A Qualcomm anunciou com orgulho seu novo Snapdragon 8 Elite Gen 5, aclamando ser a CPU mobile mais rápida do mundo. Isso é legal, visto que por anos ninguém tinha conseguido passar os chips da Apple neste quesito.
Isso excitou alguns youtubers, que divulgam alguns testes multi-core do Geekbench 6 em que o 8 Elite supera o A19 Pro da Apple.
Mas o que parece uma vitória nos números esconde um detalhe importante: esse desempenho só é alcançado em condições de laboratório, usando dispositivos de referência projetados para extrair o máximo do chip. Quando olhamos para o uso real em smartphones comerciais, a história muda.
O que os testes mostraram
De fato, no multi-core, o Snapdragon conseguiu marcar pontos mais altos do que o A19 Pro.

Porém, para isso, precisou operar em um consumo de aproximadamente 19,5 W, contra apenas 12,1 W do chip da Apple. Em outras palavras, o Snapdragon gastou cerca de 61% mais energia para alcançar esse resultado.
Tá, ele gasta mais bateria. E daí?
Quanto mais energia, mais calor é gerado e maior é o impacto na bateria. Nessas situações, o sistema precisa reduzir automaticamente a frequência do processador (throttling), o que significa que a performance prática cai.
Testes feitos pelo site Android Authority demonstram que, por causa do thermal throttling, após alguns minutos de carga intensa o desempenho cai para apenas 58% do pico inicial.
… o desempenho depois desse ponto caiu rapidamente para o mesmo patamar do Snapdragon 8 Elite do ano passado — uma queda acentuada que caiu para apenas 58% de seu desempenho máximo.
Android Authority
É justamente por isso que benchmarks de pico podem ser enganosos: eles mostram o que o chip poderia fazer em um cenário irreal, mas não o que ele realmente entrega em uso prolongado, como em jogos, gravações de vídeo 4K ou multitarefa pesada.
Quando o assunto é eficiência — ou seja, desempenho por watt —, a vantagem volta para a Apple. O A19 Pro entrega cerca de 42% mais performance por watt, mostrando que consegue fazer mais gastando menos, pois consegue manter um nível de performance mais estável, sem quedas tão acentuadas.
A falta de padrão nos dispositivos Android
Vale lembrar que os testes da Qualcomm foram feitos em um dispositivo de referência, com 24 GB de RAM e refrigeração acima da média.
Mas os celulares Android de varejo que chegarão às mãos dos consumidores terão design mais fino, menos espaço para dissipação de calor e prioridades como autonomia de bateria.
Na prática, é muito provável que esses aparelhos tenham de limitar ainda mais o desempenho do Snapdragon para evitar superaquecimento. Isso pode aproximar os resultados do chip da Qualcomm da geração anterior, diluindo o impacto dos ganhos anunciados.
Esta é a desvantagem de se trabalhar com um sistema (Android) que não é feito por quem fabrica os dispositivos, como é o caso da Apple que pode assim ter muito mais controle de fazer evoluir tanto seu sistema quanto seus chips.

Marketing é marketing
O Snapdragon 8 Elite Gen 5 mostra números de respeito em laboratório e, sem dúvida, é um avanço importante no ecossistema Android.
Mas quando saímos dos gráficos de benchmark e olhamos para a experiência real de uso, fica claro que o A19 Pro da Apple ainda leva vantagem em eficiência e estabilidade, o que faz diferença no bolso (bateria) e na mão (temperatura).

