Depois do anúncio de ontem da renúncia de Steve Jobs ao posto de CEO da Apple, provavelmente os sites de notícias hoje inundarão suas páginas com retrospectivas dele (mostrando como foi bom enquanto ele durou), além de destacar que as ações da Apple estão caindo vertiginosamente.
Bem, apesar de isso ser o que muitos querem ler, nós aqui tentaremos não entrar neste jogo, por considerarmos que o verdadeiro anúncio do afastamento de Jobs não foi ontem e sim no dia 17 de janeiro. Achar que tudo mudou só ontem, é ilusão.
O plano de transição provavelmente sempre foi este e, a curto prazo, nada irá mudar na administração da empresa e no lançamento de novos (e mágicos) produtos.
Porém, a oportunidade é interessante para conhecermos algumas histórias curiosas sobre Steve, como a contada por Vic Gundotra, vice-presidente do Google, que em 2008 trabalhava no setor de aplicativos móveis e, por isso, tinha uma relação estreita com a Apple.
Um dia, ele recebeu um telefonema de Steve Jobs em pleno domingo, enquanto assistia um culto religioso. Era as véspera da keynote da Macworld 2008, em que Jobs apresentaria uma nova função do iOS: os webclips, possibilidade de colocar atalhos de sites na tela do iPhone.
A história é curiosa, confira:
Urgência ícone
Numa manhã de domingo, em 6 de janeiro de 2008, eu estava assistindo um culto religioso quando meu celular vibrou. De maneira mais discreta possível, eu chequei o telefone e li “número desconhecido”. Optei então por ignorar.
Depois do culto, enquanto me dirigia ao meu carro com minha família, verifiquei minhas mensagens no telefone. Havia um recado de Steve Jobs:
Vic, você pode me ligar em casa, tenho algo urgente para discutir.
Antes mesmo de chegar no meu carro, liguei de volta para Steve. Eu era responsável por todos os aplicativos móveis do Google, e nesse papel, tinha relações regulares com ele. Foi uma das vantagens do trabalho. Eu disse:
Hey Steve! É o Vic. Me desculpe eu não atender a sua chamada anterior. Eu estava no meio do meu culto religioso e como o celular não identificou o número, eu não atendi.
Steve riu. Ele disse:
Vic, a menos que o identificador de chamadas diga ‘Deus‘, você nunca deve responder ao telefone durante o culto.
Eu ri nervosamente. Afinal, enquanto era costume ligações durante a semana, chateado com alguma coisa, era incomum ele me ligar no domingo e me pedir para ligar para sua casa. Eu me perguntava: o que era assim tão importante?
Então, Vic, temos uma questão urgente, que eu preciso resolver imediatamente. Eu já designei alguém da minha equipe para ajudá-lo e eu espero que você possa corrigir isso amanhã. Eu tenho olhado para o logotipo do Google no iPhone e eu não estou feliz com o ícone. O segundo O do Google não tem a tonalidade correta do amarelo. Ele está errado e eu vou pedir para Greg corrigi-lo amanhã. Tudo bem para você?
Claro que isso estava bem para mim. Poucos minutos depois, naquele domingo, recebi um e-mail de Steve com o título “Urgência ícone”. O e-mail me colocou em contato com Greg Christie para corrigir o ícone.
Desde que eu tinha 11 anos e me apaixonei por um Apple II, eu tenho dezenas de histórias para contar sobre os produtos Apple. Eles têm sido uma parte da minha vida durante décadas. Mesmo quando eu trabalhei por 15 anos com Bill Gates na Microsoft, eu tinha uma admiração enorme por Steve e pelo que a Apple tinha produzido.
Mas no final, quando eu penso sobre a paixão, liderança e atenção aos detalhes, eu lembro da ligação que recebi de Steve Jobs em uma manhã de domingo, em janeiro. Foi uma lição que eu nunca vou esquecer. CEOs devem se preocupar com detalhes. Mesmo com tons de amarelo. Em um domingo.
A um dos maiores líderes que já conheci, minhas orações e esperanças estão com vocês Steve.
Vic-