WhatsApp cria limitações pequenas que provavelmente não resolverão o problema das ‘fake news’
Paliativos não resolvem se os usuários não mudarem seus comportamentos
Na semana que passou, o WhatsApp implementou algumas limitações em seu aplicativo para tentar dificultar a difusão de boatos, notícias falsas e informações distorcidas. Porém, nada disso parece solucionar o real problema: a ignorância humana.
Desde que a internet ficou mais popular, é comum vermos pessoas “repassando” mensagens que recebem, sem nem verificarem (ou se preocuparem) se aquela informação é verdadeira ou não. Quem aqui nunca recebeu e-mails com textos do Luis Fernando Verissimo que não eram dele, ou textões supostamente assinados por alguém famoso, mas que não tinham nada a ver com o suposto autor.
Isso sempre existiu, mas com o crescimento das redes sociais, a coisa hoje se potencializou. Um número enorme de informações distorcidas são transmitidas em uma velocidade assustadora, tudo porque ninguém mais está preocupado em averiguar uma notícia ou história que recebe antes de repassar para os outros.
Este fenômeno está causando problemas inclusive de saúde pública no Brasil, depois que mensagens compartilhadas pelo WhatsApp afirmavam que vacinas fazem mais mal do que bem. As pessoas recebem a informação, consideram automaticamente como verdade e repassam para outros, que repetem todo o processo de forma mecânica.
Para dificultar isso, o WhatsApp recentemente adotou algumas medidas para que os compartilhamentos em massa sejam dificultados, no intuito de conter a onda de difusão de notícias falsas.
Por exemplo, agora, quando você repassa algo que recebeu de alguém, aparece no topo da mensagem a palavra “Encaminhada“, deixando claro que aquele texto não é seu.
Isso já alerta a quem ler que aquele conteúdo não está sendo criado pela pessoa que está enviando, e, na teoria, você deixa de dar a credibilidade que tem naquela pessoa à mensagem.
Outra limitação imposta pelo aplicativo é o número de contatos/grupos que você poderá encaminhar uma mensagem que recebeu. Ao incluir os contatos de um encaminhamento, o máximo aceito será de 20 pessoas/grupos por vez. Na Índia, que é “onde as pessoas encaminham mais mensagens, fotos e vídeos que qualquer outro país no mundo” (segundo o próprio serviço), este limite é reduzido para 5 contatos por vez.
Segundo os administradores do WhatsApp, isso servirá para reduzir as fake news difundidas no aplicativo. Porém, esta tentativa parece ser mais um discurso de marketing do que algo realmente efetivo.
Mesmo depois da aplicação das restrições, mais uma mulher foi linchada na Índia por causa de boatos viralizados pelo WhatsApp. No último sábado, uma mensagem acusando uma mulher de criminosa foi espalhada rapidamente, o que acarretou em linchamento e morte da mesma.
Esta limitação do envio simultâneo de mensagens não desencoraja efetivamente a difusão de mensagens e SPAMs. Primeiro porque quem quer mesmo espalhar qualquer notícia, pode repetir o processo várias vezes, mandando primeiro para 20 pessoas, depois para mais 20 e assim sucessivamente. E segundo porque considera grupos como contato único. Com isso, basta enviar para 20 grupos diferentes, cada um com mil integrantes, e você enviou de uma vez só a mensagem para 20 mil pessoas diferentes. E cada uma delas poderá fazer o mesmo.
A solução encontrada pelo WhatsApp não resolve nada e não passa de um marketing para tentar dizer que estaria fazendo algo para acabar com as fake news, quando na verdade não está.
Isso porque o problema das notícias falsas não está no instrumento usado, e sim na incapacidade das pessoas em usar o próprio cérebro para filtrar as informações que recebem. É injusto imputar ao WhatsApp a culpa pela disseminação das notícias falsas, porque se acabarmos com este aplicativo, outros virão para substituí-lo nisso. Enquanto as pessoas não mudarem seu próprio comportamento, as fake news continuarão a ser um problema para todos, influenciando opiniões, comportamentos e eleições.
Então, se você realmente quer acabar com as fake news, mude você. Pare de repassar informações que recebe, sem antes dar uma pesquisada se aquilo é real ou não. Por mais bobo que seja, por mais inocente que pareça ser. Principalmente em ano de eleição, em que deveremos ver muito as redes sociais servindo como instrumento desinformativo.
Vivemos em uma época em que podemos ter toda a informação da humanidade na palma da nossa mão (literalmente). Então use isso da forma positiva, se educando e buscando aprender cada vez mais. Porque ser preguiçoso e deixar o aplicativo pensar por você não levará ninguém a lugar nenhum.