O vexame dos Mapas do iOS 6 fez a Apple ficar mais aberta
Todos concordam que, nos últimos anos, a Apple se mostrou mais aberta no sistema que faz funcionar o iPhone e o iPad. Vimos a introdução de extensões, integração entre apps e até mesmo a Siri irá começar a funcionar dentro de aplicativos normais da App Store. Também vimos algo que ela nunca tinha permitido: a possibilidade de usuários que não são desenvolvedores testarem antes do tempo versões betas do sistema. Isso começou no ano passado e segue até hoje, com o futuro iOS 10.
Segundo uma recente entrevista que o vice-presidente de Serviços e Internet da maçã, Eddy Cue, deu à revista Fast Company, toda a má repercussão dos Mapas da empresa, em 2012, foram o sinal de alerta de que a empresa precisava ser mais aberta a feedbacks dos usuários antes de lançar grandes novidades.
Para quem não se lembra, os Mapas da Apple foram uma enorme ruptura com o que havia antes. De fato, uma das características mais marcantes do primeiro iPhone (em 2007) era o fato de trazer os Mapas do Google para o bolso de todos, algo que antes era reservado apenas para telas de computadores. O novo dispositivo da maçã permitia algo incrível para a época: você tirar o aparelho do bolso e visualizar onde estava, em mapas coloridos e bem definidos. É claro que já existia na época dispositivos GPS, mas eles nunca foram tão democráticos e fáceis de usar como eram no iPhone.
A parceria com o Google durou anos, até que começou a se fragilizar por causa do Android, que segundo Steve Jobs era uma cópia sem escrúpulos do iOS. Com isso, a maçã passou a buscar alternativas de serviços para implementar no iOS, para que se usasse cada vez menos os apps da gigante das buscas. O problema é que no iOS 6 isso não foi de forma gradativa e sim brusca: além de retirar o aplicativo nativo do YouTube, a Apple tinha decidido montar um sistema de Mapas do zero e simplesmente eliminar a opção do concorrente no sistema.
É claro que não deu muito certo. As pessoas se viram, de um dia para o outro, sem os mapas que sempre usavam, e pior, com novos mapas que não funcionavam bem em todos os lugares. (leia: Trapalhadas dos mapas do iOS 6 no Brasil).
Hoje, os profissionais da Apple se dão conta de qual foi o erro. “Para nós que vivemos em Cupertino, os mapas eram ótimos. Mas nunca fizemos testes em larga escala e o problema não era óbvio para nós“, diz Eddy Cue, lembrando de como foi conturbada a transição. No início, autoridades de países como Inglaterra e Austrália sugeriam aos cidadãos não confiarem nos Mapas da Apple, para não se meterem em situações de perigo.
O acontecido foi uma prova de ferro para a Apple, tanto que ocasionou a saída do “pai do iOS“, Scott Forstall, que se negou a assumir a culpa de toda a lambança. A partir daí, eles tomaram a decisão de começar a deixar usuários “comuns” também testarem o iOS antes de lançado, para que aumentasse o número de feedbacks ao redor do mundo. A Apple então implementou o programa de beta público em seus mais significativos projetos de software, algo que Jobs nunca gostou de fazer. Em 2014, a empresa pediu aos usuários para testarem o OS X Yosemite e no ano passado, foi introduzido o teste do beta do iOS, que é o sistema operacional mais importante da companhia.
A razão dos nossos usuários poderem hoje testar o iOS foi graças aos Mapas.
Com um número muito maior de usuários no mundo inteiro testando o sistema antes de ser lançado, a Apple pode identificar com mais rapidez problemas, com tempo suficiente para serem trabalhados até a versão final. Inclusive os próprios Mapas, que hoje recebem um feedback enorme de milhões de usuários, todos os dias.
A entrevista toda é bem interessante e ajuda a entender como é a atual filosofia da Apple nos tempos de Tim Cook. Para quem tem facilidade com o idioma inglês, vale a pena dar uma conferida.