Muitos estranham do fato de não existir na App Store uma versão mobile do icônico jogo Mário, ou as clássicas aventuras de Zelda, muito populares na época de ouro dos videogames. Existe uma razão bem precisa para isso: a Nintendo sempre se recusou a disponibilizar seus jogos para plataformas que não fossem fabricadas por ela, e isso inclui o iPhone.
Mas a realidade está fazendo a empresa japonesa se dar conta do erro que é ignorar a evolução natural do mercado.
Este tipo de erro, aliás, já foi cometido por diversas empresas. Uma das histórias que considero mais marcantes foi a da Kodak, que dominava o setor de fotografia no início dos anos 80. Filmes em película, papel fotográfico e até câmeras analógicas eram sinônimo de qualidade naquela época. Um dia, o laboratório da empresa (que estudava vários projetos inovadores) apresentou para a diretoria o protótipo de uma câmera digital, que não precisava usar filme para fazer fotos. A ideia era inovadora naquele tempo, mas foi fortemente recusada pelos diretores. “Nosso maior trunfo hoje é vender filmes fotográficos e vocês estão nos apresentando um produto que não usa filme? Vocês estão malucos“.
Estavam enganados. Eles não lançaram a câmera digital, mas outros lançaram e acabaram com a soberania da Kodak, que hoje tenta se reerguer em um mercado que quase não tem mais espaço.
Isso foi um belo exemplo de falta de visão, pensando somente no presente e não se preparando para as mudanças que o futuro sempre traz. Esta era a grande diferença de Steve Jobs, que não tinha medo de lançar um outro produto que arriscasse canibalizar os seus próprios. O iPhone, por exemplo, nasceu justamente do medo de que os celulares viessem a matar o iPod no futuro. E Jobs, prevendo isso, decidiu criar o produto antes dos outros. O iPad está desestruturando o mercado de PCs, mas a Apple, que vende computadores, não pensou duas vezes em revolucionar ela mesma o mercado, antes que outro fizesse.
Isso é entender a evolução do mercado e se adaptar a ele. Achar que é forte em seu nicho e insistir nele, ignorando as mudanças que acontecem em volta, isso sim é um tiro no pé. A Microsoft com o Windows é um bom exemplo disso.
A Nintendo procurou ignorar a evolução dos smartphones (iniciada com o iPhone) e insistiu na tecla de que “somos fortes nos consoles e é isso que faremos“. Cometeram o grande erro de achar que, se disponibilizassem seus jogos para iOS, isso iria canibalizar a venda de seus produtos e ninguém mais iria querer comprar os consoles. Por isso nunca vimos uma versão oficial de qualquer jogo da Nintendo na App Store.
Resultado: hoje, cada vez menos gente está comprando os consoles da Nintendo. Pelo terceiro ano consecutivo, a empresa apresentou resultados fiscais negativos, e as vendas de natal do novo Wii U foram decepcionantes: eles esperavam vender 9 milhões de unidade, mas não venderam nem um terço disso.
A Nintendo ignorou a revolução dos smartphones e se baseou no seu passado para acreditar que tudo continuaria igual no seu futuro. Agora, está sendo forçada a mudar.
O presidente da companhia, Satoru Iwata, falou esta semana sobre mudanças estratégicas que a empresa poderá tomar daqui para a frente.
Estamos pensando em uma nova reestruturação de nosso negócio. Dada a expansão dos tablets e os smartphones, a Nintendo está estudando modos para que tais dispositivos possam ser utilizados com a finalidade de crescer o nosso negócio de jogos. Mas não é tão simples permitir que Mário passe a um smartphone.”
Talvez seja tardio tentar mudar agora, mas algo precisa ser feito. No mundo de hoje, só vence quem estiver disposto a mudar e se adaptar constantemente ao mercado.