A guerra dos livros: nova biografia de Steve Jobs cai nas graças da Apple
Com o lançamento iminente de uma nova biografia a respeito de Steve Jobs, o mercado de tecnologia está eufórico e ansioso. E não é para menos.
As poucas informações a respeito da nova obra, chamada Becoming Steve Jobs (link), já conseguiram causar grandes comoções, como por exemplo quando surgiu a informação de que Tim Cook havia oferecido parte do seu fígado para tentar salvar a vida de Jobs, oferta esta recusada pelo teimoso fundador da Apple.
No entanto, tem sido curioso observar como a própria Apple vem dando uma atenção especial a esta obra, especialmente quando comparada com a biografia anterior, escrita por Walter Isaacson.
Quando Steve Jobs já estava bem doente, surgiu a informação de que Isaacson, biógrafo consagrado responsável por obras contando as vidas de Albert Einstein e Benjamin Franklin, estava trabalhando em uma biografia de Jobs.
Para escrever a obra, Isaacson conviveu com a Steve e sua família, e contou com inúmeras entrevistas de funcionários e ex-funcionários da Apple, e executivos do mercado.
A obra é interessante e vale a pena ser lida, mas foi recebida por parte da comunidade ligada à Apple com bastante resistência, com alegações de que era uma publicação oportunista.
Muitos acharam que Isaacson estava tentando lucrar com a doença e morte de Steve Jobs, mesmo tendo sido persuadido a escrever o livro por Laurene Powell Jobs, esposa de Steve. Isaacson chegou a recusar a tarefa algumas vezes, até se dar por vencido e aceitar escrever a obra, justamente quando soube que o câncer de Jobs era um caminho sem volta.
Quando Jobs morreu, no dia 5 de outubro de 2011, a data de lançamento desta biografia foi adiantada em quase 1 mês, chegando ao mercado apenas 2 semanas após o falecimento do fundador da Apple.
Isso ajudou a difundir a ideia de que a obra na realidade era um grande caça-níquel disfarçado de biografia autorizada, imagem que é mantida por alguns até hoje.
A obra de Isaacson é bastante franca, e trata de fatos polêmicos da vida de Jobs, como por exemplo a filha Lisa, cuja paternidade Jobs custou a reconhecer. Ao longo do livro, Jobs é retratado como alguém explosivo e rancoroso, e histórias não faltam para ilustrar estas características.
Vale lembrar que este livro também está sendo utilizado como fonte de inspiração para o roteiro da biografia de Jobs dirigida por Aaron Sorkin e estrelada por Michael Fassbender, em um projeto que já se provou pra lá de complicado.
Eis que há algumas semanas, coube ao John Gruber, editor do site Daring Fireball, a tarefa de anunciar ao mundo a biografia Becoming Steve Jobs, citada no início do texto.
Ele recebeu uma cópia adiantada do livro, e fez um post em seu site anunciando a data de lançamento, e aproveitando para dizer que a obra era ótima:
“Este livro reconta de forma precisa e envolvente a conhecida história da carreira e vida de Jobs, mas também contém uma quantidade relevante de novas informações. Algumas histórias neste livro são sensacionais.”
Gruber foi apenas o primeiro de uma longa lista de pessoas que vieram a público falar bem do livro. No entanto, algumas declarações públicas passaram a chamar bastante a atenção, como por exemplo quando Eddy Cue disse no Twitter que o documentário sobre Steve Jobs exibido no SXSW, um festival de entretenimento e tecnologia que acaba de acontecer em Austin, o havia decepcionado bastante.
“É uma visão imprecisa e maldosa do meu amigo. Não reflete o Steve que eu conhecia”, disse Cue. E ele arrematou com um segundo Tweet, que dizia “O melhor retrato ainda está para ser lançado – Becoming Steve Jobs. Bem-executado e o primeiro a fazer a coisa direito”.
Semanas antes, em uma longa (e excelente) coluna a respeito de Jony Ive veiculada no periódico The New Yorker, foi a vez de Ive de contribuir de forma indireta com o lançamento desta nova biografia, ao dizer que a ele “não poderia sentir um desprezo maior” pela biografia escrita por Isaacson.
Já na semana passada, uma extensa e interessante entrevista com Tim Cook foi divulgada no site Fast Company. A entrevista foi conduzida justamente pelos autores da nova biografia, e uma boa parte da conversa tratou de Jobs e seu legado.
E, finalmente, durante o fim-de-semana, surgiu na iBooks Store a possibilidade de baixar uma amostra gratuita do livro, em inglês. Ela traz o trecho da biografia que trata do antológico discurso que Jobs fez em Stanford, onde ele contou três historias a respeito da sua vida.
Isolados, estes fatos poderiam ser vistos só como pequenas contribuições e gentilezas com os autores dos livros. Mas juntos, todos eles parecem indicar que a Apple tenha gostado bastante da obra de Brent Schlender e Rick Tetzeli, e quer promover o livro para ajudar a perpetuar as características mais positivas e menos polêmicas a respeito da vida de Jobs, que ao que tudo indica, são o fio condutor desta nova biografia.
Becoming Steve Jobs terá lançamento mundial amanhã, porém infelizmente ainda não contará com uma versão em português. Quem não tiver muita intimidade com o idioma bretão terá de torcer para que uma adaptação na nossa língua chegue em breve, e enquanto isso não acontece, certamente poderá matar a curiosidade com os inúmeros posts que surgirão web afora contando as partes mais interessantes da obra.
Entre a biografia de Walter Isaacson, e a nova biografia feita por Schleder e Tetzeli, o ideal mesmo é que todos leiam as duas, para que possam tirar as suas próprias conclusões. Steve Jobs não era só mocinho, e nem só vilão. No entanto, o único fato que ninguém conseguiu refutar ainda, diz respeito à sua motivação para mudar o mundo. E o sucesso desta empreitada ninguém consegue questionar. ;)