Imprensa francesa quer processar a Apple por causa do bloqueador de distrações do Safari
A atualização do Safari, navegador da Apple, no iOS 18 está causando polêmica entre a imprensa e os publicitários franceses.
A introdução de uma funcionalidade chamada “Controle das distrações” está sendo vista como uma ameaça ao modelo de negócios de mídias que dependem de publicidade online.
Ao permitir que os usuários possam esconder partes de qualquer site durante a visita, muitos anúncios e elementos de marketing do estilo CTA (call to action) fazem o usuário engajar menos no conteúdo, inibindo assim os retornos financeiros. E os franceses estão odiando isso.
Em uma carta aberta, diversas organizações profissionais ameaçam processar a maçã por causa disso.
O que é o “Controle de Distrações” do Safari?
O “Controle de Distrações” é uma funcionalidade incluída no Safari com a chegada do iOS 18 e do macOS Sequoia.
Ele permite que os usuários ocultem facilmente certos elementos indesejados em páginas da web, como banners publicitários e janelas de consentimento de cookies.
Embora a função não seja tão poderosa quanto bloqueadores de anúncios completos, ela oferece ao usuário a capacidade de selecionar manualmente quais itens deseja ocultar.
Essa novidade foi introduzida discretamente pela Apple durante o ciclo de versões beta do iOS 18 no meio do ano, sem grandes alardes. No entanto, desde então, organizações de mídia e publicidade na França começaram a levantar sérias preocupações sobre as possíveis repercussões dessa ferramenta.
Por que as mídias francesas estão preocupadas?
Os grupos de mídia, especialmente na França, onde essas preocupações foram formalmente expressas, temem que a função afete drasticamente as receitas geradas por anúncios.
Muitos sites dependem fortemente da publicidade para se sustentar, oferecendo conteúdo gratuito aos usuários enquanto monetizam com anúncios exibidos em suas páginas.
Com o “Controle de Distrações”, usuários do iOS podem simplesmente bloquear ou minimizar esses anúncios, potencialmente cortando uma parte significativa das visualizações e, consequentemente, da receita.
As associações afirmam que o impacto pode ir além da publicidade, interferindo na forma como os sites gerenciam a coleta de consentimento para o uso de dados, conforme exigido pelo Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) da União Europeia.
A funcionalidade pode, de acordo com eles, permitir que os usuários ignorem esses avisos de consentimento, violando assim as normas impostas pelo GDPR.
Preocupações com a manipulação de informações
Outra crítica levantada pelos anunciantes e editores está relacionada à possível manipulação da apresentação das informações.
Ao permitir que certos conteúdos sejam ocultados automaticamente, há o receio de que o controle editorial das plataformas seja minado, comprometendo a integridade do conteúdo jornalístico ou educacional.
Dessa forma, eles afirmam que os usuários poderiam ser induzidos a ver apenas informações específicas, enquanto elementos críticos de uma página, como avisos ou disclaimers, poderiam ser removidos ou ignorados.
Possível ação legal contra a Apple
Diante dessas preocupações, os grupos que representam essas indústrias na França estão explorando opções legais para enfrentar o que consideram uma ameaça ao modelo econômico da internet.
Em uma carta aberta ao CEO da Apple, Tim Cook, as associações de mídia e publicidade pediram uma suspensão imediata da funcionalidade e solicitaram discussões sobre o impacto da ferramenta no setor.
Caso a Apple não suspenda ou modifique a funcionalidade, pode haver implicações legais, com ações sendo consideradas para proteger os direitos das plataformas de mídia e garantir que suas fontes de receita não sejam drasticamente reduzidas.
Embora o “Controle das distrações” não tenha a eficiência total de um bloqueador de anúncios tradicional — já que os elementos precisam ser selecionados manualmente e não há sincronização entre dispositivos —, os grupos franceses acreditam que essa ferramenta representa uma “ameaça existencial” ao modelo de publicidade online.
Opinião do BDI
A publicidade é uma das bases da economia da internet, permitindo que serviços e conteúdos sejam oferecidos de graça aos consumidores. Este blog mesmo sobrevive graças aos banners chatos que aparecem nas páginas.
O problema é que esta fórmula usada hoje para monetizar a internet é velha e caduca, e já perdeu há tempos sua eficácia.
Para um site sobreviver na internet, precisa muitas vezes empurrar banners invasivos e que não interessam ao usuário, geralmente interrompendo a experiência de consumir conteúdo.
E isso provavelmente não irá mudar tão cedo sem intervenção, porque as gigantes da publicidade como Google e Meta não estão interessadas em mudar isso, pois estão muito ocupadas focando principalmente em como gerar ainda mais dinheiro.
Até há outras maneiras de tentar fazer um site sobreviver sem propagandas, como financiamentos coletivos (tipo Patreon) ou venda de produtos próprios (lojas virtuais). Ou, porque não, fechando o conteúdo para assinantes.
Mas pelo menos no Brasil, essas soluções não funcionam tanto quanto em outros países, porque o brasileiro naturalmente não é disposto a pagar para consumir conteúdo.
A fórmula de monetização da internet está quebrada, e acredito que em poucos anos isso irá quebrar de vez, criando uma grande crise existencial em toda a rede.
Além de estragar a experiência do usuário, a atual monetização está estragando também o conteúdo da internet.
Hoje, você ganha muito mais copiando conteúdo de outros e repostando como se fosse seu, do que perder tempo criando conteúdo novo.
Além disso, os algoritmos beneficiam assuntos polêmicos e fake news, pois são os conteúdos que engajam mais rápido. Criar fake news gera muito dinheiro tanto para quem cria quanto para as big techs.
Então, resumindo, a Apple não está errada em oferecer ao seu usuário uma forma de configurar como ele quer ler um conteúdo poluído por informações que não agregam nada na vida dele.
Errados estão os sites que se recusam a criar alternativas para a evolução da internet e querem ficar presos a um modelo de negócio criado no início do século…