A questionável atitude da TIM na migração para eSIM
A tecnologia eSIM é uma evolução significativa no campo das telecomunicações, eliminando a necessidade de um chip físico para conectar-se à rede móvel.
Embora o eSIM ofereça uma série de vantagens, como a possibilidade de utilizar dois números no mesmo aparelho e a facilidade de ativação remota, a operadora ítalo-brasileira TIM decidiu adotar uma estratégia que, para muitos, soa como um verdadeiro abuso com seus consumidores.
Até quando vamos deixar as operadoras brasileiras fazerem o consumidor de palhaço?
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O que é eSIM e como ele funciona
O eSIM (embedded SIM, ou SIM incorporado na tradução para o português) é uma tecnologia que permite a ativação de um perfil de rede móvel diretamente em um chip embutido no dispositivo, eliminando a necessidade de trocar fisicamente um cartão SIM tradicional.
A grande vantagem do eSIM é sua natureza digital, que permite aos usuários mudarem de operadora ou de plano com uma simples configuração no dispositivo, sem precisar esperar por um chip físico ou visitar uma loja.
Além disso, a ativação do eSIM pode ser feita de forma quase imediata através de canais digitais, o que simplifica e barateia o processo para as operadoras.
Não há custos de produção de chips, logística, ou necessidade de suporte físico em lojas – tudo é feito digitalmente, de forma automática.
Então, visto que para elas custa menos, elas logicamente irão cobrar menos de seus clientes, certo?
A TIM e a cobrança questionável pela migração para eSIM
A TIM anunciou essa semana, com toda pompa como sendo uma grande vantagem, que permitirá a troca do chip físico para o eSIM através de seus canais digitais.
Porém, a grande “vantagem” apresentada tem uma ressalva questionável: apenas os clientes de planos pós-pagos, como os assinantes das modalidades TIM Black e TIM Black Família, têm acesso gratuito ao serviço.
Os clientes de planos pré-pagos ou controle precisam ir até uma loja física, onde provavelmente pagarão uma tarifa para migrar do SIM para o eSIM (já vi casos de cobrança de R$50 por isso).
Na apresentação, o CDO alegou que apenas 15% de todos os celulares do mercado são compatíveis com eSIM, porém admitiu que 40% dos clientes Pós já mudaram para eSIM. Desonestamente, Bruno não revelou a porcentagem de clientes Pré e Controle que também adotaram a tecnologia.
Essa política levanta uma série de questões éticas.
Para uma operadora que poderia, potencialmente, economizar com a adoção do eSIM, ao deixar de produzir e distribuir chips físicos, parece contraintuitivo – e até ganancioso – cobrar dos consumidores por essa migração.
O custo operacional para a TIM é menor com o eSIM, pois reduz a necessidade de suporte logístico e físico.
No entanto, ao cobrar a ativação do eSIM, especialmente dos clientes de menor poder aquisitivo, a operadora transforma essa economia em mais uma oportunidade de lucro às custas do consumidor.
Em outros países, isso é de graça
Em outros países, como os Estados Unidos e várias nações da Europa, a ativação do eSIM geralmente é tratada de forma mais inclusiva e acessível.
Muitas operadoras oferecem a troca do SIM físico para o eSIM de maneira gratuita, independentemente do plano do cliente.
Além disso, o processo é frequentemente realizado de maneira simples e digital, diretamente pelo aplicativo da operadora ou através de um QR code enviado ao usuário.
Esse modelo reflete uma postura mais alinhada com os benefícios econômicos do eSIM para as operadoras, que reduzem custos operacionais, ao mesmo tempo que promovem uma experiência mais conveniente para todos os clientes, sem discriminação por tipo de plano.
No Brasil, no entanto, o cenário é bem diferente, com as operadoras de telecomunicações agindo como verdadeiros cartéis, ditando as regras do mercado e impondo condições desfavoráveis aos consumidores.
Ao invés de oferecerem facilidades para a adoção de novas tecnologias, como o eSIM, elas optam por explorar ao máximo seus clientes, especialmente aqueles que não têm acesso aos planos mais caros.
Essa prática reflete uma falta de concorrência efetiva e uma regulamentação que não protege adequadamente os interesses dos consumidores, permitindo que as operadoras maximizem seus lucros às custas do avanço tecnológico e da acessibilidade.
A TIM não é a única operadora a adotar atitudes questionáveis em relação às suas cobranças, mas é importante destacar que CLARO e VIVO, embora também enfrentem críticas, possuem regras mais maleáveis quanto à transferência digital para eSIM, permitindo inclusive fazer pelo próprio iOS.
A necessidade de uma abordagem mais justa
O eSIM é o futuro, e a sua adoção em massa deve ser incentivada pelas operadoras de maneira justa e acessível para todos os seus clientes.
A TIM, ao cobrar por um serviço que, em última análise, reduz seus próprios custos, perde a oportunidade de se posicionar como uma empresa comprometida com a inovação e a acessibilidade.
Uma abordagem mais justa seria permitir a ativação do eSIM para todos os clientes de maneira gratuita e facilitada, independentemente do plano.
Ao invés de explorar os clientes, a TIM deveria valorizar a oportunidade de avançar com uma base de consumidores mais satisfeita e tecnologicamente capacitada.
Talvez muitos que estejam lendo este artigo já possuam um plano Black da TIM e não se sintam atingidos por essa notícia, justamente porque usuários de iPhone já pagam mais caro por um celular e não têm problemas em contratar planos mais completos.
Mas enquanto deixarmos as operadoras nacionais fazerem o que querem, de forma canalha, todos saem perdendo, não apenas os que não possuem plano.
Pois tenha certeza que com o que você paga hoje de celular aqui no Brasil, pagaria muito menos e com um serviço muito melhor em muitos países da Europa.
E claro que esse discurso valeria para todas as outras operadoras brasileiras, mas nenhuma outra anunciou como “benefício” a cobrança da migração digital para o eSIM. Em italiano tem uma palavra que define isso: patetico.