[opinião] Nunca paguei tão caro em um iPhone quanto agora
É, está cada vez mais difícil ser um usuário da Apple no Brasil. Logo eu, que sou cliente desde a década de 90, quando ter um computador da Maçã era um luxo para poucos loucos. Afinal, por que pagar tanto por um computador, se dava para comprar um Wintel montado, por um terço do preço?
Mas confesso que, de todos os anos, 2015 foi o que mais me doeu no bolso. E explico porque.
Produtos da Apple sempre foram caros, no mundo todo. Conversando com um amigo essa semana, ele chegou a dizer que “o pessoal reclama dos preços da Apple desde 1984“. É verdade.
Mas o fato é que sempre valeu a pena. Dificilmente nos arrependemos de comprar um produto Apple; pelo contrário, basta comprarmos o primeiro para logo querermos comprar outros. E isso não é coisa de fã alienado que fica cego com a marca, mas sim o prazer de ter um produto que preenche nossas expectativas e oferece uma qualidade superior.
Porém, atualmente está bem difícil comprar produtos da Apple, principalmente para quem mora no Brasil. Eu já morei fora e, por muito tempo, comprei iPhones por um valor que representava um terço do meu salário mensal, o que era ótimo. Hoje, vivo no meu país natal, sentindo na pele o peso de ter produtos da Apple aqui. Mesmo assim, os continuo comprando lá fora, até por questão de calendário (visto que são lançados primeiro lá). E o preço sempre foi bem menor.
No ano passado, foi a primeira vez que paguei mais de R$2.000 por um iPhone no exterior. Era um iPhone 6 de 64GB, que me custou R$2.200, convertendo no câmbio de 2014. Na época achei o valor caro, mas sabia que no Brasil iria custar o dobro, então me conformei.
Mas por que estou contando todos estes detalhes? Porque o valor do iPhone 6s este ano me doeu o coração. Nunca fiquei tão mal em comprar um iPhone.
Com nossa cobertura este ano, compramos nossos aparelhos em Londres. Reservamos na pré-venda e esperamos pacientemente nosso querido 6s. Mas confesso que fiquei deprimido e até mesmo assustado quando, uma semana depois, a conta caiu no cartão de crédito: R$ 4.227,99.
QUATRO MIL REAIS por um iPhone comprado fora do Brasil. NUNCA vi isso em todos estes anos. É quase o dobro do que eu paguei pelo modelo similar no ano passado. Um aumento absurdo. É bem verdade que o fato de ter comprado em Libras fez o preço ficar maior, mas mesmo assim, nunca foi tão caro comprar produtos na Europa.
Apavorado, eu cancelei a compra em Londres para tentar comprar um nos Estados Unidos com o câmbio “menos” alto. Consegui e paguei pelo mesmo aparelho R$ 3.600. Mas ainda é alto demais! Um aumento de 63% em relação ao iPhone de mesma capacidade no ano passado. Um absurdo!
Eu posso dizer que a culpa é da Apple? Que ela está sendo gananciosa nos preços e achando que eu sou palhaço? Claro que não, seria patético eu afirmar isso, porque o preço que ela está cobrando lá é exatamente o mesmo do ano passado. Então, o que mudou?
A resposta está nas notícias e jornais diários desde o começo do ano. Uma crise política e econômica que fez, entre outras coisas, o preço do dólar disparar no país. E tem que ser muito ingênuo para achar que isso não iria se refletir nos preços da Apple aqui.
Talvez você tenha começado a ler este texto achando que o título se referia aos preços praticados no Brasil. Mas o que eu quero lhe alertar é que a conjuntura é muito mais complexa do que simplesmente imaginar que um bando de engravatados na Apple se reuniu em uma sala para decidir, da noite para o dia, aumentar os preços só porque são gananciosos e querem ficar mais ricos. Seria bem infantil pensar assim.
A Apple Brasil reajustou esta semana seus preços, inclusive o da Apple TV antiga que não mudava desde 2011. E, como sempre, leu-se pelas redes sociais comentários indignados, com alguns até pedindo ao próprio Tim Cook para que a Apple desistisse de vender produtos no país.
Até aí, nada diferente do que já estamos acostumados há anos. O mimimi é ciclico e repetitivo.
Mas o que assusta é que, desta vez, os preços estão estratosféricos, chegando a um patamar que muitos de nós já não consegue alcançar. Os preços dos importados (mesmo comprando lá fora, como foi meu caso) está absurdamente caro quando convertido para Real. Pagar por um computador o preço de um carro usado não é algo que faça sentido em nenhum lugar do mundo.
O que eu quero dizer com tudo isso? Minha intenção não é defender a Apple e nem dizer para você esquecer tudo e continuar comprando. Não teria nenhum cabimento isso. Só quero alertar você que o buraco é mais embaixo. Eu não fiz cálculo nenhum para saber se a maçã está sendo justa ou injusta neste aumento. O que eu vivi, na pele, foi um aumento de 63% no preço do mesmo produto, de um ano para o outro. E isso sem a Apple precisar aumentar nada.
Falar do aumento de forma isolada, como alguns sites estão fazendo, não é a maneira correta de analisar a situação e, claro, faz com que alguns fiquem indignados com a empresa, como se ela fosse a responsável pela situação do país. A prova de que não é bem isso está no meu caso de compra do iPhone lá fora.
O engraçado é que, antes mesmo deste atual aumento, meu discurso já era exatamente o mesmo. Na edição do mês passado da Revista iThing, eu falei tudo isso no editorial, inclusive com algumas palavras usadas neste texto. Eu sou vidente? Não, apenas usei a lógica. E você também pode escolher entre adotar o discurso pasteurizado da manada das redes sociais, ou pensar por você mesmo e analisar melhor o que acontece à sua volta.
A título de informação, no mesmo dia a Apple aumentou os preços de seus produtos também na Noruega, Malásia e Nova Zelândia, também para se ajustar ao câmbio. Isto não é exclusividade do Brasil, apesar de, no nosso caso, os valores estarem bem mais pesados.
Cada um sabe onde aperta no próprio bolso. Se os preços estão pesados para você, não compre. Simples assim. E reze para a situação política do país melhorar algum dia.
Conteúdo original © Blog do iPhone