Para quem pensava em comprar um iPad ou um iPhone nos Estados Unidos, podia contar até ontem com uma ferramenta muito legal: um site que indicava exatamente onde tinha o aparelho desejado em estoque, facilitando muito a procura. Mas a Apple começou a proibir este tipo de site. Por que?
Apesar de ser algo muito prático, este tipo de ferramenta causa um grande problema para a Apple, além de desrespeitarem os Termos de Uso da empresa. E temos uma explicação bem plausível para os motivos que levaram a Maçã a proibir isso.
Entenda o caso
O site mais popular do tipo, o Apple-tracker, fazia o levantamento quase em tempo real de todas as Apple Stores nos Estados Unidos para analisar seus estoques. Com isso, quem queria comprar um iPad Air, por exemplo, sabia exatamente onde encontrá-lo. Como o site fazia isso? Ele tinha um script que buscava automaticamente no site da Apple Store todas as disponibilidades, listando assim o resultado.
Bom para o consumidor e bom para a Apple, certo?
Mas os advogados da empresa enviaram uma requisição pedindo a retirada da ferramenta, pois ela desrespeita os Termos de Uso do site da Apple que proíbem a utilização de scripts e robôs que acessam de forma automática (e direta) links não públicos.
É bobagem da Apple, certo? Errado.
“Túnel de compra”
Claro que a primeira reação de muitos é reclamar, dizendo que a Apple está sendo autoritária e mesquinha. Mas o buraco é bem mais embaixo do que aparenta. Tem a ver com o departamento de marketing de vendas da loja.
O que temos que ter na cabeça, antes de tudo, é que a venda online é algo muito (repito, MUITO) mais complexo do que a maioria dos usuários pensam, indo além de simplesmente disponibilizar o produto no site e pronto. As empresas que possuem lojas na internet contam com diversas ferramentas de estudo do cliente, desde a primeira visita até a compra final. O estudo deste “caminho” (também chamado de túnel de compra ou conversion funnel) começa no acesso do cliente até a conclusão da venda e é primordial para as empresas analisarem as etapas da compra e melhorarem no que for preciso. Por exemplo, se for comum o cliente chegar na loja virtual, colocar produtos no carrinho, mas no final não finalizar a compra, isso pode significar que a propaganda que levou o usuário até o site está eficiente, mas algo dentro da loja o deixa confuso ou insatisfeito. Com isso, as equipes de marketing analisam soluções para resolver este problema e diminuir as desistências, aumentando a conclusão das vendas.
Razões da Apple
O script do site que buscava os estoques acabava simulando um cliente virtual (falso) para cada loja física, que seguia todo o túnel de compra até antes da conclusão da venda, para ver se havia ou não disponibilidade de aparelhos. Isso provavelmente gerou um aumento desproporcional e repentino de desistências de compras nos relatórios do marketing, anulando completamente qualquer possibilidade de avaliação real do movimento orgânico da loja.
Imagine para a equipe da Apple perceber que aumentou em 10.000% (número hipotético) a quantidade de clientes que entraram no site e desistiram da compra. Fica impossível saber se é algum problema com a loja ou se é simplesmente um script acessando-a de forma irregular.
Portanto, esta explicação é a provável causa da ação dos advogados da Apple contra sites que acessam a apple.com de forma não autorizada. Este funil de conversão é algo importantíssimo para grandes empresas que lidam com vendas online, e qualquer agente externo pode colocar a perder o trabalho de muita gente. Isso, justificaria o esforço da Apple em impedir que ferramentas de busca por estoques se popularizem.
E agora, como fazer para saber onde há aparelhos a venda? Os usuários terão que ir manualmente no site store.apple.com e procurar por eles mesmos. O ideal seria a própria Apple disponibilizar uma ferramenta para isso, independente do processo de compra no site. Quem sabe?