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Na China, a Apple vai retirar da App Store aplicativos que utilizem o CallKit

O CallKit é uma funcionalidade em que os desenvolvedores podem integrar no sistema o protocolo de VoIP (chamadas feitas pela internet), facilitando a vida do usuário que deseje usar um serviço de ligações sem precisar passar (e pagar) pela rede celular. Porém, na China, aplicativos de VoIP são proibidos, o que está forçando a Apple a impedir que este tipo de app fique disponível em sua loja local.

Nos últimos dias, desenvolvedores têm recebido o aviso de que precisam retirar qualquer implementação do CallKit de seus apps vendidos na China, sob pena deles terem que ser tirados completamente do ar caso insistam em manter o recurso.


No Brasil o VoIP é bastante usado e provavelmente o mais popular na atualidade sejam as ligações de voz pelo WhatsApp (que roubou o posto do Skype). Você conversa com seus contatos “de graça”, sem pagar pela chamada. O único custo eventual se daria caso você precise pagar pela conexão da internet, mas o valor geralmente é bem menor do que de uma ligação normal pela rede da operadora.

Mas os chineses não podem ter este benefício, pois o governo não permite. Isso porque quando o cidadão não usa a rede de telefone normal, é bem mais difícil de controlá-lo e vigiá-lo. E na China isso é algo inadmissível.

Por mais que você ache o WhatsApp a 8ª maravilha da comunicação, na China ele praticamente não é usado. Lá, o mais popular disparado é o WeChat, que também teve que retirar há alguns meses a funcionalidade de chamadas por causa das leis locais.

A Apple segurou o quanto pôde o CallKit nos aplicativos, mas chegou em um ponto que ela não tem muitas opções: ou desiste de vender aplicativos em um dos maiores países do mundo ou se adequa à lei local e elimina somente a parte “ilegal”.

Muitos criticam duramente a Apple por ser permissiva ao aceitar a prática do governo chinês de invadir a vida de seus cidadãos, enquanto no resto do mundo ela prega a luta a favor da privacidade pessoal. Porém, de fato, não é ela que fornece instrumentos para estas invasões de privacidade, a maçã apenas segue o que a lei local manda retirando aplicativos não permitidos (como faz em todos os países).

Recentemente Tim Cook se manifestou sobre este tipo de proibição, quando a Apple também passou a retirar da App Store chinesa todos os aplicativos de VPN:

“O governo central da China começou a restringir a legislação sobre aplicativos de VPN em 2015 e proibi-los. Porém, até o início de 2017 ainda havia centenas de aplicativos de VPN na App Store chinesa, de desenvolvedores do país e fora dele. Foi então que o governo chinês nos solicitou para que retirássemos de nossa loja local todos os aplicativos que não cumpriam a legislação. É óbvio que preferíamos não ter que retirá-los, mas como fazemos em todos os outros países, seguimos a lei onde fazemos negócios.

Acreditamos firmemente que participar em mercados e trazer benefícios aos clientes é o interesse de seus habitantes e também de outros países. Preferimos manter uma conversa com governos inclusive quando não concordamos com eles, na esperança de que com o tempo estas leis fiquem mais brandas. Porque a inovação requer liberdade, colaboração e comunicação. E sei que este é um assunto importante na China.”

E você? O que faria caso fosse o chefão de uma enorme empresa, frente à decisão de assumir uma causa ideológica que reduziria pela metade o seu faturamento OU respeitar a determinação de governos autoritários e continuar oferecendo seus serviços aos cidadãos daquele país? O que você, enquanto consumidor, acharia se o governo brasileiro proibisse a importação de iPhones por causa de alguma lei nacional?

Podemos citar exemplos práticos, como a Reserva de Mercado da década de 80 (que fazia com que usar um Macintosh no Brasil fosse “ilegal”), mas vamos pegar um caso bem mais recente, que muitos irão se lembrar: em 2008, quando lançou a App Store no Brasil, não havia a categoria Jogos para os brasileiros, pois a Apple entendia que a sua loja não atendia a legislação daqui para a venda de jogos eletrônicos. Você iria preferir ficar sem toda a App Store até a Apple resolver isso (que só aconteceu em 2012) ou o melhor realmente foi liberar a loja sem os jogos, até resolver o impasse?

Fica aí o assunto para reflexão.

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