Por que aparelhos com Android precisam de mais RAM que o iPhone?
Sim, você já deve ter percebido que muitos celulares com Android chegam ao mercado alardeando uma grande quantidade de memória RAM.
Inclusive chegam a usar isso no seu marketing, fazendo comparações com o iPhone que geralmente traz metade de memória que eles.
Mas se você pensa que este simples fato faz com que estes aparelhos tenham melhor performance, você se engana.
O iPhone 13 Pro tem 6 GB de RAM, enquanto o Pixel 6 Pro ou o Galaxy S22 Ultra oferecem 12 GB de memória. E mesmo assim, o dispositivo da Apple tem um desempenho tão bom ou melhor que esses outros dois.
Por que isso?
A questão é que o Android precisa de um aparelho com mais RAM para fazer a mesma coisa que o iPhone, e nesse artigo você vai entender o porquê.
Disclaimer
Antes de começar, vamos eliminar qualquer bias que possa existir na leitura. Este não é um artigo para incentivar qualquer briguinha boba entre Android e iOS.
Inclusive várias informações aqui foram compartilhadas pelo Android Police, um site especializado no sistema do Google. E duvido muito que eles sejam tendenciosos a favor do iPhone…
Discussão antiga
Este questionamento não é nada novo.
A primeira vez que falamos exatamente disso foi em 2014, quando um estudo demonstrou que o iPhone conseguia ser mais rápido nas tarefas do dia a dia do que aparelhos com Android que apresentavam o dobro da RAM.
Desde aquela época, os concorrentes da Apple usavam o argumento da RAM como fator de superioridade. Mas aquele estudo colocou os pontos nos is.
Memória RAM
Os smartphones utilizam um tipo de memória RAM chamada de SDRAM, que como qualquer outra, guarda as informações temporariamente, somente enquanto o aparelho estiver ligado.
É nela que os aplicativos abertos rodam quando você os está usando.
Quando há mais aplicativos abertos do que a quantidade de RAM é capaz de suportar, o sistema limita certas tarefas, fechando apps que estiverem sendo menos usados.
Seguindo esta lógica, seria razoável acreditar que quanto mais memória RAM um aparelho tiver, mais tarefas ele consegue executar ao mesmo tempo.
Porém, entre iOS e Android a coisa não é tão simples assim.
Por que o Android precisa de mais RAM que o iOS?
Bem, para chegarmos a uma resposta a essa pergunta, é preciso antes de tudo entender que são dois sistemas completamente diferentes.
Apesar do Android hoje ser do jeito que é por ter se inspirado fortemente no iOS (basta pesquisar como era o projeto Android antes de 2007), o fato é que, nos bastidores, não são nada parecidos.
O Android usa uma linguagem de programação que não tem nada a ver com aquela do iOS.
Além disso, a filosofia do sistema do Google também é diferente.
Enquanto o iOS é feito para um hardware proprietário, feito exclusivamente pela Apple, o Android foi criado para rodar no máximo de smartphones possíveis, de infinitas marcas.
E essa “vantagem” é também o grande calcanhar de Aquiles do sistema do robozinho verde.
Isso porque os engenheiros do Google precisam fazer um sistema que rode da mesma maneira em diferentes processadores. Samsung, Qualcomm, MediaTek, todos precisam rodar os mesmos aplicativos da mesma maneira.
A solução que encontraram foi a de estabelecer uma linguagem de programação comum, que aí é traduzida uma segunda vez em código nativo em cada aparelho, de acordo com seu processador.
E é esse processo extra de tradução de linguagem que consome mais recursos do aparelho.
No iOS isso não existe, justamente porque ele já é feito especialmente para o chip da Apple. Não necessita de traduções extras para cada aparelho, pois tudo é feito pela mesma empresa.
E a diferença se vê na execução do sistema:
Um aplicativo com aparência e desempenho idênticos no Android e no iOS normalmente exigirá mais RAM disponível para ser executado em um Pixel 6 do que em um iPhone 13.
É por isso que o Android precisa de mais RAM que o iOS para executar a mesma coisa.
Gerenciamento da RAM
O Android Police também ressalta a maneira como cada sistema gerencia a RAM.
O sistema do Google emprega um método de gerenciamento de memória chamado garbage collection (coleta de lixo). Esse processo tenta, de tempos em tempos, eliminar objetos na memória que não estão mais sendo usados, para liberar RAM.
Já o iOS usa a contagem automática de referência (ARC), que atribui automaticamente aos objetos na memória um valor numérico com base em quantos outros objetos se referem a eles, removendo objetos cujo valor chega a zero.
Como a coleta de lixo apenas varre periodicamente objetos não utilizados, ela pode levar a breves acúmulos de informações inúteis que obstruem a memória, o que acaba fazendo com que o aparelho utilize mais RAM.
O ARC, por outro lado, não tem esse problema, pois os objetos individuais desnecessários são removidos da memória assim que são identificados.
Ou seja, o iOS é nativamente muito mais eficiente em gerenciar a memória RAM do que o Android.
Isso influencia até mesmo no desenvolvimento dos aplicativos.
Como há dezenas de aparelhos com configurações totalmente diferentes entre si, os desenvolvedores de Android muitas vezes nem se preocupam com a otimização de seus apps, porque tomaria um tempo absurdo.
Então eles tomam como referência um teto de RAM bem mais alto do que muitas vezes o aplicativo necessitaria no smartphone de determinada marca, consumindo mais do que deve.
Quanto mais RAM, maior consumo de bateria
Claro que a performance de um celular não depende somente da quantidade de memória RAM dele.
Mas se você sempre quis saber por que os dispositivos Android de ponta possuem muito mais RAM que o iPhone, agora você sabe.
A Apple poderia colocar mais RAM no seu celular para ficar ainda melhor? Poderia, sem sombra de dúvida. Mas seria um componente a mais que consumiria também mais bateria, algo bastante precioso no iPhone.
Enquanto a concorrência não incomodar nesse quesito (RAM), a maçã pode se dar ao luxo de limitar a sua quantidade de RAM, para não aumentar o consumo nos aparelhos.