iOS

Apple quer mostrar para a concorrência como deve ser o recurso de editar mensagens

O recurso de editar mensagens é uma solicitação antiga dos usuários.

No Twitter, por exemplo, há anos que se pede isso, mas até hoje continua somente na promessa.

O Telegram há tempos oferece essa possibilidade e o WhatsApp passou a oferecer essa possibilidade em 2017.

Ela é bastante útil quando cometemos erros de digitação ou de gramática e nos damos conta logo após o envio.

Como já comentamos aqui, a Apple quer implementar este benefício também no iOS 16. Mas aí alguém pode pensar: “Não tem segredo, basta habilitar no sistema a possibilidade de mudar a mensagem e pronto“. Certo?

Bem, a maçã parece não querer apenas implementar uma simples função, e está procurando fazer isso com responsabilidade. Para tanto, está dedicando certo tempo de desenvolvimento que outros concorrentes não parecem dedicar.

Limite de tempo para editar e apagar mensagens

No WhatsApp, que é o mensageiro mais popular do Brasil, ainda não é possível editar mensagens, mas o recurso de apagar existe desde 2017 e rapidamente virou meme.

Isso porque o aviso de mensagem apagada fica no lugar da original, criando curiosidade para quem só vê depois.

Os usuários do WhatsApp tem um grande limite de tempo para apagar suas mensagens: 1 hora, 8 minutos e 16 segundos após o envio.

Se acha muito, saiba que isso pode aumentar ainda mais. Na versão beta do mensageiro já está sendo experimentado o limite de 36 horas para que o usuário possa apagar o que escreveu.

No primeiro beta do iOS 16, a Apple implementou o limite de 15 minutos para que o usuário possa apagar uma mensagem enviada.

E mesmo ninguém nunca tendo reclamado no passado do WhatsApp, do Telegram ou qualquer outro aplicativo que tenha este recurso, agora vozes se levantam contra a funcionalidade implementada pela Apple.


O perigo das mensagens apagadas

Segundo alguns grupos contra o assédio sexual e moral, a implementação do recurso de editar e apagar mensagens no celular da Apple aumenta o risco de encorajar assediadores e abusadores sexuais.

Isso porque o recurso pode permitir que os agressores cubram seus rastros enviando ameaças violentas ou imagens explícitas às vítimas e, em seguida, excluindo ou modificando as mensagens.

É bastante difícil vítimas de abuso provarem a agressão, e muitas vezes o histórico de mensagens é a única prova documental.

A advogada Michelle Simpson Tuegel, que representa várias vítimas de abuso e assédio sexual, escreveu uma carta para Tim Cook, solicitando que a empresa reveja esta funcionalidade.

Quando vi essa atualização fiquei impressionada, porque lido com esse tipo de evidência em provavelmente 90% dos meus casos. Tive vários casos de agressão sexual, especialmente estupros, em que o agressor confessa no dia seguinte. Quinze minutos não são dias, mas é tempo suficiente para alguns refletirem sobre o que acabaram de enviar e excluí-lo.

A possibilidade de apagar ou editar facilmente mensagens pode também permitir o chamado gaslighting, onde um agressor envia repetidamente mensagens violentas para a vítima alvo, removendo-as constantemente antes que a pessoa possa denunciá-las às autoridades e negando depois que as tenha enviado.


Mudanças na fase beta

Parece que a carta fez efeito.

A partir do quarto beta do iOS 16, a Apple mudou de forma significativa a gestão de mensagens editadas após o envio.

A versão em desenvolvimento está propondo guardar um histórico de mensagens editadas, que ao contrário do WhatsApp não desaparecem para quem recebeu.

Ao tocar na mensagem editada, é mostrado o histórico das imagens apagadas, com seu conteúdo original.

Além disso, o usuário só poderá apagar uma mensagem enviada em até 2 minutos após o envio. Passando disso, a opção de apagar não aparecerá mais.


Fase de desenvolvimento

Tudo isso ainda está em fase de testes e a Apple está experimentando de que forma pode oferecer este recurso para que ele não coloque em risco seus usuários.

É bem provável que ainda vejamos mudanças até a versão final.

Porém, é interessante ver como a Apple parece ser a única a se preocupar com este tipo de funcionalidade e oferecer propostas de solução.

O Twitter é pressionado há anos para disponibilizar a edição de tuítes, porém sempre temeu que isso poderia permitir que usuários mal intencionados criassem desinformação e depois alterassem o que escreveram para se eximirem de qualquer responsabilidade. Porém, a plataforma nunca sugeriu nenhuma solução nesse sentido.

A Apple está tentando e propondo melhorias. É bem provável que quando ela chegar à uma versão final, outros concorrentes olhem o modo como ela fez e optem por seguir o mesmo caminho, criando assim um novo padrão para o mercado.

Mas fica a velha pergunta: precisa sempre esperar pela Apple para pensar em uma solução decente para isso?

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