posição quanto às irregularidades e a mesma já anunciou que irá diminuir a quantidade de horas extras de seus funcionários, para se enquadrar às leis. O próprio Tim Cook resolveu ir até uma das fábricas para ver de perto como andam as condições dos trabalhadores.
A associação Human Rights First elogiou muito a medida e disse em declaração que todas as empresas deveriam seguir o exemplo da Apple em relação à preocupação com as condições de trabalho na China.
Mas não é o que pensam os concorrentes da Maçã. Amazon, Dell, HP e Sony podem sofrer com este tipo de intervento humanitário, pois isso tende a aumentar os custos de produção nos países asiáticos, reduzindo muito a margem de lucro destas empresas. Tudo, como se vê, gira em torno do dinheiro.
Outros que não parecem muito contentes com essas decisões são os próprios empregados da Foxconn. O jovem Chen Yamei (25 anos) foi ouvido pela Reuters e disse que ele e seus colegas não estão contentes de limitarem as horas extras à 36 horas mensais, quando antes se fazia 60. Muitos são oriundos de famílias rurais pobres e o dinheiro a mais vindo com o trabalho extra ajudava muito na receita familiar. Trabalhar menos para eles significa ganhar menos.
E então? Quem é vilão e quem é mocinho nesta história toda? Você pagaria mais por um gadget eletrônico (seja iPhone, Android ou Playstation) se ele viesse de uma fábrica que respeita os trabalhadores e não os explora? Será que a responsabilidade é só de quem manda fabricar ou é também de quem compra (sim, estou falando de você) estes produtos vindos da China?