História

Apple nunca teria recusado de usar o Flash no iPhone, se ele funcionasse

Quando o primeiro iPhone foi lançado, uma das críticas mais agressivas e ferrenhas contra ele era o fato do aparelho não ser compatível com o Adobe Flash, que dominava a internet naquela época.

Quem viveu o mundo iPhone naquela época lembra de como era difícil aguentar os que reclamavam disso.

E por mais que se tentasse entender e justificar as razões da Apple, o que a gente mais ouvia era outros nos chamando de alienados e cegos fanáticos pela empresa.

Nós mesmos aqui no BDI tivemos que ouvir muito isso.

Mas nada como o tempo para mostrar a verdade.

Segundo o testemunho do “pai do iOS“, Scott Forstall, no processo judicial entre a Apple e a Epic Games, a intenção inicial nunca foi barrar o Flash no iPhone, pelo contrário.

Porém, ele era tão ruim que poderia comprometer o próprio sucesso do celular da empresa.

Já falamos diversas vezes aqui de como foi delicado o lançamento do primeiro iPhone.

A Apple era uma grande empresa de computadores, mas estava querendo entrar em uma indústria dominada por gigantes como Nokia, Motorola e BlackBerry.

Muitos achavam que seria um completo fracasso esta “petulância” de Steve Jobs.

E de fato, mesmo durante a apresentação do aparelho ao mundo, muita coisa poderia ter dado errado.

Então, a pressão era muito grande e qualquer lentidão no funcionamento do aparelho seria um motivo de massacre por parte dos críticos.

O Flash era uma tecnologia presente em mais de 75% dos sites de internet naquela época, e lançar um dispositivo que não fosse compatível com ele, era um pensamento comercialmente absurdo na ocasião.

Porém, havia um grande problema: o Flash consumia recursos demais do aparelho.

Talvez nos computadores, que ano após ano ficavam cada vez mais potentes, isso acabava não aparecendo. Mas em um celular, com recursos limitados, deixava o sistema uma verdadeira tartaruga.

Quando colocamos em execução o Flash no iOS, o desempenho era simplesmente terrível e irritante, não seria possível criar algo que agregasse valor aos consumidores.

A ideia não era barrar o Flash no início, mas a integração dele no sistema se mostrou proibitiva.

Tentamos fazer o Flash funcionar. Ajudamos a Adobe. Estávamos realmente interessados. Novamente, esta é uma área em que pensei que se pudéssemos ajudar a fazer funcionar, seria ótimo.

De fato, o Flash era um desastre. E isso se mostrou uma verdade até mesmo em produtos de outras marcas:

A briga ficou mais intensa quando a Apple lançou o iPad, em 2010. Sem o Flash.

A novela criada pela Adobe

A Adobe brigou muito para que a Apple abrisse a App Store e o sistema para o Flash, como quem não considera os reais motivos de isso acontecer.

A culpa, segundo a Adobe, era da Apple, que estava sendo “tirana”, querendo “fechar seu ecossistema e não permitindo que ele fosse mais aberto para outras empresas“.

Aliás, um discurso muito parecido com o que a Epic Game faz atualmente.

Na época, a reposta da maçã foi com luva de pelica:

Tem alguém equivocado aí — É o HTML5, CSS, JavaScript e H.264 (todos suportados pelo iPhone e o iPad) que são padrões abertos, enquanto o Flash da Adobe é fechado e proprietário.

A coisa foi tão intensa que Steve Jobs chegou a fazer uma carta aberta, enfatizando os motivos do iOS não adotar a tecnologia da Adobe e revelando os reais interesses dela.

Mas a Adobe não se deu por vencida, e fez uma campanha em jornais e revistas, acusando a Apple de querer limitar a internet, não dando espaço aos consumidores de escolherem as ferramentas que quiserem.

É praticamente a mesma coisa que o que o Facebook fez em 2021, quando a Apple anunciou implementar restrições de privacidade no iOS 14.5.

O tempo demonstrou, no fim, que a Adobe foi completamente incapaz de adaptar o Flash para dispositivos móveis, o que a obrigou a encerrá-lo de vez anos depois.

A empresa finalmente se deu conta que o mundo estava mudando e que era preciso investir nas novas tecnologias que estavam surgindo.

Kevin Lynch, que era diretor técnico da Adobe e foi um dos que criticou duramente a Apple, foi contratado pela maçã em 2013 e hoje é responsável pela divisão do Apple Watch.

O mundo gira.

Graças ao iPhone (e à rígida régua de qualidade de Steve Jobs), a mediocridade de um produto ruim foi definitivamente enterrada, e não simplesmente empurrada na garganta dos usuários.

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