O Steve Jobs Archive acabou de publicar um vídeo raríssimo de Steve Jobs, gravado em 22 de novembro de 1996, um ano depois do lançamento de Toy Story. O arquivo, criado pela viúva Laurene Powell Jobs ao lado de Tim Cook e Jony Ive, preserva falas, entrevistas e reflexões de Steve usando exatamente aquilo que ele deixou: suas próprias palavras.
O vídeo traz um Jobs ainda no início da jornada com a Pixar, explicando por que acreditou tanto no estúdio e o que enxergava para o futuro da animação.
E a boa notícia é que, graças à dublagem por IA do YouTube, é possível escutar toda a entrevista com áudio em português.
Como Jobs decidiu apostar na Pixar
Jobs conta que conheceu Ed Catmull quando ele ainda comandava a divisão de computação gráfica da Lucasfilm.
Na época, Catmull falava com brilho nos olhos sobre um sonho quase impossível: criar o primeiro longa totalmente animado por computador.
Steve embarcou nessa visão imediatamente.
Ele sempre foi apaixonado por gráficos (desde o Apple II até o Macintosh) mas tudo ainda era 2D.
Quando viu o que a equipe da Lucasfilm fazia em 3D, percebeu que aquilo estava anos à frente de tudo o que existia. Assim, ele comprou a divisão e transformou aquele pequeno grupo de cientistas e artistas na Pixar.
Dez anos depois, Toy Story provou que a aposta havia valido a pena.
O encontro improvável entre Hollywood e o Vale do Silício
No vídeo, Jobs faz questão de dizer que não é cineasta. Quem dirige os filmes era John Lasseter, e segundo ele, Lasseter era simplesmente o melhor diretor de animação da época.
Seu papel era outro: construir um ambiente onde artistas e engenheiros pudessem colaborar como iguais.
Ele explica que isso era raríssimo, porque Hollywood e o Vale do Silício falam idiomas culturais totalmente diferentes. Porém, a Pixar conseguiu unir os dois mundos de uma forma orgânica, respeitosa e extremamente produtiva.
E, segundo Jobs, foi justamente essa mistura (talentos criativos do cinema e mentes brilhantes da tecnologia) que tornou a Pixar única.
Por que a Pixar deixou de fazer comerciais
Jobs lembra que, antes de focar em filmes, a Pixar ganhava dinheiro fazendo comerciais e efeitos especiais. Era divertido, eles ganhavam prêmios e produziam coisas incríveis.
Mas havia um problema: esse era um trabalho que não pertencia a eles.
Eles eram pagos uma única vez. Não importava se o comercial ajudasse o cliente a vender milhões, a Pixar não via nada desse resultado. Além disso, o mercado ficou saturado, com margens cada vez menores.
Na visão de Jobs, aquilo era um ciclo sem futuro. Não valia desperdiçar anos do trabalho de artistas e engenheiros brilhantes em algo que nunca seria realmente deles.
Por isso, a Pixar abandonou essa área e apostou em histórias que pudesse chamar de suas.
A importância da parceria com a Disney
Jobs fala com muito carinho sobre o aprendizado com a Disney.
Ele explica que, no cinema tradicional, você grava muito mais material do que vai para o filme final. Mas em animação isso não existe: animar custa caro demais.
Por isso, na Disney, tudo é “editado antes de existir”. Os filmes são montados em storyboard, animatics e rascunhos visuais até ficarem perfeitos. Só então eles são animados de verdade.
Trabalhar com a Disney deu à Pixar acesso a décadas de experiência e sabedoria, algo que, segundo ele, “não se compra nem com todo o dinheiro do mundo”.
Essa parceria também permitiu à Pixar ser dona de parte dos filmes, um passo essencial para sair do modelo desgastante de trabalhos sob encomenda.
No que a Pixar se diferenciava da Apple
No vídeo, Jobs volta a uma ideia várias vezes: tecnologia envelhece, boas histórias não.
Ele lembra que computadores e softwares têm vida curta. Já um filme como Branca de Neve, lançado em 1937, continua vivo na imaginação das crianças até hoje.
Ele fala sobre o próprio filho assistindo ao clássico, exatamente como gerações anteriores fizeram.
Para Jobs, esse é o verdadeiro poder da Pixar: criar histórias que sobrevivem ao tempo.
Se Toy Story continuar sendo assistido daqui a 60 anos, diz ele, será por causa da amizade entre Woody e Buzz, e não pela tecnologia usada para criá-los.
É por isso que ele repete: “É a história que importa.”
Um estúdio construído ao redor de pessoas extraordinárias
Outro ponto marcante do vídeo é a visão de Jobs sobre gestão. Ele explica que, quando você trabalha com gente muito talentosa (pessoas que podem trocar de emprego em minutos) a hierarquia se inverte.
O papel do CEO deixa de ser mandar. Ele passa a servir.
O trabalho da liderança é tirar obstáculos, criar um ambiente fértil e fazer com que essas pessoas queiram ficar.
Em vez de contratos rígidos, a Pixar escolheu o modelo do Vale do Silício: oferecer participação na empresa e garantir um lugar onde ninguém tenha vontade de ir embora.
Esse vídeo vale a pena ser assistido
Laurene Powell Jobs sempre disse que o objetivo do Steve Jobs Archive é preservar o pensamento de Steve, não apenas sua imagem.
E esse vídeo cumpre exatamente esse papel: mostra por que Steve acreditou na Pixar e por que histórias são mais importantes do que qualquer avanço tecnológico.
Se você gosta de animação, tecnologia ou simplesmente de boas ideias, esse vídeo é quase obrigatório.
