Como muitos de vocês sabem, hoje a iTunes Store brasileira (que envolve também as outras lojas virtuais da Apple, como App Store e iBookstore) cobra seus preços em dólar. A idéia da Apple, quando lançou sua loja de músicas em dezembro, era passar todos os preços para moeda local (R$), como acontece na maioria dos países que recebem a loja. Mas ela teve que adiar seus planos por causa da “burocracia brasileira“.
Entenda aqui por que é tão difícil para a Apple disponibilizar em suas lojas os preços em Reais.
❖ A fórmula mágica da iTunes Store
Quando a Apple decidiu entrar no mundo da música, abrindo sua loja digital em 2003, ela se baseou em um importante pilar que foi responsável pelo seu grande sucesso: vender músicas à granel (o modelo antes era o de obrigar o consumidor a comprar o álbum inteiro) por um preço muito pequeno, 99 centavos. E Steve Jobs teve que brigar muito para conseguir convencer as grandes gravadoras de que esta fórmula daria certo.
Psicologicamente falando, ver a música que você quer, disponível por menos de 1 dólar, pronta para baixar e ouvir com qualidade difícil de se encontrar em sites ilegais da rede, era uma fórmula campeã capaz de converter os usuários do Napster e do Kazaa (da época) em consumidores fiéis.
Portanto, manter o preço individual baixo é um dos pilares da iTunes Store. Provavelmente esta barreira psicológica no Brasil seria o clássico preço de R$1,99.
❖ Pagando em dólar
Hoje, os preços da iTunes Store são mostrados em dólar, o que significa para o consumidor duas coisas:
1. Obrigatoriedade de pagar com um cartão de crédito
2. Pagamento extra do IOF sobre compras feitas no exterior (6,38% adicionados na conta)
Ou seja, um aplicativo de US$0,99 custa hoje para o usuário brazuca o valor de U$1,05 (que na cotação atual seria equivalente a R$2,15). É mais do que o valor psicológico de R$1,99, mas ainda assim não seria difícil para a Apple negociar com as gravadoras brasileiras um ajuste nos preços, para que a fórmula de sucesso fosse aplicada também no Brasil.
❖ Preços em reais
Se a Apple passasse a cobrar diretamente em reais, a história seria completamente outra. Há quem ainda se assuste com os preços em moeda estrangeira e uma mudança assim poderia atrair ainda mais consumidores. Há também duas outras grandes vantagens:
1. Seria possível pagar com boleto
2. A Apple poderia vender cartões pré-pagos da loja no comércio
Nos Estados Unidos e na Europa, você encontra cartões do iTunes no caixa do seu supermercado, o que torna o ato de adquirir créditos para a App Store algo tão fácil quanto comprar pão. Com preços em reais, a Apple poderia fazer a mesma coisa no Brasil, popularizando muito a sua loja em nossas terras.
Seria possível, por exemplo, dar de presente cartões pré-pagos, comprados online, para amigos e parentes. Hoje em dia, a Apple não disponibiliza créditos pré-pagos no Brasil porque a transição futura de dólar para real ficaria complicada, caso o usuário ainda tivesse crédito resíduo na sua conta.
A Apple também tem interesse em transformar tudo em Reais porque pretende lançar aqui sua loja de livros, a iBookstore, e sabe que para popularizá-la terá que cobrar os livros em moeda nacional.
❖ Burocracia brasileira
Bom, se a Apple conhece já a fórmula do sucesso, por que então não começa logo a cobrar em reais?
Infelizmente, somos ainda um país burocrático e carregado de impostos. Para a Apple converter seus preços em reais, ela terá que se sujeitar aos vários impostos brasileiros, aumentando ainda mais o preço para o consumidor.
O grande problema é que a legislação brasileira ainda não definiu com exatidão como deve ser taxada no país a venda de aplicativos através de download, pois ninguém ainda conseguiu chegar a um consenso de que tipo de mercadoria é o software baixado pela internet, sem caixa física. E essa definição é fundamental para a implementação de uma taxa fixa.
Enquanto alguns entendem que os aplicativos são mercadoria (bem corpóreo), sujeito ao ICMS, outros defendem que se trata de serviço, de uma obra intelectual (bem incorpóreo), sujeito ao ISS. O ICMS varia de estado para estado, girando em torno de 18%, enquanto o ISS é de no máximo 5%.
E se tratando de comércio eletrônico, teriam ainda outras taxas que poderiam ser cobradas:
• ICMS: +18%
• PIS: +1,65%
• COFINS: +7,6%
• IPI: +5%
A discussão vai longe e ninguém ainda é capaz de dizer como a Apple irá resolver esta questão. Mas o interesse da empresa em se estabelecer seriamente no país é grande e ela parece não estar medindo esforços para conseguir seu objetivo de disponibilizar conteúdo no Brasil em moeda nacional.