Parlamento britânico mostra como Facebook ganha dinheiro vendendo as informações dos usuários
Já comentamos aqui como a questão de preservar seus dados pessoais e preferências é algo muito sério, e mesmo “quem não tem nada a esconder” deveria se preocupar com a forma que suas informações são usadas, pois isso pode inclusive definir maneiras de manipular suas opiniões.
Agora, o parlamento britânico divulgou alguns e-mails internos e documentos que mostram como a rede social coleta esses dados e os vende para empresas parceiras, além de traçar estratégias contra concorrentes.
O longo documento de 250 páginas detalha as formas como a empresa de Zuckerberg coleta e trata as informações de seus usuários. Ele é dividido em assuntos:
- White Lists
- Valor dos dados de amigos
- Reciprocidade
- Android
- Onavo
- Mirando em aplicativos de concorrentes
White Lists
O Facebook possui uma lista de empresas “amigas” capazes de ter acesso irrestrito a todos os dados dos usuários e seus contatos na rede social. E isso mesmo após a aclamada mudança nas regras de privacidade ocorrida em 2014, que se supunha ter melhorado a privacidade dos usuários.
Amigos do usuário
A ideia é oferecer o acesso também aos dados de amigos do usuário para as empresas, para que a informação fique ainda mais rica. Durante todo o documento isso é bastante presente em vários pontos.
Reciprocidade
A reciprocidade de dados entre o Facebook e os desenvolvedores de aplicativos foi uma característica central nas discussões sobre o lançamento da Plataforma 3.0.
Android
O Facebook sabia, segundo os e-mails internos, que as mudanças em suas políticas no sistema Android, que permitiam ao aplicativo do Facebook coletar um registro de chamadas e textos enviados pelo usuário, seriam controversas. Para atenuar qualquer problema de relações públicas, o Facebook planejou tornar o processo mais difícil para os usuários saberem que esse era um dos recursos básicos da atualização do aplicativo.
Com isso, quem usa o Facebook no Android está fornecendo também para a equipe de Zuckerberg o registro de ligações e todas as mensagens de texto recebias e enviadas. Privacidade zero.
Onavo Protect Espião
O iPhone também não ficou de fora. Durante muito tempo, o Facebook incentivou usuários a instalarem o VPN gratuito Onavo Protect, que já comentamos aqui ter técnicas bastante questionáveis de marketing. Ao ser instalado, ele era capaz de conhecer (e repassar para o Facebook) todo o tráfego realizado no aparelho. Isso servia, por exemplo, para saber quais aplicativos o usuário baixava e usava, para assim poder traçar estratégias de aquisições de empresas ou até saber quais eram seus maiores concorrentes.
No meio do ano, a Apple foi mais dura e proibiu o Onavo de ser disponibilizado na App Store. Mas usuários de Android ainda estão vulneráveis, pois o app continua disponível na Google Play.
Apps concorrentes
Os arquivos mostram evidências de que o Facebook assumiu posições agressivas contra aplicativos concorrentes, com alguns sendo descontinuados por não ter acesso aos dados da rede.
Isso constrói um mercado desleal, em que quem é amigo do Facebook tem acesso aos dados dos usuários (e pode assim ganhar mais com isso) e quem não é amigo e não tem acesso às mesmas informações. Um jogo de cartas marcadas que, quem não é amigo do rei, perde sempre.
A questão é bem séria, mesmo que a maioria dos usuários do Facebook (e isso inclui WhatsApp e Instagram) não dê muita atenção para isso. Conhecer as preferências do usuário é uma informação que vale ouro, pois assim é possível manipulá-lo para direcionar o consumo (tanto de produtos como de ideias). Veja o que escrevemos aqui no BDI ainda em março:
“Saber exatamente o que você pensa possibilita lhe direcionar informações que você digira melhor, manipulando-as para te enquadrar no que eles querem que você se enquadre. Você então acaba formando opiniões baseadas em fatos distorcidos, sem nem se dar conta que está pensando exatamente da forma como eles querem”.
A questão é muito séria e merecia pelo menos alguns minutos de reflexão de cada um de nós. E não estamos falando aqui apenas de técnicas que convencem você a comprar coisas ou baixar determinado aplicativo, mas de algo bem mais amplo como induzir o que você deve pensar e como deve se comportar. As redes sociais estão influenciando demais tudo isso e o resultado já é possível ver ao redor de nós.
É a concretização do que “previu” George Orwell…