Análise

Qual seria o real interesse da Apple pelo streaming esportivo?

No ano passado, a Apple assinou um acordo de uma década para os direitos de transmissão da Major League Soccer (MLS) nos Estados Unidos, seguido por um contrato com a Major League Baseball (MLB) no mesmo ano.

Agora, há rumores de que a empresa está considerando investir na compra de direitos de transmissão do futebol inglês, incluindo partidas da Premier League e campeonatos inferiores da liga profissional inglesa.

Esse seria um passo de gigante rumo à provável mais prestigiosa liga do esporte no mundo – e um movimento tático relevante na estratégia já iniciada de transmitir jogos de futebol.

Mas por que a Apple estaria tão interessada na transmissão de esportes?

Investindo nos jogos ao vivo

Em junho de 2022, a empresa firmou um acordo para garantir por uma década os direitos de transmissão da MLS, a liga de futebol dos Estados Unidos. Por US$250 milhões ao ano, a Apple ganhou preferência em relação aos detentores dos direitos até então, que eram ESPN, Fox e Univision, da Disney.

Um contrato similar já tinha sido fechado com a liga profissional de beisebol, MLB, em março do mesmo ano. Alega-se que a empresa tem interesse também em transmitir jogos de futebol americano, o que demandaria musculatura: a Amazon Prime assegurou a exibição exclusiva do Thursday Night Football em 2022 por US$1,2 bilhão.

O salto no mercado britânico ainda não confirmado como fato, mas também promete ser custoso. A Bloomberg calcula em US$6,3 bilhões a venda de direitos de transmissão doméstica no Reino Unido entre todas as transmissoras. Estima-se que, por 20 jogos, Amazon e BT Sports pagaram cerca de US$111 milhões.

Espectadores: variedade e novas barreiras

Com a grande profusão de transmissões altamente segmentadas de YouTubers e de canais esportivos de portes variados, muitos clubes têm buscado novos arranjos que satisfaçam tanto seus torcedores quanto seus cofres institucionais.

Contratos vultosos com serviços de streaming se encaixam bem nessa realidade.

Os ganhos para o torcedor com a diversificação de transmissão têm a ver com entretenimento. A variedade de oferta de narrações para agradar aos mais diversos perfis de espectador não tem precedentes históricos.

No entanto, para grande parte desses canais, a ênfase das transmissões são o carisma ou a excelência da locução e comentários.

Para além da marca pessoal dos profissionais envolvidos, os direitos de imagem dos jogos em campo ainda são caros e concentrados nas mãos de poucas empresas.

É certo que a concentração já foi maior num passado recente, mas cada vez mais torcedores começaram a entender para que serve uma VPN. O uso desse tipo de serviço, que permite navegar e acessar anonimamente e com maior segurança em serviços digitais sem revelar sua localização, tem crescido para burlar obstáculos.

Para além do valor da assinatura, alguns serviços impõem restrições de geolocalização para assistir partidas de determinados campeonatos. O compartilhamento de contas entre famílias e amigos também é uma prática corriqueira de um público com hábitos de consumo em transição.

Antes, havia a TV aberta, com transmissões limitadas e campeonatos locais exibidos restritamente em cada região. Aí vieram a transmissão a cabo e os serviços por assinatura, permitindo mais oferta a jogos variados, mas com preços pouco acessíveis.

Então, vieram os streamings internacionais e dos clubes de futebol, segmentando e barateando o acesso a jogos, mas de campeonatos pontuais. Resta saber se haverá um encarecimento desses serviços ou, ainda, uma nova concentração a médio prazo.

Apple: ênfase nos serviços

Torcedores brasileiros já sabem que a HBO Max entrou no país como mais uma opção relevante de transmissão das Liga de Campeões da UEFA e do Campeonato Paulista.

Apesar de ser um canal que tem nas séries originais e filmes sua marca, a entrada da empresa nas transmissões causa menos estranhamento do que a da Apple no setor.

Porém, um dos motivadores da empresa da maçã pode ser a importância crescente dos serviços em seu modelo de negócio. Assim como a Microsoft ou a Amazon, a Apple conquistou excelência e participação de mercado demonstrando capacidade no ramo tecnológico, mas tem diversificado seus negócios.

Assim, a Apple segue fabricando e vendendo seus notórios dispositivos mundialmente e ditando tendências nesse segmento. Mas também tem observado um crescimento expressivo da comercialização de serviços como iCloud, Apple Pay, Apple TV e Apple Music em seus resultados financeiros.

Na mais recente demonstração contábil da Apple, a receita com serviços atingiu um recorde histórico, totalizando 20 dos 117 bilhões de dólares contabilizados no último trimestre de 2022. O bom resultado surpreende num momento de adversidade macroeconômica global.

Constata-se que, forjando uma marca de confiança e qualidade nas searas de variados serviços, a empresa vem conquistando clientela fiel internacional.

Nesse contexto, um possível próximo passo para a empresa é incluir anúncios publicitários como fonte de receita de seu negócio, o que seria conveniente para fazer prosperar transmissões esportivas exclusivas.

Destino final: a miragem publicitária

A oportunidade de conquistar fatias publicitárias globais parece ainda mais real num momento em que Google e Meta, grandes intermediadores publicitários por anos, se veem obrigados a revolucionar seus modelos de negócios.

Com receitas fortemente concentradas em anúncios, essas companhias já tentam transpor obstáculos a seu crescimento, como a rápida evolução de assistentes virtuais de inteligência artificial e reclamações sobre privacidade na internet.

Em 2023, estima-se que o Google detenha 27,5% das receitas de publicidade digital global e a Meta, 25,2%.

Com uma clientela notavelmente entusiasmada a cada novidade que a marca coloca no mercado, a Apple pode ver sua importância crescer no lucrativo meio publicitário – empurrada também por uma horda global de fãs de esportes.

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