Brasileiro não atende celular

Brasileiros estão deixando de atender ligações telefônicas no celular. Você atende?

O medo de golpes, os SPAMs e o avanço dos aplicativos de mensagem estão mudando a forma como os brasileiros se comunicam — e até serviços públicos já sentem os impactos.

Por Lu Mattos

Durante décadas, o telefone foi sinônimo de proximidade. Era a forma mais direta de conversar, resolver problemas ou matar a saudade de alguém. Mas, em 2025, ele passou a simbolizar outra coisa: desconfiança.

Cada vez mais brasileiros estão evitando atender ligações telefônicas no celular, especialmente quando o número não está salvo na agenda.

O motivo? Medo de cair em golpes e, em parte, a substituição natural das chamadas por mensagens e ligações via aplicativos como o WhatsApp.

Golpes, robôs e a perda da confiança

Os golpes telefônicos se tornaram tão comuns que muitos brasileiros desenvolveram o reflexo de não atender números desconhecidos.

Histórias como o “golpe do falso filho”, ou de pessoas que se passam por clínicas, bancos e empresas conhecidas, alimentam um clima de medo constante.

Aquilo que era para eu te comunicar algo, serve para eu te golpear, para eu tirar a tua segurança.

O resultado é um ciclo vicioso: quanto mais golpes, menos confiança e quanto menos confiança, mais difícil fica usar o telefone como ferramenta legítima de comunicação.

WhatsApp: o novo “toque do telefone”

Mas o medo não é a única explicação. A verdade é que o telefone perdeu espaço para os aplicativos de mensagens. Hoje, é muito mais comum alguém enviar uma mensagem antes de ligar, e isso faz todo o sentido.

No WhatsApp, é possível ver quem está ligando, checar a foto de perfil e até decidir se vale a pena atender.

Além disso, as ligações de voz pelo aplicativo funcionam como chamadas normais, mas sem custo de operadora, o que ajuda a consolidar o hábito.

Essa mudança cria uma nova etiqueta social: ninguém liga de surpresa, primeiro se manda uma mensagem.

É um comportamento que mistura cautela, praticidade e economia, e que, aos poucos, está redesenhando o conceito de “falar ao telefone”.

Quando o medo afeta quem precisa

Esse novo cenário já traz efeitos colaterais. Instituições que dependem de contato direto, como a Fundação Pró-Sangue, relatam dificuldade para falar com doadores.

O pessoal liga e ninguém atende… A gente entende o medo, mas quando ligamos é porque realmente precisamos”

Dra. Cyntia Arrais, da Pró-Sangue

O telefone, que já foi um elo social importante, agora enfrenta o desafio de provar que ainda pode ser confiável.

A SaferNet, organização que atua na proteção digital, cobra ações mais firmes das empresas e do poder público.

Para o gerente de projetos Guilherme Alves, é preciso limitar o uso de robocalls (ligações automáticas) e restaurar a confiança dos consumidores.

“A Anatel precisa ter um papel mais ativo para limitar ligações falsas e criar mais confiança nesse setor, que infelizmente perdeu credibilidade”, afirmou.

A resposta da Anatel

A agência informa que suas medidas já bloquearam mais de 220 bilhões de ligações indesejadas nos últimos três anos.

E, para reforçar a segurança, prepara um novo sistema de autenticação obrigatória de chamadas, que deve começar em 2026.

Empresas que fizerem mais de 500 mil ligações por mês terão de se identificar digitalmente e, em até dois anos e meio, todas as chamadas no país deverão ser autenticadas.

A ideia é permitir que o usuário saiba, de fato, quem está ligando.

📱 Você sabia?

O novo sistema de autenticação de chamadas da Anatel vai funcionar de forma parecida com a verificação em duas etapas usada em apps. Cada ligação feita por empresas precisará conter uma assinatura digital que comprova a origem do número. Assim, o celular do usuário poderá exibir no visor uma indicação visual de que a chamada é autêntica — o que ajudará a identificar ligações falsas e reduzir golpes.

A medida começará a ser implementada em 2026 e deve se tornar obrigatória para todas as operadoras até 2027.

O futuro das ligações

A grande questão é: isso tem volta?

Talvez a Anatel esteja pensando em uma solução que não leva mais em consideração a mudança dos tempos.

As novas gerações usarão cada vez menos as ligações normais de voz, pois já crescem com novas tecnologias de comunicação que enterrarão de vez as antigas.

Então, insistir em salvar um hábito antigo (o de atender ligações de voz sem saber quem está do outro lado) pode ser um enxugar de gelo que não trará resultados eficazes.

Há mais de ano eu não atendo mais ligações de telefone inesperadas de quem não conheço. Inclusive já até ando com o iPhone sempre no silencioso.

E você, ainda atende ligações no seu iPhone?

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