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Bastidores da equipe da Siri revelam disputas internas, atrasos e promessas exageradas

Apple enfrentou dificuldades técnicas e organizacionais no desenvolvimento da Apple Intelligence

A nova Siri, que faz parte da ambiciosa iniciativa Apple Intelligence, foi uma das grandes promessas da Apple na WWDC 2024 e também uma das maiores decepções.

E reportagens recentes do The Information e do The New York Times revelam um cenário muito mais turbulento por trás da nova fase do assistente virtual.

Segundo essas publicações, a Apple enfrentou diversos obstáculos — tanto técnicos quanto organizacionais — que explicam por que a evolução da Siri levou tanto tempo para acontecer e por que muitas das funções anunciadas ainda não estão prontas para o público.

Faltou chip, sobrou burocracia

Tudo começou no início de 2023, quando o então chefe de inteligência artificial da Apple, John Giannandrea, pediu a Tim Cook um aumento no orçamento para adquirir mais chips de IA, fundamentais para treinar os modelos de linguagem avançados.

Cook aprovou o aumento, mas o CFO Luca Maestri cortou a proposta pela metade, exigindo que a equipe fizesse mais com menos.

Na prática, isso significou trabalhar com cerca de 50 mil GPUs antigas, enquanto concorrentes como Microsoft, Google e Meta compravam centenas de milhares de chips de última geração.

Para compensar a defasagem, a Apple teve que alugar capacidade de processamento de empresas como Google e Amazon — uma ironia, considerando sua postura habitual de independência.

Trocas de direção e brigas internas

Além da limitação técnica, o projeto sofreu com a falta de foco e disputas internas. Inicialmente, a ideia era criar dois modelos: um leve, rodando diretamente no iPhone (“Mini Mouse”), e outro mais robusto, na nuvem (“Mighty Mouse”).

Mas o plano mudou diversas vezes, o que gerou frustração entre engenheiros e até levou à saída de funcionários.

A Siri também virou motivo de disputa entre dois executivos: Robby Walker, responsável pelo assistente, e Sebastien Marineau-Mes, do time de software.

Ambos queriam liderar a evolução da assistente virtual, e acabaram dividindo a responsabilidade — o que dificultou ainda mais a execução de uma visão unificada.

Enquanto isso, a equipe de IA passou a ser apelidada internamente de “AIMLess” (sem rumo), e o Siri era tratado como uma “batata quente” — constantemente transferido de um time para outro sem grandes avanços.

Testes internos e promessas não cumpridas

Os testes internos da Apple mostraram que a nova Siri ainda comete erros em cerca de um terço das respostas.

Isso obrigou a empresa a adiar os recursos mais avançados de personalização, como o entendimento de contexto e respostas mais naturais, prometendo lançá-los “ao longo do próximo ano”.

Mesmo assim, durante a WWDC 2024, a Apple fez uma demonstração impressionante de como o novo Siri poderá buscar informações em e-mails, mensagens e sugerir rotas no Mapas de forma inteligente.

Mas, segundo o The Information, grande parte dessa demonstração era fictícia — e sequer havia versões funcionais desses recursos nos dispositivos de teste.

A única parte real demonstrada até agora foi a animação com uma fita colorida em volta da tela ao acionar o assistente, algo meramente visual.

Nova liderança e mudanças de postura

Com tantos atrasos e problemas, Craig Federighi, vice-presidente de software, decidiu reorganizar o projeto.

Ele removeu Giannandrea da liderança da Siri e transferiu a responsabilidade para Mike Rockwell, conhecido por liderar o desenvolvimento do Vision Pro.

Federighi também teria dado carta branca à equipe para “fazer o que for preciso” para criar os melhores recursos de IA — inclusive adotando modelos de linguagem de outras empresas, algo que antes era proibido internamente.

O que esperar para o segundo semestre

Apesar dos bastidores conturbados, a Apple ainda planeja lançar uma versão inicial da nova Siri no segundo semestre de 2025, com recursos como:

  • Reconhecimento de contexto pessoal (entender o que está na tela e o que o usuário quer fazer);
  • Integração mais inteligente com apps;
  • Ações mais naturais por voz.

Mas funções mais avançadas, como respostas emocionais ou automação profunda, devem ficar para 2026 — se não houver novos atrasos.

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