Lembram quando a Apple anunciou o Touch ID? Enquanto usuários de iPhones comemoravam as novas possibilidades proporcionadas pela tecnologia, alguns sites e portais tornaram-se experts em segurança e criptografia da noite para o dia e passaram a [mark]escrutinar cada detalhe da função[/mark], questionando sobretudo a sua segurança. Será que ele é realmente seguro? A informação guardada no processador é realmente inacessível? E se o dedo do usuário for arrancado da sua mão? Perguntas (quase todas) válidas, é claro, pois este é um assunto de extrema importância e deve ser tratado com bastante cuidado.
E foi por isso que a própria Apple se esforçou para deixar totalmente claro que as funcionalidades Touch ID do seriam expandidas aos poucos, sendo que em um primeiro momento somente seria possível destravar o celular e substituir a senha da App Store, e lá na frente talvez suas aplicações fossem expandidas. Foi o suficiente para que os mesmos portais que questionavam a segurança do aparelho passassem também a evidenciar a ‘funcionalidade limitada‘ da tecnologia. Por que não é possível armazenar senhas de outros sites? Por que não é possível fazer pagamentos em geral? Por que o Touch ID é tão limitado? Quem não acompanhasse de perto a novidade teria a impressão de que esta era uma tecnologia frágil, além de ser risivelmente incompleta.
O clímax aconteceu quando alguns dias depois do lançamento do iPhone 5s, uma empresa conseguiu provar de uma vez por todas que não, o Touch ID não era absolutamente seguro, e todos os usuários de iPhone 5s “estavam em risco”. Eles haviam burlado o sistema que reconhecia a impressão digital do usuário, e para isso, bastava que o criminoso seguisse um processo de inúmeros passos que incluía [mark]uma fotografia de altíssima resolução da impressão digital da vítima[/mark] em uma superfície de vidro, além de precisar ter acesso a uma imensa quantidade de produtos químicos, alguns deles de venda restrita e controlada pelo governo. Sim, para todos os efeitos o Touch ID era falho, e sites e analistas chafuradaram-se em posts em tom quase celebratório.
Quando o assunto cansou e as matérias sobre o novo scanner da Apple pararam de gerar cliques, a brigada do cinismo resolveu deixá-lo de lado. Enquanto isso, em Seul, uma outra empresa passou a trabalhar silenciosamente em uma função semelhante, até que em um evento na semana passada, a novidade foi anunciada para o mundo. E todos fingiram choque e surpresa quando a Samsung anunciou… um [mark]leitor de impressão digital embutido no botão frontal[/mark] do Galaxy S5! Sim, a história se repetia novamente.
A discussão foi levantada por vários sites internacionais essa semana. O novo leitor da Samsung tem exatamente a mesma proposta do Touch ID, além de já incorporar logo de cara as funções que a Apple disse que [mark]estudaria com cuidado antes de implementar[/mark]. Pagamentos online, armazenamento do número de cartão de crédito, área secreta no celular para fotos, vídeos e informações, está tudo lá. A única coisa que está faltando é a mesma atenção dos sites e portais em relação à sua segurança e confiabilidade. Cadê os artigos perguntando como a impressão digital é armazenada em um sistema “aberto” como o Android? Onde estão os textos teorizando cenários perigosos? Por onde andam as matérias questionando se a Samsung deveria ter implementado funções como o armazenamento do número de cartão de crédito tão cedo? Aliás, estas são perguntas que os próprios usuários do Galaxy estão se fazendo, pois nem mesmo a Samsung se mostrou muito preocupada em explicar com muitos detalhes o que faz com que seu sistema seja seguro.
Enquanto a Apple sabia que mesmo após disponibilizar um caminhão de informações (seja dedicando quase 10 minutos a esta novidade durante o evento de lançamento do iPhone 5s, seja com vídeos explicativos e didáticos ou textos exploratórios em seu site), enfrentaria bastante resistência da mídia especializada, o mesmo não está acontecendo para o Galaxy e o seu novo sensor. Todos parecem ter se convencido com a frase “a informação é encriptada no seu celular e nunca é compartilhada“, que foi o único comentário a respeito do assunto durante todo o evento.
Segurança é um assunto extremamente sério, e nunca deve ser tratado de forma leviana. Questionamentos sobre confiabilidade de um serviço que armazena algo tão importante quanto a impressão digital de uma pessoa são totalmente válidos e necessários. Porém é curioso observar que algumas provas de fogo só acontecem para a Apple, enquanto outras empresas parecem ter uma espécie de passe livre, mesmo após copiarem uma função que recebeu tanta resistência ao ser anunciada.
Será que a mídia especializada usa dois pesos diferentes para medir os avanços da tecnologia?