Curiosidades

“Dia Tim Cook”: equipe do Waze comemora todos os anos o fracasso do Apple Maps

Uma das maiores mancadas da Apple dos últimos anos foi, sem dúvida, o episódio dos Mapas. A lambança foi tanta, que Tim Cook veio a público pedir desculpas e sugerir alguns aplicativos alternativos para que os usuários não se perdessem pelo caminho.

Uma destas sugestões foi o Waze, que a partir daquele momento ganhou projeção mundial e cresceu tanto que foi adquirido pelo Google no ano seguinte. Graças àquela carta de desculpas, os funcionários do Waze comemoram até hoje o dia 28 de setembro como sendo o “Tim Cook day”, pois aquele dia se mostrou um verdadeiro divisor de águas para a empresa.





A curiosidade foi revelada em uma entrevista do CEO do Waze, Noam Bardin, para o Business Insider.

Apple Maps desastroso

A ideia até era interessante: criar um sistema próprio de mapas, para não ficar dependente do Google, em uma época que Steve Jobs tinha declarado uma “guerra termonuclear” (palavras dele) contra o gigante da internet.

Os aplicativos de mapas e do YouTube eram ainda os únicos remanescentes de apps nativos do iOS feitos pelo Google. Isso fazia, por exemplo, com que os mapas para Android fossem muito mais avançados e cheios de recursos que os do iPhone, de propósito. O Google boicotava o iOS, para criar vantagem competitiva em seu próprio sistema.

Claro que a situação ficou insustentável e era preciso uma alternativa urgente. Por isso, a ideia de criar seus próprios mapas, com mais recursos e melhorias, parecia excelente e deixaria a Apple independente do “inimigo”.

Para ajudar no projeto, a Apple contratou a base de dados de duas outras empresas já experientes nisso: TomTom e Waze. Isso tornou possível um rápido mapeamento de boa parte do planeta.

O problema todo foi a execução desta ideia. Montar e detalhar um sistema de mapeamento mundial não é uma coisa nada fácil. O Google se estabeleceu neste mercado depois de anos e anos, lutando com fortes concorrentes como Microsoft e Nokia. Querer implementar, do zero, novos mapas de um ano para outro parecia ser uma coisa fora da razão, até mesmo para a Apple. A chance de não dar certo parecia tão óbvia que nós mesmos comentamos aqui sobre isso uma semana antes da Apple apresentar a novidade.

O erro de Tim Cook e sua equipe foi fazer a transição de forma abrupta e agressiva. De um dia para o outro, os milhões de usuários de iPhone e iPad que tinham atualizado o sistema ficaram sem o Google Maps (que na época não tinha aplicativo separado), ficando como única opção um aplicativo com mapas novos e inacabados em diversas regiões. As autoridades da Austrália e Reino Unido chegaram a sugerir que os cidadãos não atualizassem para o iOS 6, pois os mapas estavam traçando rotas erradas.

Qual teria sido a maneira correta? Não eliminar de cara o aplicativo do Google e implementar aos poucos os novos mapas no iOS, deixando-os conviver por um determinado tempo e fazendo os usuários migrarem conforme fossem vendo que era melhor. E em alguns pontos, os Mapas da Apple eram sim melhores, principalmente no interior do Brasil (leia: Comparações entre mapas da Apple e do Google no interior do Brasil) e no fato de poder visualizar em modo off-line (algo inédito no iOS na época).

Impulso para o Waze

Até então, o Waze era um aplicativo simples, feito em Israel, que tinha a proposta exótica de compartilhar informações entre os usuários para determinar a intensidade do trânsito. Cada vez que alguém deixava aberto o aplicativo em seu celular, a geolocalização e a velocidade do carro eram enviadas para o servidor, que podia assim criar sua base de dados de ruas, rotas e tráfego.

Noam conta que, um dia antes do lançamento do iOS 6, ele deu uma entrevista em que dizia que os mapas da Apple ainda não estavam maduros para serem lançados como única alternativa do sistema.

No dia anterior, eu havia sido entrevistado […] e independente do que eu disse, o título estampava “Parceiro da Apple diz que os Mapas serão um desastre”.

Você pode imaginar a reação na Apple – eles obviamente não gostaram nada – mas enfim, já tinha sido dito. No dia seguinte, os Mapas foram lançados, e de repente eu fui de um extremo ao outro: de um aplicativo que poderia ser banido da App Store para “Eu vi o futuro” e “Eu sabia do que eu estava falando”. 

Tim Cook reagiu [à toda a polêmica] e emitiu uma carta em que ele pedia desculpas pelos Mapas. Ele acrescentou que até que as coisas melhorassem, os usuários podiam recorrer à Microsoft, Google e Waze. Foi o nosso grande momento nos Estados Unidos e, a partir daí, as coisas começaram a crescer e acelerar, levando à aquisição em 2013.

De fato, a partir da carta aberta de Tim Cook, muitos usuários conheceram o Waze, principalmente nos Estados Unidos, o que fez o aplicativo disparar em utilização. E todos os anos, neste mesmo dia (28 de setembro), alguns funcionários do Waze comemoram o que chamam de “Dia Tim Cook“, que mudou a historia da empresa.

O Waze foi depois vendido ao Google por 1 bilhão de dólares, mas Noam Bardin diz que deve seu sucesso muito mais à Apple do que qualquer outra coisa.

Fonte
Business Insider
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