Reportagem mostra como o Compartilhamento Familiar da Apple pode ser usado para vigiar filhos e ex-parceiros

Recurso pensado para proteger famílias pode, em alguns casos, facilitar situações de controle e abuso digital.

Apple Watch crianças
Imagem: Chona Kasinger / The New York Times

O Compartilhamento Familiar da Apple foi criado para tornar a vida em família mais simples. Com ele, pais podem compartilhar assinaturas, acompanhar a localização dos filhos e até definir limites de tempo de uso no iPhone.

Na teoria, tudo parece perfeito, uma ferramenta prática e segura. Mas, na vida real, nem sempre é assim.

Uma reportagem recente da WIRED revelou que esse mesmo recurso, feito para proteger, pode acabar sendo usado como forma de controle e vigilância, especialmente em situações de separação ou guarda compartilhada.

Quando o controle sai do propósito

O sistema do Compartilhamento Familiar funciona com um organizador principal, que tem acesso total às contas do grupo.

O problema é que, quando há um divórcio, esse organizador (geralmente o pai ou a mãe que criou o grupo) continua com poder total sobre as contas das crianças.

Isso significa que ele pode rastrear a localização, aprovar ou bloquear aplicativos e até impor restrições de tempo de uso, mesmo sem morar mais com os filhos.

Em alguns casos relatados, esse controle virou uma forma de abuso digital, usada para vigiar e intimidar o outro responsável.

Um sistema feito para um tipo só de família

A principal falha, segundo os especialistas, é que o sistema pressupõe uma estrutura familiar única, em que um adulto comanda tudo.

Não há uma maneira simples de transferir o papel de organizador ou dividir o controle entre dois responsáveis, o que cria situações complicadas para quem vive a realidade da guarda compartilhada.

A solução sugerida por muitos fóruns (criar uma nova conta Apple ID) é praticamente inviável.
Além de dar muito trabalho, isso faz o usuário perder histórico de compras, assinaturas e dados pessoais.

Ou seja: o “recomeço” não é tão simples assim.

Tecnologia também precisa entender pessoas

Esse tipo de situação mostra que a Apple talvez precise repensar o recurso. Famílias mudam, se transformam, e o sistema deveria acompanhar isso.

Como lembrou uma especialista citada na reportagem:

Ferramentas de proteção podem virar ferramentas de controle quando ignoram a complexidade das relações humanas.”

É exatamente isso. A Apple criou uma tecnologia poderosa, mas que ainda precisa lidar melhor com a realidade moderna das famílias, especialmente quando há separações ou disputas de custódia.

O que dá para fazer agora

Enquanto a Apple não muda o funcionamento do recurso, há algumas ações que podem ajudar a reduzir os riscos:

  • Verifique quem é o organizador do grupo familiar em Ajustes > [seu nome] > Compartilhamento Familiar.
  • Use o Check de Segurança (em Ajustes > Privacidade e Segurança) para revisar quem tem acesso à sua conta.
  • Se for necessário, entre em contato com o suporte da Apple para mover a conta das crianças para outro grupo familiar.

O Compartilhamento Familiar é uma ótima ideia, e continua sendo uma ferramenta útil para muitos pais.
Mas, como a reportagem da WIRED mostrou, é preciso lembrar que segurança não é só uma questão técnica, é também sobre confiança e respeito.

Talvez esteja na hora de a Apple dar um passo além e adaptar esse recurso à vida real de quem mais depende dele: as famílias.

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